São Paulo, terça-feira, 19 de fevereiro de 2008

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Aliados de Musharraf sofrem derrota nas urnas

Analistas vêem abstenção de 60% nas eleições mais importantes do Paquistão em 38 anos

Votação é considerada referendo do regime; viúvo de Benazir, cujo partido saiu na frente, dá sinais de que fará acordo com adversários

IGOR GIELOW
ENVIADO ESPECIAL AO PAQUISTÃO

Em uma eleição menos violenta do que o temido pelo governo e observadores, o regime de Pervez Musharraf sofreu uma grande derrota, segundo os resultados iniciais. Mantida a tendência, a oposição do Paquistão poderá ter ampla maioria no Parlamento.
Aliados importantes do ditador, que deu um golpe em novembro no qual interveio no Judiciário e suspendeu a Constituição, perderam suas cadeiras na Assembléia Nacional -entre eles está o presidente da PML-Q (Liga Muçulmana do Paquistão, facção pró-Pervez Musharraf), Chaudhry Shujaat Hussain.
O comparecimento foi estimado por analistas políticos como similar ao do pleito de 2002, na casa dos 40%, mas os dados só deverão ser conhecidos hoje. A Rede para Eleições Livres e Justas disse que a presença pode ter sido de 35%, igual à menor já observada, em 1997. Estavam aptos a votar metade dos 160 milhões de paquistaneses.
Hussain foi derrotado na busca pela reeleição como um dos 342 deputados. Desses, 269 foram eleitos ontem e os restantes serão apontados pelos partidos por um complexo sistema de cotas para mulheres e não-muçulmanos.
"O governo está em apuros. Musharraf terá de manobrar muito se quiser sobreviver politicamente", disse o analista político Hanif Mansur. "Essa eleição é um referendo, e tudo indica que o povo disse não para Musharraf", afirmou outro analista, Talaat Massud.
Além da turbulência política, agravada pela greve de advogados em protesto pela intervenção no Judiciário, há problemas econômicos para dificultar a vida do governo: inflação em alta, cortes de energia e falta de farinha de trigo.
A PLM-N (facção de Nawaz Sharif da Liga Muçulmana do Paquistão) e o PPP (Partido do Povo Paquistanês) saíram na frente -até o começo da manhã de hoje no Paquistão , tinham respectivamente 53 e 43 cadeiras, contra 18 do PLM-Q. A coalizão de partidos religiosos também fracassou.
Cálculos não oficiais divulgados pela rede Aaj TV e citados pelo "New York Times" previam que o PPP ganharia 110 assentos e o PLM-N, cem.

Acordão
O PPP é o partido de Benazir Bhutto, a ex-premiê assassinada em dezembro que virou cabo eleitoral em toda a propaganda da agremiação. O líder do partido, seu viúvo Asif Ali Zardari, disse ontem estar certo da vitória e acenou com um acordo com os derrotados.
No outro pólo da oposição, o ex-premiê Nawaz Sharif acusou novamente o governo de promover fraudes. Além da Assembléia Nacional, foram escolhidos 571 dos 728 nomes para as Assembléias Provinciais (os restantes virão de cotas).
Já Musharraf, ao votar, disse que estaria pronto para trabalhar com qualquer um dos vencedores "de forma harmônica".
Se a oposição ganhar mais que dois terços do Parlamento, Musharraf poderá enfrentar um processo de impeachment -o que é de todo modo duvidoso, já que o Exército não abandonou totalmente seu ex-comandante.
Há outros cenários. O PPP pode se virar contra o PLM-N e buscar se aliar aos governistas.
Pelo menos nove pessoas morreram em incidentes ontem em todo o país. O PPP fala em 15 vítimas. "De forma geral, a eleição foi tranqüila, só houve casos isolados", disse o porta-voz do Ministério do Interior, brigadeiro Javed Cheema.
Logo depois que a eleição foi encerrada, às 17h (9h em Brasília), o chefe da Comissão Eleitoral do Paquistão, Qazi Faruq, afirmou que não havia queixas formais de fraude.


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