|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
HAITI EM RUÍNAS
Desespero por comida e água cresce, alerta organização
Cruz Vermelha diz que haitianos estão "agressivos" ante falta de mantimentos
Porto Príncipe registra mais episódios de saques e violência, e militares dos EUA são agredidos durante ação de ajuda humanitária
DA REDAÇÃO
O acesso limitado a água, comida e atendimento médico
tem elevado as tensões no Haiti
e deixado as pessoas "mais
agressivas" na luta pela sobrevivência, passada uma semana
desde o terremoto, informa comunicado do Comitê Internacional da Cruz Vermelha
(CICV) -para quem a situação
se tornou "catastrófica".
"Os preços da comida e dos
transportes dispararam [desde
a tragédia de terça-feira passada], enquanto o desespero cresce", informou o CICV. "Dada a
escala das necessidades, a tarefa das agências humanitárias é
assombrosa", aponta o grupo.
Ontem, segundo a CNN e a
agência France Presse, três militares americanos ficaram feridos durante uma ação de reparte de ajuda humanitária em
Porto Príncipe. A France Presse disse que um militar foi morto, informação que, bem como
as circunstâncias do episódio,
não foi confirmada.
Em partes de Porto Príncipe,
centenas de pessoas famintas
revistavam cadáveres e saqueavam lojas em busca de dinheiro
e comida. Pasta de dente também estava entre os itens buscados -as pessoas passavam o
produto sob o nariz para disfarçar o cheiro dos cadáveres em
decomposição pelas ruas.
Em outra parte, jovens armados com garrafas quebradas, facões e lâminas disputavam um
carregamento de rum. Foram
contidos pela polícia, que disparou tiros ao alto.
Como resposta ao caos crescente, em alguns pontos da cidade, postos de distribuição de
água e alimentos já estavam
funcionando. Era prevista para
ontem a abertura de 280 centros de entrega de ajuda humanitária, enquanto o Programa
Alimentar Mundial, da ONU,
planejava construir um campo
de tendas para 100 mil pessoas
nos arredores de Porto Príncipe. A organização disse precisar
de 100 milhões de rações para
alimentar os haitianos no próximo mês.
Antes de voltar a Nova York
de sua visita a Porto Príncipe, o
secretário-geral da ONU, Ban
Ki-moon, ouviu ontem de haitianos nas ruas gritos como
"não precisamos de ajuda militar; precisamos de comida e
abrigo". "Estamos morrendo",
gritou uma haitiana.
Apesar dos relatos de insegurança, o comandante da operação americana no Haiti, general
Ken Keen, disse que a violência
não está em níveis maiores do
que era antes da tragédia. "Há
violência de gangues? Sim. Mas
havia violência também antes
do terremoto." E nos bairros altos de Porto Príncipe, menos
afetados pelo tremor, o comércio começava a se regularizar.
Ainda assim, Keen disse que
aguardava para ontem a chegada de mais 2.000 fuzileiros navais americanos ao país.
Estimativas
As estimativas de mortos seguiam imprecisas: o premiê
haitiano Jean-Max Bellerive
disse acreditar que as vítimas
mortais serão mais que 100 mil;
Keen estimava os mortos em
200 mil -2% da população total haitiana. Calcula-se em 250
mil o número de feridos.
Já o presidente haitiano, René Préval -que até ontem não
tinha feito nenhum pronunciamento à nação desde o terremoto-, foi à vizinha República
Dominicana participar de uma
pré-cúpula de ajuda a seu país.
Préval disse que "a reconstrução do Haiti não se realizará
a partir do exterior" e que é preciso "fortalecer as instituições
democráticas do país".
O presidente dominicano,
Leonel Fernández, diz que seu
vizinho precisará de US$ 10 bilhões até 2015 para se normalizar. Na próxima segunda, uma
cúpula de chanceleres em
Montréal (Canadá) debaterá a
reconstrução do Haiti.
Com agências internacionais
Texto Anterior: Solidariedade: Brasileiros querem adotar crianças haitianas órfãs Próximo Texto: Frases Índice
|