São Paulo, sábado, 19 de fevereiro de 2011

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Barco com imigrantes amedronta ilha

Chegada de mais uma embarcação com tunisianos gera preocupações em moradores de Lampedusa, na Sicília

Pausa de quatro dias na imigração havia dado falsas esperanças à ilha, que acreditava em volta da fiscalização na costa

VAGUINALDO MARINHEIRO
ENVIADO ESPECIAL A
LAMPEDUSA (ITÁLIA)

A chegada de mais um barco com tunisianos que fugiram de seu país com destino à Europa assustou ontem autoridades e moradores de Lampedusa, ilha ao sul da Itália que fica mais perto da África do que da Sicília.
Foi o primeiro barco com imigrantes após quatro dias sem que nenhum aportasse na ilha, que recebeu mais de 5.000 tunisianos na semana passada, depois da revolução que derrubou o ditador Zine el Abidine Ben Ali.
Desta vez chegaram 26. Todos homens.
A população se assustou porque isso indica que a fuga dos migrantes deve ter parado naqueles quatro dias apenas pelas más condições do tempo, não por força de policiamento na costa tunisiana, como acreditavam alguns.
A cidade teme ainda que os movimentos pró-liberdade e pró-democracia na Líbia suspendam também o policiamento na costa do país.
Lampedusa era famosa por ser a porta de entrada de norte-africanos que fugiam para a Europa. Em 2008, no pico da imigração, 31 mil africanos aportaram na ilha.
A situação só melhorou após um acordo entre os governos italiano e líbio para que fosse montado um forte esquema de controle na costa do país africano.
Com isso, Lampedusa pôde se concentrar, por um tempo, em sua atividade pesqueira e em turismo.

CLIMA DE INSEGURANÇA
Cerca de 1.800 tunisianos ainda continuam em Lampedusa, que tem uma população total de 6.000 pessoas.
Os demais foram transferidos para centros de imigração em outras cidades. Mas essas transferências estão agora em ritmo lento porque faltam vagas pelo país.
O prefeito de Lampedusa, Dino de Rubies, afirma que é preciso dar um jeito de tirar todos os imigrantes da cidade. "Já estamos em situação de emergência."
Moradores da cidade começam a perder a paciência após dez dias de "invasão".
"Eles não têm o que fazer e ficam pelas ruas. Abordam as pessoas, pedem dinheiro. Dá uma sensação de insegurança. Os moradores estão trancados em casa. Ouvi dizer que esfaquearam um outro dia", afirma Giuseppe, dono de uma mercearia no centro que preferiu dar apenas o primeiro nome.
O prefeito diz ter tido garantias do governo federal de que todos os tunisianos deixarão a cidade na próxima semana. Para isso, serão usados apartamentos de uma antiga base da Otan (Organização do Tratado do Atlântico Norte) na Sicília.
A questão mexeu até com a igreja. Para o padre de Lampedusa, dom Stefano Nastasi, a Itália e toda a Europa precisam se conscientizar de que esse é um problema de todos. "Não podemos aceitar que tudo fique nas costas de nossa ilha infeliz", afirmou.


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