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Aliados de Musharraf sofrem derrota nas urnas
Analistas vêem abstenção de 60% nas eleições mais importantes do Paquistão em 38 anos
Votação é considerada referendo do regime; viúvo de Benazir, cujo partido saiu na frente, dá sinais de que fará acordo com adversários
IGOR GIELOW
ENVIADO ESPECIAL AO PAQUISTÃO
Em uma eleição menos violenta do que o temido pelo governo e observadores, o regime
de Pervez Musharraf sofreu
uma grande derrota, segundo
os resultados iniciais. Mantida
a tendência, a oposição do Paquistão poderá ter ampla maioria no Parlamento.
Aliados importantes do ditador, que deu um golpe em novembro no qual interveio no
Judiciário e suspendeu a Constituição, perderam suas cadeiras na Assembléia Nacional
-entre eles está o presidente
da PML-Q (Liga Muçulmana
do Paquistão, facção pró-Pervez Musharraf), Chaudhry
Shujaat Hussain.
O comparecimento foi estimado por analistas políticos
como similar ao do pleito de
2002, na casa dos 40%, mas os
dados só deverão ser conhecidos hoje. A Rede para Eleições
Livres e Justas disse que a presença pode ter sido de 35%,
igual à menor já observada, em
1997. Estavam aptos a votar
metade dos 160 milhões de paquistaneses.
Hussain foi derrotado na
busca pela reeleição como um
dos 342 deputados. Desses, 269
foram eleitos ontem e os restantes serão apontados pelos
partidos por um complexo sistema de cotas para mulheres e
não-muçulmanos.
"O governo está em apuros.
Musharraf terá de manobrar
muito se quiser sobreviver politicamente", disse o analista político Hanif Mansur. "Essa eleição é um referendo, e tudo indica que o povo disse não para
Musharraf", afirmou outro
analista, Talaat Massud.
Além da turbulência política,
agravada pela greve de advogados em protesto pela intervenção no Judiciário, há problemas econômicos para dificultar
a vida do governo: inflação em
alta, cortes de energia e falta de
farinha de trigo.
A PLM-N (facção de Nawaz
Sharif da Liga Muçulmana do
Paquistão) e o PPP (Partido do
Povo Paquistanês) saíram na
frente -até o começo da manhã de hoje no Paquistão , tinham respectivamente 53 e 43
cadeiras, contra 18 do PLM-Q.
A coalizão de partidos religiosos também fracassou.
Cálculos não oficiais divulgados pela rede Aaj TV e citados
pelo "New York Times" previam que o PPP ganharia 110
assentos e o PLM-N, cem.
Acordão
O PPP é o partido de Benazir
Bhutto, a ex-premiê assassinada em dezembro que virou cabo
eleitoral em toda a propaganda
da agremiação. O líder do partido, seu viúvo Asif Ali Zardari,
disse ontem estar certo da vitória e acenou com um acordo
com os derrotados.
No outro pólo da oposição, o
ex-premiê Nawaz Sharif acusou novamente o governo de
promover fraudes. Além da Assembléia Nacional, foram escolhidos 571 dos 728 nomes para
as Assembléias Provinciais (os
restantes virão de cotas).
Já Musharraf, ao votar, disse
que estaria pronto para trabalhar com qualquer um dos vencedores "de forma harmônica".
Se a oposição ganhar mais
que dois terços do Parlamento,
Musharraf poderá enfrentar
um processo de impeachment
-o que é de todo modo duvidoso, já que o Exército não abandonou totalmente seu ex-comandante.
Há outros cenários. O PPP
pode se virar contra o PLM-N e
buscar se aliar aos governistas.
Pelo menos nove pessoas
morreram em incidentes ontem em todo o país. O PPP fala
em 15 vítimas. "De forma geral,
a eleição foi tranqüila, só houve
casos isolados", disse o porta-voz do Ministério do Interior,
brigadeiro Javed Cheema.
Logo depois que a eleição foi
encerrada, às 17h (9h em Brasília), o chefe da Comissão Eleitoral do Paquistão, Qazi Faruq,
afirmou que não havia queixas
formais de fraude.
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