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Em vídeo, autor de massacre se diz acuado
Entre assassinar suas duas primeiras vítimas e matar as 30 demais, Cho enviou a rede de TV um "manifesto multimídia"
Polícia do campus revela que estudante sul-coreano tinha histórico de assédio e que foi levado a instituto psiquiátrico, mas liberado
SÉRGIO DÁVILA
ENVIADO ESPECIAL A BLACKSBURG
"Vocês tiveram bilhões de
chances e formas de evitar hoje.
Mas vocês me acuaram e só me
deram uma opção." Quem diz
isso de modo frio e compassado, num tom monocórdico, é
um rapaz de camiseta preta e
cabelo curto. Ele lê um texto de
1.800 palavras. É Cho Seung-hui, o estudante sul-coreano de
23 anos acusado de matar 32
pessoas e depois se matar no
que é considerado o maior massacre a tiros dos EUA.
O vídeo, mais 43 fotos, 27 clipes e um texto, foi colocado no
posto de correio do Instituto
Politécnico da Virgínia (Virginia Tech) às 9h01 locais de segunda-feira (10h01 no Brasil),
entre as duas primeiras mortes,
às 7h15, e o resto do massacre
-que aconteceria menos de
uma hora depois do horário
marcado pelo funcionário postal. O destinatário era a emissora de TV NBC, em Nova York.
Como remetente, apenas um
nome: Ishmael, possível referência ao personagem citado na
primeira linha do clássico
"Moby Dick". No que o âncora
da NBC, Brian Williams, chamou de "manifesto multimídia" ao apresentar parte do
conteúdo no jornal da emissora
ontem, às 18h30 locais, Cho
ainda faria referência aos autores do massacre na escola Columbine, no Colorado, em
1999. Numa das fotos, aparece
com duas armas, colete e boné
ao contrário, em pose que lembra cena do filme "Matrix".
"Ele expressa o mesmo tipo
de atitude de "eu contra o resto
do mundo" dos meninos de Columbine", disse Pete Williams,
correspondente da emissora
em Washington. Em uma entrada ao vivo, um ex-perfilador
do FBI disse que Cho é como
"alguém nos puxando pelo pescoço da cova para que prestemos atenção nele".
O vídeo pode ser uma prova
de que o massacre de segunda-feira foi premeditado, não só
pelo horário em que foi entregue no correio mas porque especialistas acreditam que o material todo deve ter levado pelo
menos seis dias para ser feito.
"Doença mental"
Ontem ainda, a polícia do
campus revelou que o estudante sul-coreano foi interrogado
duas vezes no fim de 2005, depois de duas alunas reclamarem do assédio dele, e que foi
hospitalizado após um colega
dizer que tinha idéias suicidas.
Cho passou a noite de 13 de dezembro daquele ano num hospital psiquiátrico em Christiansburg, perto do campus.
Depois de um médico do hospital dizer a um juizado especial do Estado da Virgínia que
cuida de casos do tipo que Cho
havia negado ter tido pensamentos suicidas, o juiz Paul
Barnett determinou que ele
fosse liberado. As duas estudantes, que reclamaram à polícia em ocasiões diferentes, decidiram não prestar queixas, e
esse foi o último contato do sistema legal da Virgínia com Cho.
Na ordem judicial, na opção
"apresenta um risco iminente a
si próprio como resultado de
doença mental", o juiz Barnett
colocou um "xis", mas deixou
em branco a que diz "hospitalização involuntária é necessária". Se tivesse preenchido essa
opção também, o nome de Cho
entraria no sistema criminal, e
o estudante teria sido impedido
de comprar as duas armas
achadas após o ataque.
A revelação elevou o tom das
críticas à universidade pela maneira com que lidou com o estudante problemático antes do
massacre. Nas últimas horas,
três professores vieram a público reclamar do comportamento de Cho em suas aulas. Uma
delas, Lucinda Roy, afirma ter
avisado seus superiores.
Outra, a poeta Nikki Giovanni, afirmou ter pedido que ele
mudasse o tipo de poema que
escrevia, considerado "mórbido demais" por ela e por boa
parte dos alunos, que ameaçou
boicotar a aula a seu lado. Giovanni pediu também que Cho
parasse de tirar fotos de colegas
sem autorização.
Segundo a direção da universidade, as professoras disseram
que nenhum dos escritos trazia
referência a atividades criminais ou intenção de cometê-las,
daí a decisão de não fazer nada.
Colegas de quarto de Cho
afirmaram também que ele tinha uma namorada imaginária,
uma top model a quem chamava de "Jelly" (geléia) e que o
chamava de "Spanky" (espancadorzinho).
O estudante sul-coreano
chegou aos EUA com a família
em 1992 e tinha status de residente. Desde o massacre, seus
pais não foram vistos nem se
pronunciaram. O casal vive em
Centreville (a quatro horas de
Blacksburg), onde é dono de
uma tinturaria.
NA INTERNET - Veja o vídeo de Cho
(em inglês) em
http://www.msnbc.msn.com/id/18169776/
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