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Crise e crítica desafiam ajuda humanitária
ONU teme que recessão cause cortes orçamentários, mas muitos sustentam que dinheiro não tem trazido benefícios
Até para especialistas não ocidentais, doações de países ricos não atendem às necessidades estruturais das nações empobrecidas
PAULA ADAMO IDOETA
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA
A crise econômica global lançará à pobreza 53 milhões de
pessoas neste ano, segundo a
ONU, previsão que motivou
um pedido do secretário-geral
do órgão, Ban Ki-moon, no último dia 2, para que os países do
G20 se comprometam a não reduzir o financiamento às causas humanitárias globais.
Mas, na contramão dos pedidos de Ban, crescem as críticas
a essas doações. Se antes analistas ocidentais já questionaram
a eficácia da ajuda internacional a nações pobres, agora especialistas de algumas das próprias regiões auxiliadas argumentam que o dinheiro não
tem trazido resultados.
"Por que os governos [ajudados] escutariam seus próprios
cidadãos, se sua sustentação
vem de fora? Muito do dinheiro
que recebem é usado para aumentar a burocracia governamental, limitando o empreendedorismo e sua competitividade", disse à Folha Iqbal Quadir, bengalês-americano diretor do Centro Legatum para
Desenvolvimento e Empreendedorismo, do Massachusetts
Institute of Technology (MIT),
nos EUA, que há poucos dias
abordou o tema em artigo no
"Wall Street Journal".
Para a indiana Anuradha
Mittal, especialista em agricultura do californiano Oakland
Institute, a ajuda falha quando
"não vê as necessidades estruturais dos países ajudados",
disse à Folha.
Mittal criticou publicamente
a fundação do empresário Bill
Gates por, segundo ela, tentar
fomentar a agricultura no continente africano com sementes
geneticamente modificadas,
que geram lucros a "indústrias
de biotecnologia" sem, no entanto, preocupar-se em "consultar os agricultores locais".
"Isso não traz benefício a
pessoas, mas a corporações.
Parte da comida enviada à África vem da produção subsidiada
de países ricos e chega aos mercados africanos a preços com
os quais produtores locais não
podem competir", opinou.
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