São Paulo, quarta-feira, 19 de abril de 2006

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Árabes apóiam iranianos como contrapeso a EUA e Israel

JONATHAN WRIGHT
DA REUTERS, NO CAIRO

Os Estados Unidos encontraram pouco apoio no mundo árabe quando em 2003 invadiram o Iraque. Não devem esperar reação diferente caso se envolvam em um confronto militar pelo programa nuclear iraniano.
Alguns países, sobretudo os de fora da região do golfo, estão realmente entusiasmados com as pesquisas do Irã na área nuclear, mesmo que elas o levem a produzir a bomba. Isso representaria um soco no estômago ou um contrapeso a Israel e aos EUA.
Outros, especialmente nos países situados mais próximos do Irã, temem a instabilidade que a atual crise pode provocar.
A maioria no mundo árabe vê a campanha americana e européia contra o Irã como hipócrita, na medida em que Israel se nega a permitir inspeções nucleares internacionais em seu território e, acredita-se, possui cerca de 200 ogivas nucleares.
"Eu gostaria que a região inteira fosse livre de qualquer arma nuclear, mas o Ocidente prossegue com sua abordagem de dois pesos e duas medidas", opinou o engenheiro libanês Abdel Zaza, 29.
A Irmandade Muçulmana, que é o maior grupo oposicionista do Egito, disse esta semana que não vê nenhum mal no Irã desenvolver armas nucleares. "Isso criaria uma espécie de equilíbrio entre os dois lados, o árabe e o israelense", declarou o vice-líder da Irmandade, Mohamed Habib.
O líder da Liga Árabe, Amr Moussa, afirmou que é preciso proceder a uma revisão completa das políticas em relação aos programas nucleares na região. "Essas políticas baseadas em dois pesos e duas medidas vão explodir e provocar a escalada", disse ele. A Liga Árabe representa 22 governos árabes, do Marrocos ao golfo.
Analistas disseram ter detectado na região um grau surpreendente de simpatia e apoio ao Irã.
"É espantoso como as pessoas se entusiasmam com essa coisa toda. Algumas pensam que o Irã está a caminho de obter a bomba estão entusiasmadas com isso", declarou Hesham Kassem, editor do jornal independente "Al Masry Al Youm", do Cairo. "Não parece existir a consciência de que poderia ser uma calamidade."
Mohamed el Sayed Said, vice-diretor do Centro Ahram de Estudos Políticos e Estratégicos, do Cairo, diz o mesmo. "As pessoas estão dando muito apoio a isso [o programa nuclear iraniano]. Qualquer país que desafie os Estados Unidos encontra muito apoio. É uma empreitada muito rentável, em termos da opinião pública. Mesmo que isso vire uma corrida armamentista, as pessoas não se incomodam. O que temos aqui é dignidade ferida e o repúdio à injustiça e ao emprego de dois pesos e duas medidas."
A maioria dos governos árabes lançou apelos por uma solução pacífica do confronto com o Irã, na esperança de que a diplomacia permita ao país desenvolver energia nuclear sob supervisão da ONU. Quando falam de armas nucleares, dizem que todo o Oriente Médio deveria ser livre delas, implicitamente incluindo Israel. Autoridades americanas dizem que só poderão tratar das atividades nucleares de Israel depois de ser alcançada uma paz abrangente no Oriente Médio.
Os analistas na região do golfo mencionaram preocupações especiais. "Os Estados do golfo estão preocupados, com razão, com a possibilidade de o Irã entrar para o clube nuclear", disse o professor de ciência política Abdel-Khaleq Abdullah, dos Emirados Árabes Unidos. "A possibilidade de uma quarta Guerra do Golfo está além de nossa capacidade de administração. Não a queremos. Isso transformaria nossa vida em um inferno."


Tradução de Clara Allain

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