São Paulo, domingo, 19 de abril de 2009

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Obama reduz resistência de líderes latinos

Apesar das cobranças sobre Cuba e intervencionismo, presidente americano é assediado e poupado de ataques na Cúpula das Américas

Ambiente do encontro demonstra permanência do peso dos EUA na região e expectativa de mudanças em políticas de Washington

Yuri Cortéz/France Presse
Os presidentes Obama (esq.), Ronald Venetiaan (Suriname), Elias Saca (El Salvador), Tabaré Vázquez (Uruguai), Correa (Equador) e Chávez na hora da foto oficial

CLÓVIS ROSSI
ENVIADO ESPECIAL A PORT OF SPAIN

Depois de conquistar os Estados Unidos no ano passado, o presidente Barack Obama conquistou o restante das Américas -do Sul, Central e Caribe- com sua participação na 5ª Cúpula das Américas, que se encerra hoje em Port of Spain.
Conquista que já havia começado no mês passado com o presidente do mais importante dos países latino-americanos, Luiz Inácio Lula da Silva, que não disfarça o encantamento com seu colega do Norte e com o tratamento de aliado preferencial que ele lhe dá.
O chanceler Celso Amorim deu ontem uma medida da rendição da região aos encantos de Obama, ao dizer que nunca houve um presidente americano como ele, pelo menos no que diz respeito à América Latina.
É verdade que o chanceler ressalvou que a América Latina tem sua parte nesse relacionamento, pelas mudanças dos últimos anos. Mas é justamente a mudança que comanda a atração por Obama. O fato de ele tê-la prometido faz Lula repetir que espera que ela se aplique também à América Latina.
O encantamento com Obama alcançou até o venezuelano Hugo Chávez, que chegou a brincar ontem com o líder americano: "Temos uma excelente relação energética e agora temos boas relações políticas".
Chávez também parece acreditar que haverá uma mudança no relacionamento dos EUA com seus vizinhos do Sul. Tanto que disse que a próxima cúpula das Américas, a 6ª, se realizaria em Havana, Cuba.
Traduzindo: Chávez está dando por certo que, nesse intervalo de três ou quatro anos, as relações EUA/Cuba estarão normalizadas. Por tabela, endossa o processo de cúpulas, que havia criticado. Fica assim perto da irrelevância Chávez assinar ou não o documento final de Port of Spain.
É óbvio que o encantamento de Chávez e dos demais líderes não quer dizer que os EUA de Obama passam a ser os queridinhos da América. As críticas e cobranças vão continuar, como acontece com países europeus que têm menos desacordos com Washington do que boa parte dos latino-americanos.
Numa ponta, os países latino-americanos deixaram claro a Obama que gostariam de ver corrigida a "anômala exclusão de um dos países do continente, que é Cuba", como afirmou Lula em seu discurso. Antes, Lula disse ter certeza de que Cuba estará na próxima cúpula e pediu que a suavização das restrições americanas "sejam ampliadas e venham sem precondições".
Na outra ponta, Obama deixou claro que quer mudanças, mas que elas também dependem do outro lado e que não se pode resolver de um dia para o outro um conflito de 50 anos.
O encantamento com Obama fez com que mesmo os presidentes mais críticos aos EUA e que reiteraram suas críticas nos dois dias da cúpula fizessem sempre questão de isentá-lo de culpa. Ou, como resumiu Celso Amorim, "o mais importante é o reconhecimento [por parte de Obama] de que políticas do passado geraram situações difíceis e que ele, Obama, está disposto a mudar".
A maneira como os chefes de governo se dirigiram especificamente a Obama, como se não estivessem na sala outros 33 governantes, demonstra que o peso dos EUA segue sendo de extrema relevância.
Em qualquer reunião nas Américas, o presidente dos EUA será centro das atenções. Mas, com Obama, a atenção aumentou. Primeiro, pelo ineditismo de ser o primeiro negro a presidir o país mais forte e rico do mundo e, segundo, pela expectativa de que trabalhará como parceiro e não com as imposições habituais na história da relação com a América Latina, como disse até o boliviano Evo Morales, que, em Port of Spain, acabou sendo o mais duro crítico das políticas americanas.

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