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HISTÓRIA
Moradores lembram tragédia que matou 3.000 e destruiu 500 quarteirões da cidade do noroeste americano
San Francisco evoca cem anos do terremoto
MARY MILLIKEN
DA REUTERS, EM SAN FRANCISCO
Há cem anos, os habitantes de
San Francisco foram acordados às
5h13 por um terremoto que devastou a cidade. Na terça-feira,
eles voltaram a levantar-se antes
do amanhecer para comemorar a
sobrevivência e o renascimento
da cidade, após o "Big One".
Para lembrar o centenário da
catástrofe, milhares de pessoas se
reuniram em torno da fonte Lotta, um monumento no qual as famílias deixaram mensagens à
procura de seus entes queridos
após o terremoto de 1906. Entre
elas havia uma dúzia de sobreviventes do terremoto.
Estimadas 3.000 pessoas morreram no abalo sísmico, que durou
um minuto e teve intensidade de
7,9 graus, e nos três dias de incêndios que se seguiram a ele, que devoraram 500 quarteirões da cidade e deixaram desabrigados mais
da metade dos 400 mil moradores
daquela cidade americana.
Os sobreviventes, em sua maioria, eram crianças muito pequenas quando o terremoto aconteceu, mas ainda têm histórias a
contar. "Lembro-me de ver uma
vaca subir o morro correndo,
com a cauda em pé", contou uma
delas, Violet. Outra mulher, com
99 anos, disse que se considera
"fruto do terremoto", porque foi
concebida e nasceu em uma das
muitas barracas montadas para
os abrigar sobreviventes no parque Golden Gate.
O prefeito Gavin Newsom disse
que San Francisco é um exemplo
de um lugar devastado por uma
catástrofe, como Nova Orleans
após a passagem do furacão Katrina, no ano passado. "Quem teria imaginado que, poucos dias
após o desastre, as pessoas teriam
literalmente começado a tirar o
pó das casas e decidido reconstruí-las da maneira milagrosa que
vemos aqui hoje?"
Sirenas tocaram ao amanhecer,
e bares foram abertos antes do sol
nascer, para intensificar as comemorações do centenário. Os moradores de San Francisco encontraram nas portas de suas casas
uma cópia da edição do dia seguinte ao desastre de 1906 do jornal "The Call-Chronicle Examiner", ostentando a manchete
"Terremoto e Incêndios: San
Francisco em Ruínas".
Entretanto, apesar das comemorações da sobrevivência da cidade, o centenário também serviu
para recordar que a área da baía
de San Francisco continua profundamente vulnerável às sete falhas geológicas da região.
Especialistas em sismologia
acreditam que a região tem 60%
de chances de sofrer um terremoto de grandes proporções nos
próximos 25 anos. Um terremoto
que ocorresse hoje na falha de San
Andreas, com magnitude semelhante ao de 1906, poderia causar
milhares de mortes e danos de
US$ 150 bilhões.
"Vivo na região da falha de Hayward, e lá também estamos sujeitos a outros terremotos", comentou Art Brandenburg, que foi à cerimônia usando ceroulas, sobretudo e cartola. "Todo o mundo
deveria andar sempre com farolete e apito." Brandenburg disse
que se vestiu para a ocasião em
homenagem ao grande tenor italiano Enrico Caruso, que estava
vestido assim quando fugiu de
seu quarto no vizinho Palace Hotel. Caruso nunca mais retornou a
San Francisco.
As recordações de terremoto
que a maioria dos moradores da
cidade tem datam de outubro de
1989, quando um tremor de 6,9
graus em Loma Prieta, 100 km ao
sul da cidade, matou mais de 60
pessoas e danificou gravemente a
ponte sobre a baía, que liga San
Francisco a Oakland.
"Foi muito estranho, pareceu
durar para sempre", comentou a
moradora de Oakland Phyllis
McCaughey. Desde então, ela tem
um kit para terremotos sempre
pronto no guarda-roupa, mas duvida que algum dia precise usá-lo.
"Uma vez a cada 80 anos está
bem", disse ela. "Acho que estamos seguros por algum tempo."
No bar da estação Sutter, na
Market Street, os freqüentadores
da madrugada também preferiram ignorar o perigo. "É um aniversário, não um desastre", comentou Ryan Quiel, 25, terminando sua cerveja.
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