São Paulo, segunda-feira, 19 de maio de 2008

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Em luto, autor se tornou símbolo da oposição no país

DO ENVIADO ESPECIAL A JERUSALÉM

No dia 10 de agosto de 2006, os três principais escritores de Israel convocaram uma entrevista para pedir a seu governo que aceitasse um cessar-fogo na guerra contra o Hizbollah. Embora pacifistas atuantes, Amós Oz, David Grossman e A. B. Yehoshua apoiaram desde o início a retaliação do Exército ao grupo xiita, que havia matado três soldados e seqüestrado outros dois em um ataque no lado israelense da fronteira, 30 dias antes. Mas achavam que os ataques maciços de Israel haviam ido longe demais.
Grossman, 54, foi um dos mais eloqüentes. Mas não revelou a dimensão pessoal de seu envolvimento com a guerra: seu filho do meio, Uri, 20, comandante de uma unidade de tanques, estava combatendo no Líbano. O governo do premiê Ehud Olmert não atendeu ao apelo. Três dias depois, às 2h40, oficiais israelenses bateram na porta da casa de Grossman, em Jerusalém: Uri havia sido morto. No dia seguinte, o cessar-fogo entrou em vigor, pondo fim à guerra.
O luto de Grossman, sua militância política e o espanto que abateu Israel após a guerra transformaram o escritor em um símbolo da oposição a Olmert. Três meses após o fim dos combates, Grossman compareceu à cerimônia oficial que marcou os 11 anos do assassinato do premiê Yitzhak Rabin. Fez um dolorido discurso sobre os rumos do país e se recusou a apertar a mão de Olmert.
O escritor rejeita a afirmação do premiê de que suas críticas políticas são influenciadas pela dor pessoal. "Não comecei a ter essas opiniões em agosto de 2006", disse.
Autor de premiadas obras de ficção e incisivos textos políticos, Grossman teve três livros lançados no Brasil. Entrou no primeiro time de escritores israelenses com uma literatura permeada pelos ecos do Holocausto, que trata com sensibilidade de temas existenciais.
Em seu novo livro ("Mulher foge da notícia", em hebraico) ele põe pela primeira vez o conflito político como pano de fundo de uma narrativa de ficção. Para escrevê-lo, Grossman caminhou 500 km do norte ao centro de Israel, parte do percurso que Ora, a protagonista, percorre para fugir da má notícia sobre o filho que serve no Exército. Apesar da presença permanente da morte, a palavra "luto" não aparece uma única vez na obra. "O livro não é sobre a morte. É sobre a totalidade da vida", diz. (MN)


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