São Paulo, segunda-feira, 19 de abril de 2004

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Em Ramallah, Arafat faz homenagem a Rantisi

OTÁVIO DIAS
ENVIADO ESPECIAL A RAMALLAH

O presidente da Autoridade Nacional Palestina, Iasser Arafat, homenageou ontem Abdul Aziz Rantisi, líder do Hamas assassinado anteontem por Israel, numa cerimônia fúnebre realizada na Mukatha, o QG do líder da ANP em Ramallah, na Cisjordânia.
Num amplo salão muito bem iluminado, ladeado por diversas figuras importantes do mundo político e religioso palestino e protegido por dezenas de seguranças, recebeu os cumprimentos de centenas de pessoas, inclusive cidadãos comuns e crianças, que vinham prestar solidariedade.
À sua esquerda, estava um sobrinho de Rantisi e, na parede ao fundo, um cartaz do líder do Hamas com uma arma. Dos alto-falantes, soavam sem cessar trechos do Alcorão normalmente entoados em homenagens póstumas.
O presidente da ANP, que está impedido de sair de seu QG há mais de dois anos, parecia bem de saúde. Levantava-se para cumprimentar cada visita, conversava com as crianças e, ao sentar-se, juntava as mãos, levava-as ao peito e fazia um movimento que parecia significar "resistência".
Do lado de fora da Mukatha, parcialmente reconstruída após ter sido fortemente atacada pelas forças israelenses durante a atual Intifada, o clima no início da noite era intenso, com comitivas entrando e saindo, câmeras de TV, grande movimento de pessoas. Ao lado do prédio principal, ainda pode-se ver pilhas de carros amassados pelos blindados de Israel e escombros de construções atingidas por explosões.
Ver Arafat homenageando o líder do grupo terrorista responsável pelo maior número de atentados contra Israel parece legitimar o argumento dos governos israelense e americano de que o líder da ANP é, no mínimo, condescendente com o terror palestino.
A Folha, que viaja aos territórios ocupados à convite do escritório de representação diplomática da Autoridade Nacional Palestina em Brasília, acompanhando um grupo de quatro deputados federais brasileiros, questionou algumas autoridades ligadas à ANP sobre a questão.
Segundo elas, Arafat é presidente de todos os palestinos e, no momento em que um palestino é morto pela força ocupante israelense, não há como o líder da ANP não prestar solidariedade. "Israel comete assassinatos políticos seletivos sem julgamento, numa clara violação ao direito internacional", diz Saleem al Zanoon, presidente do Conselho Nacional Palestino, que representa os palestinos que vivem nos territórios ocupados e os da diáspora.
Os ataques aos líderes do Hamas, qualificados por Israel como muito importantes no combate ao terrorismo, aumentam a popularidade do grupo extremista. "Quem é atacado por Israel é bom porque é visto como nacionalista. Esses assassinatos fazem os radicais ficarem mais fortes", diz o jornalista Bassem Barhoum, do departamento de comunicação do Conselho Legislativo Palestino, em Ramallah.
Mas por que Arafat, em vez de apenas condenar atentados contra civis israelenses, não prende os responsáveis? Segundo os palestinos ouvidos, ele já fez isso em épocas em que o processo de paz avançava, mas, com a atual falta de perspectivas, o líder da ANP não teria apoio popular nem poder sobre as forças de segurança para fazer isso.


O jornalista Otávio Dias viajou a convite da representação diplomática da Autoridade Nacional Palestina em Brasília.


Texto Anterior: Análise: Sharon quer mostrar que não foge à luta
Próximo Texto: Iraque ocupado: Espanha retira tropa do Iraque em 15 dias
Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.