São Paulo, domingo, 19 de maio de 2002

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MULTIMÍDIA

Imprensa poupou o governo, diz Rather

ANDREW BUNCOMBE
DO "THE INDEPENDENT", EM WASHINGTON

Dan Rather, um dos mais respeitados e conhecidos homens de mídia dos EUA, disse que o clima de extremo patriotismo que envolve o país desde os ataques de 11 de setembro impede a imprensa de fazer as perguntas difíceis aos líderes do país. Ele se disse também culpado pela autocensura.
"Pode parecer uma comparação obscena, mas, você sabe, houve uma época na África do Sul em que as pessoas colocavam pneus em chamas nos pescoços dos que discordavam", disse Rather. "De alguma maneira, o medo aqui é de que ponham o "pneu em chamas" da falta de patriotismo em seu pescoço. É esse medo que impede os jornalistas de fazer as perguntas mais duras sobre os assuntos mais sérios. Eu devo humildemente dizer que não me excluo dessa crítica", afirmou.
O jornalista ainda acrescentou: "Temo que o patriotismo se transforme numa fúria assassina que atropele os valores que este país procura defender".
Desde os ataques terroristas de setembro, Rather, 70, âncora veterano da rede de TV CBS, tem muitas vezes personificado o próprio patriotismo americano.
Uma semana depois dos atentados, ele se desmanchou em lágrimas enquanto falava no programa de entrevistas de David Letterman. Depois disso, quando esteve no centro dos acontecimentos ao receber uma carta com antraz, ele declarou: "Nosso maior problema não é o antraz. Nosso maior problema é o medo".
Agora, Rather afirma crer que tentar trazer transparência aos atos do governo seja realmente o seu maior dever patriótico. "Falta de patriotismo é não se levantar, olhá-los nos olhos e fazer as perguntas que eles não querem ouvir -"eles", digo, são aqueles que têm a responsabilidade maior em nossa sociedade, a responsabilidade de mandar nossos filhos, nossas mulheres e nossos maridos, nosso sangue para enfrentar a morte."



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