São Paulo, sexta-feira, 19 de fevereiro de 2010

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Agência da ONU suspeita que Irã desenvolva arma nuclear

Documento indica pela 1ª vez que Teerã busca ativamente capacidade militar atômica

Governo iraniano, que nega enriquecer urânio com finalidade bélica, já atingiu condições para produzir arsenal, segundo relatório


MARCELO NINIO
DE JERUSALÉM

Embora afirme que seu programa nuclear tem fins pacíficos, o Irã está desenvolvendo armas que parecem destinadas a portar ogivas atômicas. A conclusão é de um relatório secreto da AIEA (agência nuclear da ONU), que cobra explicações de Teerã e dá um inédito aval independente às suspeitas sobre as intenções iranianas.
Num tom mais duro que o usado pelo antecessor no cargo, o egípcio Mohamed ElBaradei, o relatório aprovado pelo novo diretor-geral da AIEA, o japonês Yukiya Amano, indica pela primeira vez que o Irã está ativamente em busca de capacidade militar nuclear.
A conclusão principal do relatório é que o Irã já chegou ao nível de desenvolvimento em explosivos necessário para a produção de uma arma nuclear. O documento também confirma que o país elevou o enriquecimento de urânio a 20% de pureza, conforme anúncio recente de Teerã.
O governo iraniano afirma que precisa do urânio a 20% para fins médicos, ainda longe dos 90% de enriquecimento necessários para a produção de armas nucleares. Mas o passo foi encarado com suspeita pelas potências negociadoras, com exceção da China.
Os indícios de atividade detectados pela AIEA aumentam a desconfiança. "Isso causa preocupações sobre a possível existência no Irã de atividades clandestinas passadas ou presentes relacionadas ao desenvolvimento de uma carga nuclear para um míssil", diz o relatório da AIEA, vazado ontem para agências de notícias internacionais.
A AIEA critica a falta de acesso de seus inspetores às instalações iranianas e cobra explicações sobre a compra de tecnologia militar sensível e os testes de detonadores de alta precisão. Embora a maior parte dos testes tenha sido feita há uma década, o relatório diz que alguns deles "parecem ter continuado além de 2004".
A data é importante porque contraria uma tese defendida desde o governo Bush pela inteligência americana de que o Irã suspendeu suas pesquisas militares na área nuclear em 2003. Sob o governo de Barack Obama, os EUA passaram a ter uma posição mais dura com o Irã nos últimos meses, depois de inicialmente adotar uma política de "engajamento".
O governo americano, que tem liderado uma campanha pela imposição de uma nova rodada de sanções contra o Irã, reagiu com "preocupação" ao relatório. Para os EUA, o relatório confirma que Teerã "falha em cumprir suas obrigações" com as resoluções da ONU.
O Irã insiste em que suas ambições nucleares se restringem à produção de energia, mas a tensão com as potências negociadoras vem crescendo desde o fim do ano passado, quando fracassou uma proposta que previa o enriquecimento do urânio em outros países.
Um dos pontos mais reveladores do relatório da AIEA é a informação de que o Irã transferiu praticamente todo o seu estoque de urânio enriquecido de baixo nível de enriquecimento para uma centrífuga-piloto que poderia servir para o aumento de nível apropriado para fins militares.


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