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Em Ramallah, Arafat faz homenagem a Rantisi
OTÁVIO DIAS
ENVIADO ESPECIAL A RAMALLAH
O presidente da Autoridade Nacional Palestina, Iasser Arafat, homenageou ontem Abdul Aziz
Rantisi, líder do Hamas assassinado anteontem por Israel, numa
cerimônia fúnebre realizada na
Mukatha, o QG do líder da ANP
em Ramallah, na Cisjordânia.
Num amplo salão muito bem
iluminado, ladeado por diversas
figuras importantes do mundo
político e religioso palestino e
protegido por dezenas de seguranças, recebeu os cumprimentos
de centenas de pessoas, inclusive
cidadãos comuns e crianças, que
vinham prestar solidariedade.
À sua esquerda, estava um sobrinho de Rantisi e, na parede ao
fundo, um cartaz do líder do Hamas com uma arma. Dos alto-falantes, soavam sem cessar trechos
do Alcorão normalmente entoados em homenagens póstumas.
O presidente da ANP, que está
impedido de sair de seu QG há
mais de dois anos, parecia bem de
saúde. Levantava-se para cumprimentar cada visita, conversava
com as crianças e, ao sentar-se,
juntava as mãos, levava-as ao peito e fazia um movimento que parecia significar "resistência".
Do lado de fora da Mukatha,
parcialmente reconstruída após
ter sido fortemente atacada pelas
forças israelenses durante a atual
Intifada, o clima no início da noite
era intenso, com comitivas entrando e saindo, câmeras de TV,
grande movimento de pessoas.
Ao lado do prédio principal, ainda pode-se ver pilhas de carros
amassados pelos blindados de Israel e escombros de construções
atingidas por explosões.
Ver Arafat homenageando o líder do grupo terrorista responsável pelo maior número de atentados contra Israel parece legitimar
o argumento dos governos israelense e americano de que o líder
da ANP é, no mínimo, condescendente com o terror palestino.
A Folha, que viaja aos territórios ocupados à convite do escritório de representação diplomática da Autoridade Nacional Palestina em Brasília, acompanhando
um grupo de quatro deputados
federais brasileiros, questionou
algumas autoridades ligadas à
ANP sobre a questão.
Segundo elas, Arafat é presidente de todos os palestinos e, no momento em que um palestino é
morto pela força ocupante israelense, não há como o líder da ANP
não prestar solidariedade. "Israel
comete assassinatos políticos seletivos sem julgamento, numa
clara violação ao direito internacional", diz Saleem al Zanoon,
presidente do Conselho Nacional
Palestino, que representa os palestinos que vivem nos territórios
ocupados e os da diáspora.
Os ataques aos líderes do Hamas, qualificados por Israel como
muito importantes no combate
ao terrorismo, aumentam a popularidade do grupo extremista.
"Quem é atacado por Israel é bom
porque é visto como nacionalista.
Esses assassinatos fazem os radicais ficarem mais fortes", diz o
jornalista Bassem Barhoum, do
departamento de comunicação
do Conselho Legislativo Palestino, em Ramallah.
Mas por que Arafat, em vez de
apenas condenar atentados contra civis israelenses, não prende os
responsáveis? Segundo os palestinos ouvidos, ele já fez isso em
épocas em que o processo de paz
avançava, mas, com a atual falta
de perspectivas, o líder da ANP
não teria apoio popular nem poder sobre as forças de segurança
para fazer isso.
O jornalista Otávio Dias viajou a convite
da representação diplomática da Autoridade Nacional Palestina em Brasília.
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