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Terror mata quase 200 em Bagdá
Num dos dias mais sangrentos na capital desde a invasão, bombas expõem falhas do plano de segurança dos EUA
Pior ataque matou 140 em mercado, horas depois de o premiê anunciar que forças do país assumirão o controle do Iraque até o fim do ano
PATRICK COCKBURN
DO "INDEPENDENT"
O dia de ontem será lembrado como um dia de infâmia pelos iraquianos que ouvem dos
Estados Unidos que sua segurança está melhorando. Quase
200 pessoas foram mortas em
um dos dias mais sangrentos
dos quatro anos desta guerra,
quando carros-bomba explodiram em cinco bairros da cidade,
expondo as falhas do plano de
segurança americano implantado há dois meses.
Foi o segundo dia mais violento na capital desde a invasão
americana, em 2003, só superado pelo atentado de 23 de novembro de 2006, quando 202
morreram numa explosão no
bairro xiita de Sadr City.
Após as explosões, soldados
americanos e iraquianos foram
apedrejados por multidões enfurecidas que gritavam: "Onde
está o plano de segurança? Este
plano não nos protege."
"Vi dezenas de corpos", disse
uma testemunha em Sadriya,
bairro de população mista, xiita
e curda, no oeste de Bagdá, onde 140 pessoas morreram e 150
ficaram feridas. "Algumas pessoas foram queimadas vivas
dentro de um microônibus."
A escalada de ataques devastadores lançados por insurgentes árabes sunitas contra civis
xiitas está pondo em descrédito
o plano de segurança americano, que incluiu o envio de mais
soldados americanos.
Lançado em 14 de fevereiro, o
plano pretendia dar ao governo
iraquiano controle maior sobre
as ruas de Bagdá. A milícia xiita
Exército Mehdi, acusada de
operar esquadrões da morte
que alvejavam civis sunitas, tinha se tornado mais discreta e
evitado entrar em confronto
com os EUA, mas é pouco provável que isso continue, diante
destes ataques devastadores. O
premiê iraquiano, Nouri al-Maliki, é considerado incapaz
de defender sua população.
"Abaixo Maliki"
Logo após as explosões, um
homem, acenando com os braços, gritava enraivecido: "Onde
está Maliki? Que ele venha para
ver o que está acontecendo
aqui". A multidão furiosa gritava "abaixo Maliki".
O pior ataque foi contra o
mercado Sadriya, de carne e
verduras, no centro de Bagdá. O
local já tinha sido alvo de uma
das piores atrocidades em Bagdá, em 3 de fevereiro, quando
um suicida explodiu um caminhão, matando 137 pessoas.
Alguns dos mortos de ontem
eram operários que estavam
reconstruindo o mercado. Um
dos trabalhadores, Salih Mustafa, 28 anos, esperava o microônibus para voltar para casa
quando a bomba explodiu.
"Corri para ajudar as vítimas.
Foi uma cena pavorosa."
Não há dúvida de que o objetivo das bombas foi matar o
maior número possível de civis
xiitas. Cerca de meia hora antes
da explosão em Sadriya, um homem-bomba tinha atirado seu
carro contra um posto policial
na entrada do bairro xiita de
Sadr City, no leste de Bagdá. A
região é o reduto do clérigo nacionalista Moqtada al-Sadr.
A explosão matou 33 pessoas
e feriu 45. Fumaça preta saía de
veículos em chamas, enquanto
as pessoas tentavam passar sobre os destroços retorcidos dos
carros para resgatar os feridos.
Em outro bairro xiita, Karrada,
um carro-bomba matou 11.
As bombas explodiram horas
depois de Maliki anunciar que
as forças de segurança iraquianas assumiriam controle total
do país até o fim do ano. Seis
ministros que apóiam Moqtada
al-Sadr acabam de afastar-se do
governo porque Maliki não exigiu que os EUA determine um
cronograma para a retirada de
suas tropas.
A comunidade xiita, que com
17 milhões de integrantes forma a maioria da população do
Iraque, está cada vez mais hostil à presença americana, enquanto os 5 milhões de árabes
sunitas, em sua maioria,
apóiam a resistência armada
antiamericana. Só os curdos
apóiam plenamente os EUA.
Tradução de CLARA ALLAIN
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