São Paulo, terça-feira, 19 de janeiro de 2010

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HAITI EM RUÍNAS

Desespero por comida e água cresce, alerta organização

Cruz Vermelha diz que haitianos estão "agressivos" ante falta de mantimentos

Porto Príncipe registra mais episódios de saques e violência, e militares dos EUA são agredidos durante ação de ajuda humanitária

DA REDAÇÃO

O acesso limitado a água, comida e atendimento médico tem elevado as tensões no Haiti e deixado as pessoas "mais agressivas" na luta pela sobrevivência, passada uma semana desde o terremoto, informa comunicado do Comitê Internacional da Cruz Vermelha (CICV) -para quem a situação se tornou "catastrófica".
"Os preços da comida e dos transportes dispararam [desde a tragédia de terça-feira passada], enquanto o desespero cresce", informou o CICV. "Dada a escala das necessidades, a tarefa das agências humanitárias é assombrosa", aponta o grupo.
Ontem, segundo a CNN e a agência France Presse, três militares americanos ficaram feridos durante uma ação de reparte de ajuda humanitária em Porto Príncipe. A France Presse disse que um militar foi morto, informação que, bem como as circunstâncias do episódio, não foi confirmada.
Em partes de Porto Príncipe, centenas de pessoas famintas revistavam cadáveres e saqueavam lojas em busca de dinheiro e comida. Pasta de dente também estava entre os itens buscados -as pessoas passavam o produto sob o nariz para disfarçar o cheiro dos cadáveres em decomposição pelas ruas.
Em outra parte, jovens armados com garrafas quebradas, facões e lâminas disputavam um carregamento de rum. Foram contidos pela polícia, que disparou tiros ao alto.
Como resposta ao caos crescente, em alguns pontos da cidade, postos de distribuição de água e alimentos já estavam funcionando. Era prevista para ontem a abertura de 280 centros de entrega de ajuda humanitária, enquanto o Programa Alimentar Mundial, da ONU, planejava construir um campo de tendas para 100 mil pessoas nos arredores de Porto Príncipe. A organização disse precisar de 100 milhões de rações para alimentar os haitianos no próximo mês.
Antes de voltar a Nova York de sua visita a Porto Príncipe, o secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon, ouviu ontem de haitianos nas ruas gritos como "não precisamos de ajuda militar; precisamos de comida e abrigo". "Estamos morrendo", gritou uma haitiana.
Apesar dos relatos de insegurança, o comandante da operação americana no Haiti, general Ken Keen, disse que a violência não está em níveis maiores do que era antes da tragédia. "Há violência de gangues? Sim. Mas havia violência também antes do terremoto." E nos bairros altos de Porto Príncipe, menos afetados pelo tremor, o comércio começava a se regularizar.
Ainda assim, Keen disse que aguardava para ontem a chegada de mais 2.000 fuzileiros navais americanos ao país.

Estimativas
As estimativas de mortos seguiam imprecisas: o premiê haitiano Jean-Max Bellerive disse acreditar que as vítimas mortais serão mais que 100 mil; Keen estimava os mortos em 200 mil -2% da população total haitiana. Calcula-se em 250 mil o número de feridos.
Já o presidente haitiano, René Préval -que até ontem não tinha feito nenhum pronunciamento à nação desde o terremoto-, foi à vizinha República Dominicana participar de uma pré-cúpula de ajuda a seu país.
Préval disse que "a reconstrução do Haiti não se realizará a partir do exterior" e que é preciso "fortalecer as instituições democráticas do país".
O presidente dominicano, Leonel Fernández, diz que seu vizinho precisará de US$ 10 bilhões até 2015 para se normalizar. Na próxima segunda, uma cúpula de chanceleres em Montréal (Canadá) debaterá a reconstrução do Haiti.


Com agências internacionais


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