São Paulo, quinta-feira, 19 de março de 2009

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Após Chávez tomar portos, oposição promove protestos

Divididos, governadores atraem pouco apoio nas ruas

FABIANO MAISONNAVE
DE CARACAS

Divididos, os governadores da oposição venezuelana realizaram ontem as primeiras manifestações de rua contra a transferência ao governo central de bens e serviços públicos promovida pelo presidente Hugo Chávez, que no domingo ordenou intervenção militar em três grandes portos do país.
No final da tarde, uma pequena multidão de algumas centenas de pessoas se concentrou na praça Brión, na afluente zona leste de Caracas, em protesto convocado na véspera por 4 dos 5 governadores opositores.
"Chávez está dando um golpe na Constituição. Não estou aqui defendendo uma parte do poder. Estamos defendendo uma vida melhor ao povo venezuelano, que defenderá seus governos regionais", discursou o governador distrital de Caracas, Antonio Ledezma, que nos últimos meses teve hospitais, escolas e outras instituições passadas ao governo federal.
Amanhã, está marcado um protesto em Zulia (oeste), principal reduto opositor e polo petroleiro. Em desafio à decisão de Chávez, a Assembleia Legislativa estadual, controlada pela oposição, fez ontem sua sessão dentro do porto de Maracaibo, o único dos três controlados pela oposição que ainda não está sob intervenção militar.
O único governador opositor que não participa das ações coordenadas é o de Carabobo (centro), Henrique Salas Feo. Ele deve perder a administração de Puerto Cabello, que concentra 80% do transporte marítimo não-petroleiro da Venezuela. Desde o domingo à noite, as instalações estão sob vigilância militar, embora a administração continue sob responsabilidade do governo estadual.
Filiado a um partido regional e membro de uma família tradicional de Carabobo, onde seu pai também foi governador, Salas Feo não tem aparecido ao lado dos colegas opositores alegando que uma "frente" da oposição falhara em 2004, quando Chávez venceu o referendo revogatório de seu mandato.
Anteontem, Salas Feo foi o grande ausente de entrevista coletiva de governadores da oposição, em Caracas. Ali, prometeram manifestações e "todas as ações legais" contra a reforma da Lei de Descentralização, aprovada pela Assembleia na semana passada e promulgada por Chávez anteontem.
Na segunda, Salas Feo entrou sozinho com um recurso no Tribunal Supremo de Justiça. As chances de uma decisão favorável à oposição, no entanto, são quase nulas, pois a maioria dos juízes vota em favor de Chávez, consequência de uma ampla reforma do Judiciário promovida por ele em 2004.
Anteontem, o presidente voltou a afirmar que intervirá nos portos e aeroportos administrados por governos estaduais da oposição por serem de "[interesse] estratégico nacional".


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