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Perfil
Em luto, autor se tornou símbolo da oposição no país
DO ENVIADO ESPECIAL A JERUSALÉM
No dia 10 de agosto de 2006,
os três principais escritores de
Israel convocaram uma entrevista para pedir a seu governo
que aceitasse um cessar-fogo
na guerra contra o Hizbollah.
Embora pacifistas atuantes,
Amós Oz, David Grossman e A.
B. Yehoshua apoiaram desde o
início a retaliação do Exército
ao grupo xiita, que havia matado três soldados e seqüestrado
outros dois em um ataque no
lado israelense da fronteira, 30
dias antes. Mas achavam que os
ataques maciços de Israel haviam ido longe demais.
Grossman, 54, foi um dos
mais eloqüentes. Mas não revelou a dimensão pessoal de seu
envolvimento com a guerra:
seu filho do meio, Uri, 20, comandante de uma unidade de
tanques, estava combatendo no
Líbano. O governo do premiê
Ehud Olmert não atendeu ao
apelo. Três dias depois, às
2h40, oficiais israelenses bateram na porta da casa de Grossman, em Jerusalém: Uri havia
sido morto. No dia seguinte, o
cessar-fogo entrou em vigor,
pondo fim à guerra.
O luto de Grossman, sua militância política e o espanto que
abateu Israel após a guerra
transformaram o escritor em
um símbolo da oposição a Olmert. Três meses após o fim dos
combates, Grossman compareceu à cerimônia oficial que
marcou os 11 anos do assassinato do premiê Yitzhak Rabin.
Fez um dolorido discurso sobre
os rumos do país e se recusou a
apertar a mão de Olmert.
O escritor rejeita a afirmação
do premiê de que suas críticas
políticas são influenciadas pela
dor pessoal. "Não comecei a ter
essas opiniões em agosto de
2006", disse.
Autor de premiadas obras de
ficção e incisivos textos políticos, Grossman teve três livros
lançados no Brasil. Entrou no
primeiro time de escritores israelenses com uma literatura
permeada pelos ecos do Holocausto, que trata com sensibilidade de temas existenciais.
Em seu novo livro ("Mulher
foge da notícia", em hebraico)
ele põe pela primeira vez o conflito político como pano de fundo de uma narrativa de ficção.
Para escrevê-lo, Grossman caminhou 500 km do norte ao
centro de Israel, parte do percurso que Ora, a protagonista,
percorre para fugir da má notícia sobre o filho que serve no
Exército. Apesar da presença
permanente da morte, a palavra "luto" não aparece uma única vez na obra. "O livro não é sobre a morte. É sobre a totalidade da vida", diz.
(MN)
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