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Árabes apóiam iranianos como contrapeso a EUA e Israel
JONATHAN WRIGHT
DA REUTERS, NO CAIRO
Os Estados Unidos encontraram pouco apoio no mundo árabe quando em 2003 invadiram o
Iraque. Não devem esperar reação diferente caso se envolvam
em um confronto militar pelo
programa nuclear iraniano.
Alguns países, sobretudo os de
fora da região do golfo, estão realmente entusiasmados com as pesquisas do Irã na área nuclear,
mesmo que elas o levem a produzir a bomba. Isso representaria
um soco no estômago ou um contrapeso a Israel e aos EUA.
Outros, especialmente nos países situados mais próximos do
Irã, temem a instabilidade que a
atual crise pode provocar.
A maioria no mundo árabe vê a
campanha americana e européia
contra o Irã como hipócrita, na
medida em que Israel se nega a
permitir inspeções nucleares internacionais em seu território e,
acredita-se, possui cerca de 200
ogivas nucleares.
"Eu gostaria que a região inteira
fosse livre de qualquer arma nuclear, mas o Ocidente prossegue
com sua abordagem de dois pesos
e duas medidas", opinou o engenheiro libanês Abdel Zaza, 29.
A Irmandade Muçulmana, que
é o maior grupo oposicionista do
Egito, disse esta semana que não
vê nenhum mal no Irã desenvolver armas nucleares. "Isso criaria
uma espécie de equilíbrio entre os
dois lados, o árabe e o israelense",
declarou o vice-líder da Irmandade, Mohamed Habib.
O líder da Liga Árabe, Amr
Moussa, afirmou que é preciso
proceder a uma revisão completa
das políticas em relação aos programas nucleares na região. "Essas políticas baseadas em dois pesos e duas medidas vão explodir e
provocar a escalada", disse ele. A
Liga Árabe representa 22 governos árabes, do Marrocos ao golfo.
Analistas disseram ter detectado na região um grau surpreendente de simpatia e apoio ao Irã.
"É espantoso como as pessoas
se entusiasmam com essa coisa
toda. Algumas pensam que o Irã
está a caminho de obter a bomba
estão entusiasmadas com isso",
declarou Hesham Kassem, editor
do jornal independente "Al
Masry Al Youm", do Cairo. "Não
parece existir a consciência de que
poderia ser uma calamidade."
Mohamed el Sayed Said, vice-diretor do Centro Ahram de Estudos Políticos e Estratégicos, do
Cairo, diz o mesmo. "As pessoas
estão dando muito apoio a isso [o
programa nuclear iraniano].
Qualquer país que desafie os Estados Unidos encontra muito
apoio. É uma empreitada muito
rentável, em termos da opinião
pública. Mesmo que isso vire uma
corrida armamentista, as pessoas
não se incomodam. O que temos
aqui é dignidade ferida e o repúdio à injustiça e ao emprego de
dois pesos e duas medidas."
A maioria dos governos árabes
lançou apelos por uma solução
pacífica do confronto com o Irã,
na esperança de que a diplomacia
permita ao país desenvolver energia nuclear sob supervisão da
ONU. Quando falam de armas
nucleares, dizem que todo o
Oriente Médio deveria ser livre
delas, implicitamente incluindo
Israel. Autoridades americanas
dizem que só poderão tratar das
atividades nucleares de Israel depois de ser alcançada uma paz
abrangente no Oriente Médio.
Os analistas na região do golfo
mencionaram preocupações especiais. "Os Estados do golfo estão preocupados, com razão, com
a possibilidade de o Irã entrar para o clube nuclear", disse o professor de ciência política Abdel-Khaleq Abdullah, dos Emirados Árabes Unidos. "A possibilidade de
uma quarta Guerra do Golfo está
além de nossa capacidade de administração. Não a queremos. Isso transformaria nossa vida em
um inferno."
Tradução de Clara Allain
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