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Dalai-lama ameaça deixar política
Antes, premiê chinês acusara líder budista de arquitetar manifestações no Tibete para boicotar Olimpíada
Porta-voz de dalai-lama diz que protestos começaram aos poucos e se espalharam de maneira espontânea, por "boca-a-boca e tecnologia"
RAUL JUSTE LORES
DE PEQUIM
O dalai-lama, líder espiritual
do budismo tibetano e chefe de
governo do Tibete no exílio,
afirmou ontem na Índia que renunciaria a seu cargo político
se a tensão entre os tibetanos
"sair de controle".
O anúncio foi feito pouco depois das acusações que o primeiro-ministro chinês, Wen
Jiabao, fez contra ele em entrevista coletiva durante a reunião
anual do Congresso Nacional
do Povo, em Pequim. Wen acusou-o de orquestrar as manifestações em Lhasa, capital do Tibete, para "sabotar a Olimpíada
de Pequim".
Wen também negou que tenha havido um massacre ou repressão violenta. "As forças de
segurança agiram com extrema
contenção."
"Há muitas evidências de que
o incidente foi premeditado,
organizado e incitado pela camarilha do dalai-lama", acusou.
O premiê disse que a situação
em Lhasa está voltando à normalidade e que talvez permita a
visita de jornalistas estrangeiros à região.
O Tibete foi virtualmente
isolado do resto da China, com
acesso proibido para jornalistas e turistas estrangeiros, desde sexta-feira, quando explodiram protestos de monges e jovens tibetanos contra a repressão e a falta de autonomia da
Província.
Outras três Províncias com
pequenas populações tibetanas
foram igualmente isoladas depois da realização de protestos
durante o fim de semana.
Regra do terror
Ao ameaçar com sua renúncia, o dalai-lama também admitiu que sua proposta de "meio
caminho" -renunciar à independência do Tibete em troca
de mais autonomia-, não teve
nenhum resultado concreto.
Sem citar o presidente chinês, nem o premiê que o criticou, o dalai-lama disse que a
China tinha alcançado três das
quatro variáveis para se tornar
uma superpotência. "A maior
população do mundo, uma fortaleza militar e uma economia
que não pára de crescer. Mas
lhe falta a autoridade moral."
Acusou a China de aplicar a
"regra do terror" para governar
o Tibete, ocupado desde 1951.
Em entrevista coletiva em Dharamsala, na Índia, o líder religioso pediu que sejam feitas investigações para saber o que
realmente aconteceu.
"Acho que se deve investigar
a fundo o que aconteceu. Se
quiserem começar por aqui,
são mais que bem-vindos", retrucou o dalai-lama. "Chequem
nossos escritórios, eles podem
examinar meu pulso, minha
urina, tudo", ironizou.
Para o porta-voz do dalai-lama, Tenzin Taklha, a tensão se
iniciou com um ou dois incidentes. "Por causa da tecnologia, do boca-a-boca, o protesto
se espalhou, foi espontâneo."
O porta-voz do Ministério
das Relações Exteriores, Qin
Gang, rejeitou a convocação do
dalai-lama para investigar a repressão. "Quem deveria ser julgado e investigado é o próprio
dalai-lama, pelo menos sob julgamento moral", afirmou.
Cidade sitiada
O centro de Lhasa continua
sob controle policial e do Exército. Turistas estrangeiros que
tiveram que abandonar a cidade no fim de semana revelaram
à agência Reuters que não se
viam tibetanos nas ruas, todos
escondidos em casa com medo
da repressão.
Fontes do jornal britânico
"The Times" garantem que viram dezenas de tibetanos sendo levados presos por soldados
chineses, antes do prazo estipulado pelo governo para que
eles se rendessem, na meia-noite de segunda para terça.
"Quando o confronto começou, você não via um único chinês na rua, disse um turista canadense. "Agora não se via um
tibetano nas ruas, os jovens estão escondidos."
Vários governos europeus
pediram contenção à China.
Por coincidência, ontem foi levado a julgamento um dos mais
conhecidos ativistas pelos direitos humanos na China, Hu
Jia, 34, blogueiro que pede
mais liberdade de expressão no
país, que está preso desde dezembro, acusado de subversão.
Hu diz que o governo chinês
prometeu maior abertura para
vencer a competição para abrigar a Olimpíada, mas que não
houve mudanças. Sua sentença
deve sair na semana que vem.
Segundo estudo da ONG sino-americana Dui Hua, só em
2007 foram presos 742 ativistas por subversão.
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