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Agência da ONU suspeita que Irã desenvolva arma nuclear
Documento indica pela 1ª vez que Teerã busca ativamente capacidade militar atômica
Governo iraniano, que nega enriquecer urânio com finalidade bélica, já atingiu condições para produzir arsenal, segundo relatório
MARCELO NINIO
DE JERUSALÉM
Embora afirme que seu programa nuclear tem fins pacíficos, o Irã está desenvolvendo
armas que parecem destinadas
a portar ogivas atômicas. A conclusão é de um relatório secreto
da AIEA (agência nuclear da
ONU), que cobra explicações
de Teerã e dá um inédito aval
independente às suspeitas sobre as intenções iranianas.
Num tom mais duro que o
usado pelo antecessor no cargo,
o egípcio Mohamed ElBaradei,
o relatório aprovado pelo novo
diretor-geral da AIEA, o japonês Yukiya Amano, indica pela
primeira vez que o Irã está ativamente em busca de capacidade militar nuclear.
A conclusão principal do relatório é que o Irã já chegou ao
nível de desenvolvimento em
explosivos necessário para a
produção de uma arma nuclear.
O documento também confirma que o país elevou o enriquecimento de urânio a 20% de pureza, conforme anúncio recente de Teerã.
O governo iraniano afirma
que precisa do urânio a 20% para fins médicos, ainda longe dos
90% de enriquecimento necessários para a produção de armas nucleares. Mas o passo foi
encarado com suspeita pelas
potências negociadoras, com
exceção da China.
Os indícios de atividade detectados pela AIEA aumentam
a desconfiança. "Isso causa
preocupações sobre a possível
existência no Irã de atividades
clandestinas passadas ou presentes relacionadas ao desenvolvimento de uma carga nuclear para um míssil", diz o relatório da AIEA, vazado ontem
para agências de notícias internacionais.
A AIEA critica a falta de acesso de seus inspetores às instalações iranianas e cobra explicações sobre a compra de tecnologia militar sensível e os testes
de detonadores de alta precisão. Embora a maior parte dos
testes tenha sido feita há uma
década, o relatório diz que alguns deles "parecem ter continuado além de 2004".
A data é importante porque
contraria uma tese defendida
desde o governo Bush pela inteligência americana de que o Irã
suspendeu suas pesquisas militares na área nuclear em 2003.
Sob o governo de Barack Obama, os EUA passaram a ter uma
posição mais dura com o Irã
nos últimos meses, depois de
inicialmente adotar uma política de "engajamento".
O governo americano, que
tem liderado uma campanha
pela imposição de uma nova rodada de sanções contra o Irã,
reagiu com "preocupação" ao
relatório. Para os EUA, o relatório confirma que Teerã "falha
em cumprir suas obrigações"
com as resoluções da ONU.
O Irã insiste em que suas ambições nucleares se restringem
à produção de energia, mas a
tensão com as potências negociadoras vem crescendo desde
o fim do ano passado, quando
fracassou uma proposta que
previa o enriquecimento do
urânio em outros países.
Um dos pontos mais reveladores do relatório da AIEA é a
informação de que o Irã transferiu praticamente todo o seu
estoque de urânio enriquecido
de baixo nível de enriquecimento para uma centrífuga-piloto que poderia servir para o
aumento de nível apropriado
para fins militares.
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