São Paulo, domingo, 19 de abril de 2009

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Havana vive otimismo cauteloso

Jornais "escondem" chamado de Obama a "novo começo", mas TV transmitiu trecho de discurso do americano

Liberação de viagens anima de pequenos empresários a fornecedores; dissidentes e críticos põem em dúvida intenção do governo da ilha

DA REDAÇÃO

A imprensa oficial cubana parece disposta a divulgar a conta-gotas na ilha o balé de declarações conciliatórias que Havana vem trocando com o governo de Barack Obama. Se na edição de ontem dos jornais oficiais o chamado de Obama ao "novo começo" das relações aparece sem destaque, o noticiário da TV do meio-dia transmitiu as palavras do americano convocando ao diálogo em Trinidad e Tobago.
Os dissidentes-mais e menos moderados- e analistas críticos do regime mostram desconfiança quanto à declaração de Raúl Castro de que quer conversar sobre "tudo", inclusive direitos humanos e prisioneiros políticos, com Obama. Lembram que Havana mostra disposição para conversar com a União Europeia sobre os temas, mas dá poucos passos concretos -exigidos pelos EUA para seguir a aproximação.
Já intelectuais pró-regime, como o sociólogo argentino Atílio Borón, seguem criticando os EUA por exigirem ajustes de Havana, repetindo o modelo de interferência que consideram fracassado. Fidel Castro, o ex-ditador convalescente bastante ativo nos últimos dias, não havia se pronunciado até o fechamento desta edição.
Nas ruas, a agência de notícias France Presse registra otimismo cauteloso: "O que queria é que se sentassem ao menos a dialogar. Obama já fez bastante", disse o aposentado Ovidio Fernández, 80.

Expectativas
Já o efeito do fim das restrições de viagens por Obama aparece nas declarações de pequenos empresários, fornecedores do governo e até funcionários públicos -está mesmo nos escritos Fidel Castro, um pouco a contragosto. Todos esperam que o fluxo de visitantes e de dólares aliviem a crise de caixa da administração cubana.
Um economista do Partido Comunista diz que as relações com os EUA e os esforços do presidente Raúl Castro para melhorar a eficiência econômica parecem estar indo na direção correta e que o resultado pode ser maior liberdade econômica. "A situação econômica está se deteriorando, e não há muito tempo para melhorá-la."
Quanto à possibilidade aberta por Obama de que empresas de telecomunicações negociem com Havana, empresários com experiência na ilha dizem que o governo deve recebê-las, negociar o que lhes convier, e bloquear ou adiar pontos que lhe parecerem incômodos.


Com France Presse e "Financial Times"


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