São Paulo, sábado, 19 de fevereiro de 2011

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ONDA DE REVOLTAS

Conflito já se reflete no preço do petróleo

Especialistas, porém, não veem risco de disparada enquanto agitação política não chegar aos principais produtores

A Líbia está entre os 20 maiores do ranking, e o Bahrein fica próximo da Arábia, responsável por 15% da produção global

ROGÉRIO ORTEGA
DE SÃO PAULO

Os conflitos no mundo árabe, que depois da queda dos regimes ditatoriais na Tunísia e no Egito chegaram a países onde a produção de petróleo é grande, já se refletem no custo do óleo no mercado. Especialistas, porém, dizem não ver risco imediato de que os preços disparem.
Cenário de protestos nos últimos dias, a Líbia está entre os 20 maiores produtores de petróleo do mundo e é membro da Opep (organização dos países exportadores) desde 1962, sete anos antes da ascensão do ditador Muammar Gaddafi ao poder.
Já o Bahrein, embora produza relativamente pouco -ocupa apenas o 63º lugar no ranking-, está localizado no golfo Pérsico, próximo da Arábia Saudita, que é o segundo maior produtor e responde por até 15% de todo o petróleo do mundo.
Segundo Walter de Vitto, analista de energia da consultoria Tendências, os atuais preços do petróleo, próximos à casa dos US$ 100 por barril, já embutem o risco de que as revoltas se espalhem pela região. "Esse preço não se explica só por questões de oferta e demanda."
Para ele, porém, por enquanto não há notícia de que a agitação política tenha afetado produção ou exportação dos países de maior peso no setor, incluindo Líbia e Argélia -outro membro do clube dos "20 mais" que enfrentou protestos recentes.
"Se chegar à Arábia Saudita, aí, sim, será um problema -além de ser um grande produtor, o país tem capacidade ociosa e pode atender a uma demanda maior só "apertando o botão". Até agora, é só a percepção de risco", avalia.

PAPEL DE SUEZ
Newton Monteiro, ex-diretor da Agência Nacional do Petróleo e consultor de empresas energéticas, diz que, por ora, não está preocupado com os reflexos das rebeliões no preço da commodity. "Os lugares onde elas estão acontecendo não estão no centro da produção mundial."
"Enquanto os conflitos não chegarem a países como Arábia Saudita, Kuait e Qatar -que é importante por ter uma produção de gás imensa-, não vejo razão para grande impacto nos preços. Só por motivos especulativos, não técnicos. Investidor tem medo de tudo", afirma.
Do ponto de vista do mercado, Monteiro considerava mais perigosa a revolta no Egito -que durou 18 dias e terminou por derrubar o ditador Hosni Mubarak- por causa do canal de Suez, por onde são escoados 6% da produção global de petróleo.
"O pré-sal brasileiro ainda está longe de ter produção suficiente para compensar um eventual desabastecimento do óleo do Oriente Médio, que passa por Suez."
De Vitto discorda quanto aos riscos de um eventual bloqueio do canal, que acabou não se concretizando durante a rebelião egípcia. "Seria só dar a volta na África. Os preços subiriam, é claro, mas os países não ficariam sem petróleo", diz o consultor.
Ontem, os contratos futuros de petróleo do tipo Brent chegaram a ser negociados a mais de US$ 103 o barril depois que o Egito autorizou a passagem de dois navios da Marinha iraniana pelo canal de Suez. Depois, a cotação recuou para US$ 102,97.
A atitude do Irã foi classificada de "provocação" por Israel.

Com as agências de notícias


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