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Obama reduz resistência de líderes latinos
Apesar das cobranças sobre Cuba e intervencionismo, presidente americano é assediado e poupado de ataques na Cúpula das Américas
Ambiente do encontro
demonstra permanência do
peso dos EUA na região e
expectativa de mudanças
em políticas de Washington
Yuri Cortéz/France Presse
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Os presidentes Obama (esq.), Ronald Venetiaan (Suriname), Elias Saca (El Salvador), Tabaré Vázquez (Uruguai), Correa (Equador) e Chávez na hora da foto oficial
CLÓVIS ROSSI
ENVIADO ESPECIAL A PORT OF SPAIN
Depois de conquistar os Estados Unidos no ano passado, o
presidente Barack Obama conquistou o restante das Américas -do Sul, Central e Caribe-
com sua participação na 5ª Cúpula das Américas, que se encerra hoje em Port of Spain.
Conquista que já havia começado no mês passado com o
presidente do mais importante
dos países latino-americanos,
Luiz Inácio Lula da Silva, que
não disfarça o encantamento
com seu colega do Norte e com
o tratamento de aliado preferencial que ele lhe dá.
O chanceler Celso Amorim
deu ontem uma medida da rendição da região aos encantos de
Obama, ao dizer que nunca
houve um presidente americano como ele, pelo menos no que
diz respeito à América Latina.
É verdade que o chanceler
ressalvou que a América Latina
tem sua parte nesse relacionamento, pelas mudanças dos últimos anos. Mas é justamente a
mudança que comanda a atração por Obama. O fato de ele tê-la prometido faz Lula repetir
que espera que ela se aplique
também à América Latina.
O encantamento com Obama
alcançou até o venezuelano
Hugo Chávez, que chegou a
brincar ontem com o líder americano: "Temos uma excelente
relação energética e agora temos boas relações políticas".
Chávez também parece acreditar que haverá uma mudança
no relacionamento dos EUA
com seus vizinhos do Sul. Tanto que disse que a próxima cúpula das Américas, a 6ª, se realizaria em Havana, Cuba.
Traduzindo: Chávez está
dando por certo que, nesse intervalo de três ou quatro anos,
as relações EUA/Cuba estarão
normalizadas. Por tabela, endossa o processo de cúpulas,
que havia criticado. Fica assim
perto da irrelevância Chávez
assinar ou não o documento final de Port of Spain.
É óbvio que o encantamento
de Chávez e dos demais líderes
não quer dizer que os EUA de
Obama passam a ser os queridinhos da América. As críticas e
cobranças vão continuar, como
acontece com países europeus
que têm menos desacordos
com Washington do que boa
parte dos latino-americanos.
Numa ponta, os países latino-americanos deixaram claro
a Obama que gostariam de ver
corrigida a "anômala exclusão
de um dos países do continente, que é Cuba", como afirmou
Lula em seu discurso. Antes,
Lula disse ter certeza de que
Cuba estará na próxima cúpula
e pediu que a suavização das
restrições americanas "sejam
ampliadas e venham sem precondições".
Na outra ponta, Obama deixou claro que quer mudanças,
mas que elas também dependem do outro lado e que não se
pode resolver de um dia para o
outro um conflito de 50 anos.
O encantamento com Obama
fez com que mesmo os presidentes mais críticos aos EUA e
que reiteraram suas críticas
nos dois dias da cúpula fizessem sempre questão de isentá-lo de culpa. Ou, como resumiu
Celso Amorim, "o mais importante é o reconhecimento [por
parte de Obama] de que políticas do passado geraram situações difíceis e que ele, Obama,
está disposto a mudar".
A maneira como os chefes de
governo se dirigiram especificamente a Obama, como se não
estivessem na sala outros 33
governantes, demonstra que o
peso dos EUA segue sendo de
extrema relevância.
Em qualquer reunião nas
Américas, o presidente dos
EUA será centro das atenções.
Mas, com Obama, a atenção aumentou. Primeiro, pelo ineditismo de ser o primeiro negro a
presidir o país mais forte e rico
do mundo e, segundo, pela expectativa de que trabalhará como parceiro e não com as imposições habituais na história da
relação com a América Latina,
como disse até o boliviano Evo
Morales, que, em Port of Spain,
acabou sendo o mais duro crítico das políticas americanas.
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