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Cúpula UE-Rússia expõe divergências e acaba sem acordo
Desacordo nos principais temas, como energia, direitos humanos e comércio, deixa encontro sem declaração final
Detenção de opositores que iriam participar de protesto contra o Kremlin incomoda chanceler alemã; presidente russo relativiza democracia
DA REDAÇÃO
Em meio ao desconforto causado pela detenção de opositores que tentavam chegar a um
protesto contra o Kremlin, a
reunião de cúpula Rússia-União Européia teve ontem um
desfecho amargo, expondo antigas e novas divergências.
Em mais um sinal de que as
relações entre a Rússia e a UE
atingiram o ponto mais baixo
desde o fim da Guerra Fria, como diagnosticou no mês passado o comissário europeu de comércio, Peter Mandelson, a cúpula realizada ontem no resort
russo de Volzhsky Utyos, a cerca de 1.000 km de Moscou, não
produziu nem sequer uma declaração final conjunta.
Além das diferenças em temas como segurança energética, defesa e comércio, um incidente envolvendo líderes opositores ressaltou um outro ponto de atrito freqüente entre
Moscou e o Ocidente: o desrespeito do governo russo aos direitos humanos e à democracia.
Cerca de 20 pessoas foram
impedidas de embarcar em um
aeroporto de Moscou rumo a
Samara, cidade próxima ao resort onde acontecia a cúpula,
para participar de um protesto
contra o governo russo. Entre
eles estavam líderes da oposição, como o ex-campeão mundial de xadrez Garry Kasparov.
Ordem superior
"Quando tentei me registrar
para o vôo, funcionários do aeroporto me disseram que não
conseguiam emitir minha passagem no sistema de computador", disse Kasparov, sugerindo que o Kremlin estava por
trás da proibição. "É óbvio que
a ordem partiu de cima."
A chanceler alemã, Angela
Merkel, que exerce a Presidência rotativa da UE, usou suas
primeira palavras na entrevista
coletiva posterior ao encontro
com o presidente russo, Vladimir Putin, para manifestar
preocupação com a ação.
"Todos aqueles que queiram
ir protestar em Samara deveriam poder ir", disse ela. "Posso
entender que sejam presas pessoas que atirem pedras ou
ameaçem o direito do Estado
de manter a ordem. Mas é muito diferente deter pessoas a caminho de uma demonstração."
O presidente russo reagiu
com críticas à repressão que,
segundo ele, a minoria russa está sofrendo na Estônia e na Letônia, países bálticos que faziam parte da antiga União Soviética e hoje são mebros da
União Européia.
"Nós acreditamos que isso é
inaceitável e indigno da Europa", disse Putin. A remoção na
Estônia de um monumento ao
Exército Vermelho, no mês
passado, causou tumultos que
acabaram com a morte de um
cidadão de origem russa.
Putin rebateu as cobranças
européias à falta de liberdade
na Rússia. "O que é democracia
pura?", questionou. "É uma
questão de...querer ver o copo
meio cheio ou meio vazio".
Para surpresa de poucos, a
cúpula também não foi capaz
de desbloquear o caminho para
as negociações em torno de um
acordo de cooperação.
As conversações estão paradas por um veto da Polônia, que
protesta contra a proibição russa à importação de sua carne
-oficialmente por razões sanitárias. A suspeita na UE é que a
posição russa seja uma resposta do Kremlin às desavenças
políticas com Varsóvia.
Quase escondidas pelas muitas divergências, surgiram declarações de que algum progresso fora obtido em temas
sem controvérsia.
O balanço geral, contudo, foi
de pouco avanço em temas centrais, como o tratado de energia
que a UE busca firmar com a
Rússia para evitar sustos no
abastecimento -um quarto do
gás e petróleo consumido no
continente é russo.
Com agências internacionais
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