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Brasil estende seu giro diplomático à Síria
Em decisão de última hora, Amorim viaja a Damasco para convencer aliado do Irã a fazer "pressão positiva" sobre o país
Visita encerra semana em
que Brasil tentou alavancar
sua participação no diálogo
em busca de solução para
conflitos do Oriente Médio
Sana/Efe
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O sírio Bashar Assad (à esq.) recebe Amorim
MARCELO NINIO
ENVIADO ESPECIAL A DAMASCO
CLÓVIS ROSSI
ENVIADO ESPECIAL A AMÃ
Consciente de que tem pouca
chance de influenciar sozinho o
Irã a tomar medidas para diminuir a desconfiança em torno
de seu programa nuclear, o
Brasil buscou ontem ajuda da
Síria, principal aliada de Teerã
no Oriente Médio.
Numa decisão de última hora, o chanceler Celso Amorim
fez visita-relâmpago a Damasco, encurtando sua passagem
pela Jordânia, escala final da
turnê que levou o presidente
Luiz Inácio Lula da Silva ainda
a Israel e ao território palestino
da Cisjordânia.
"A Síria é peça importante
tanto no conflito [do Oriente
Médio] como na sua solução",
disse Lula ao explicar a viagem
de seu chanceler.
"Se os países ricos, se os EUA
e a Europa não conversam com
a Síria, nós precisamos aproximar os interlocutores que podem achar a solução e que não
acham porque estão distantes
uns dos outros", completou.
No encontro de Amorim com
o ditador sírio, Bashar Assad, a
conversa se concentrou em
possíveis formas de destravar
os dois principais nós políticos
da região: o processo de paz
com Israel e o impasse nuclear
com o Irã.
"Achei interessante expor
nosso esforço em relação ao Irã
porque a Síria tem uma relação
próxima com o país", disse
Amorim à Folha após a conversa em Damasco. "Qualquer
negociação num tema sensível
como este exige flexibilidade
de todos os lados. Quem sabe a
Síria pode ajudar?"
Embora defenda o direito do
Irã de ter um programa nuclear, o Brasil começa a demonstrar preocupação em garantir que ele se limite a fins
pacíficos. Mas em vez de sanções mais duras contra Teerã,
como querem os EUA, o Itamaraty aposta numa "pressão positiva" de aliados como a Síria.
Ontem, o assessor diplomático de Lula, Marco Aurélio Garcia, disse na Jordânia que o governo brasileiro vai pedir "contrapartidas" do Irã durante a
visita que o presidente fará a
Teerã em maio.
O próprio Lula, em entrevista a jornalistas brasileiros, admitiu que há controvérsias sobre sua viagem ao Irã, para depois acrescentar que é preciso
"conversar exatamente com os
que não querem a paz".
Não é, necessariamente, uma
alusão ao Irã, até porque o presidente diz que ainda não descobriu quem não quer a paz.
Mas é certamente uma resposta indireta à cobrança recebida
em Israel sobre a visita ao Irã,
tida como legitimação indireta
do regime iraniano. Na segunda, governo e oposição israelenses se uniram num apelo
para que o Brasil se afaste do
Irã, durante sessão do Parlamento na qual Lula discursou.
Síria e Israel
Na Síria, Amorim reiterou o
convite para que Assad venha
ao Brasil nos próximos meses,
mas não quis comentar a hipótese de a visita coincidir com a
do premiê de Israel, Binyamin
Netanyahu. A ideia foi ventilada nesta semana, em conversa
de Lula com o presidente israelense, Shimon Peres.
O chanceler brasileiro justificou a viagem a Damasco afirmando que a Síria é um ator
fundamental na região. "As relações da Síria com outros países estão melhorando, e a nomeação de um embaixador
americano para Damasco é
prova disso", disse.
Sobre o envolvimento do
Brasil nas explosivas relações
regionais, após conversar em
poucos dias com autoridades
israelenses, palestinas, jordanianas e sírias, Amorim disse
que ele já está em curso.
"Ao fazer essas conversas o
Brasil já está participando",
disse o chanceler, que afirma
ter percebido em Assad interesse em retomar as negociações com Israel. "Há uma abertura de espírito, um desejo de
engajamento. Mas são processos que levaram 2.000 anos se
criando, você não pode querer
resolver tudo em meia hora."
Amorim, que diz ter levado
uma mensagem confidencial
da Síria a Israel em 2008, disse
que desta vez não serviu de
emissário no sentido oposto.
Mas contou ter relatado a Assad como foram as conversas
entre Lula e os israelenses.
""Não apresentei uma proposta específica, mas se [Assad]
for ao Brasil teremos a chance
de uma conversa mais aprofundada", disse Amorim.
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