São Paulo, quinta-feira, 19 de abril de 2007

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Terror mata quase 200 em Bagdá

Num dos dias mais sangrentos na capital desde a invasão, bombas expõem falhas do plano de segurança dos EUA

Pior ataque matou 140 em mercado, horas depois de o premiê anunciar que forças do país assumirão o controle do Iraque até o fim do ano

PATRICK COCKBURN
DO "INDEPENDENT"

O dia de ontem será lembrado como um dia de infâmia pelos iraquianos que ouvem dos Estados Unidos que sua segurança está melhorando. Quase 200 pessoas foram mortas em um dos dias mais sangrentos dos quatro anos desta guerra, quando carros-bomba explodiram em cinco bairros da cidade, expondo as falhas do plano de segurança americano implantado há dois meses. Foi o segundo dia mais violento na capital desde a invasão americana, em 2003, só superado pelo atentado de 23 de novembro de 2006, quando 202 morreram numa explosão no bairro xiita de Sadr City.
Após as explosões, soldados americanos e iraquianos foram apedrejados por multidões enfurecidas que gritavam: "Onde está o plano de segurança? Este plano não nos protege." "Vi dezenas de corpos", disse uma testemunha em Sadriya, bairro de população mista, xiita e curda, no oeste de Bagdá, onde 140 pessoas morreram e 150 ficaram feridas. "Algumas pessoas foram queimadas vivas dentro de um microônibus." A escalada de ataques devastadores lançados por insurgentes árabes sunitas contra civis xiitas está pondo em descrédito o plano de segurança americano, que incluiu o envio de mais soldados americanos.
Lançado em 14 de fevereiro, o plano pretendia dar ao governo iraquiano controle maior sobre as ruas de Bagdá. A milícia xiita Exército Mehdi, acusada de operar esquadrões da morte que alvejavam civis sunitas, tinha se tornado mais discreta e evitado entrar em confronto com os EUA, mas é pouco provável que isso continue, diante destes ataques devastadores. O premiê iraquiano, Nouri al-Maliki, é considerado incapaz de defender sua população.

"Abaixo Maliki"
Logo após as explosões, um homem, acenando com os braços, gritava enraivecido: "Onde está Maliki? Que ele venha para ver o que está acontecendo aqui". A multidão furiosa gritava "abaixo Maliki". O pior ataque foi contra o mercado Sadriya, de carne e verduras, no centro de Bagdá. O local já tinha sido alvo de uma das piores atrocidades em Bagdá, em 3 de fevereiro, quando um suicida explodiu um caminhão, matando 137 pessoas.
Alguns dos mortos de ontem eram operários que estavam reconstruindo o mercado. Um dos trabalhadores, Salih Mustafa, 28 anos, esperava o microônibus para voltar para casa quando a bomba explodiu. "Corri para ajudar as vítimas. Foi uma cena pavorosa." Não há dúvida de que o objetivo das bombas foi matar o maior número possível de civis xiitas. Cerca de meia hora antes da explosão em Sadriya, um homem-bomba tinha atirado seu carro contra um posto policial na entrada do bairro xiita de Sadr City, no leste de Bagdá. A região é o reduto do clérigo nacionalista Moqtada al-Sadr.
A explosão matou 33 pessoas e feriu 45. Fumaça preta saía de veículos em chamas, enquanto as pessoas tentavam passar sobre os destroços retorcidos dos carros para resgatar os feridos. Em outro bairro xiita, Karrada, um carro-bomba matou 11.
As bombas explodiram horas depois de Maliki anunciar que as forças de segurança iraquianas assumiriam controle total do país até o fim do ano. Seis ministros que apóiam Moqtada al-Sadr acabam de afastar-se do governo porque Maliki não exigiu que os EUA determine um cronograma para a retirada de suas tropas.
A comunidade xiita, que com 17 milhões de integrantes forma a maioria da população do Iraque, está cada vez mais hostil à presença americana, enquanto os 5 milhões de árabes sunitas, em sua maioria, apóiam a resistência armada antiamericana. Só os curdos apóiam plenamente os EUA.


Tradução de CLARA ALLAIN


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