São Paulo, sábado, 19 de maio de 2007

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Cúpula UE-Rússia expõe divergências e acaba sem acordo

Desacordo nos principais temas, como energia, direitos humanos e comércio, deixa encontro sem declaração final

Detenção de opositores que iriam participar de protesto contra o Kremlin incomoda chanceler alemã; presidente russo relativiza democracia

DA REDAÇÃO

Em meio ao desconforto causado pela detenção de opositores que tentavam chegar a um protesto contra o Kremlin, a reunião de cúpula Rússia-União Européia teve ontem um desfecho amargo, expondo antigas e novas divergências.
Em mais um sinal de que as relações entre a Rússia e a UE atingiram o ponto mais baixo desde o fim da Guerra Fria, como diagnosticou no mês passado o comissário europeu de comércio, Peter Mandelson, a cúpula realizada ontem no resort russo de Volzhsky Utyos, a cerca de 1.000 km de Moscou, não produziu nem sequer uma declaração final conjunta.
Além das diferenças em temas como segurança energética, defesa e comércio, um incidente envolvendo líderes opositores ressaltou um outro ponto de atrito freqüente entre Moscou e o Ocidente: o desrespeito do governo russo aos direitos humanos e à democracia.
Cerca de 20 pessoas foram impedidas de embarcar em um aeroporto de Moscou rumo a Samara, cidade próxima ao resort onde acontecia a cúpula, para participar de um protesto contra o governo russo. Entre eles estavam líderes da oposição, como o ex-campeão mundial de xadrez Garry Kasparov.

Ordem superior
"Quando tentei me registrar para o vôo, funcionários do aeroporto me disseram que não conseguiam emitir minha passagem no sistema de computador", disse Kasparov, sugerindo que o Kremlin estava por trás da proibição. "É óbvio que a ordem partiu de cima."
A chanceler alemã, Angela Merkel, que exerce a Presidência rotativa da UE, usou suas primeira palavras na entrevista coletiva posterior ao encontro com o presidente russo, Vladimir Putin, para manifestar preocupação com a ação.
"Todos aqueles que queiram ir protestar em Samara deveriam poder ir", disse ela. "Posso entender que sejam presas pessoas que atirem pedras ou ameaçem o direito do Estado de manter a ordem. Mas é muito diferente deter pessoas a caminho de uma demonstração."
O presidente russo reagiu com críticas à repressão que, segundo ele, a minoria russa está sofrendo na Estônia e na Letônia, países bálticos que faziam parte da antiga União Soviética e hoje são mebros da União Européia.
"Nós acreditamos que isso é inaceitável e indigno da Europa", disse Putin. A remoção na Estônia de um monumento ao Exército Vermelho, no mês passado, causou tumultos que acabaram com a morte de um cidadão de origem russa.
Putin rebateu as cobranças européias à falta de liberdade na Rússia. "O que é democracia pura?", questionou. "É uma questão de...querer ver o copo meio cheio ou meio vazio".
Para surpresa de poucos, a cúpula também não foi capaz de desbloquear o caminho para as negociações em torno de um acordo de cooperação.
As conversações estão paradas por um veto da Polônia, que protesta contra a proibição russa à importação de sua carne -oficialmente por razões sanitárias. A suspeita na UE é que a posição russa seja uma resposta do Kremlin às desavenças políticas com Varsóvia.
Quase escondidas pelas muitas divergências, surgiram declarações de que algum progresso fora obtido em temas sem controvérsia.
O balanço geral, contudo, foi de pouco avanço em temas centrais, como o tratado de energia que a UE busca firmar com a Rússia para evitar sustos no abastecimento -um quarto do gás e petróleo consumido no continente é russo.


Com agências internacionais


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