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análise
Reunião é início de "confronto de vontades"
DONALD MCINTYRE
DO "INDEPENDENT"
Ainda durante as primárias presidenciais americanas, Barack Obama declarou
que ser pró-Israel não significava que ele endossaria todas as ideias do maior partido direitista do país, o Likud.
De lá para cá, o líder do Likud, Binyamin Netanyahu,
se tornou premiê israelense,
e isso bastaria para reforçar o
interesse no encontro dos
dois como chefes de governo.
O que ninguém esperava
era que o encontro durasse
mais de três horas. É seguro
apostar que não tenham dedicado todo esse tempo à troca de amabilidades.
Não há como disfarçar as
potenciais diferenças entre
os dois líderes. Elas incluem
o Irã e seus vínculos com a
questão palestina.
Netanyahu acredita que o
plano americano para um
diálogo com Teerã pode retardar fatalmente a aplicação
da pressão necessária a impedir que os iranianos adquiram armas nucleares. Obama se preocupa com a possibilidade de que Israel lance
um ataque unilateral contra
o Irã e por isso enviou Leon
Panetta, diretor da CIA, a Israel, no mês passado, para
alertar Netanyahu contra a
ideia de "surpreender" os Estados Unidos.
Netanyahu demonstra ceticismo quanto à possibilidade de um "grande entendimento" sob o qual ele avançaria em direção a um acordo
com os palestinos em troca
de uma aliança que incluiria
países árabes contra as supostas ambições nucleares
do Irã. Mas Obama chegou
perto de endossar essa ideia
ontem, ao apontar que a paz
com os palestinos reduziria a
ameaça do Hizbollah e do
Hamas, ambos apoiados pelo
Irã, contra Israel. Netanyahu, que até ontem indicava
firmemente que a questão do
Irã deveria ser resolvida primeiro, não foi além de dizer
que as duas coisas poderiam
ser resolvidas ao mesmo
tempo.
Isso posto, o caminho a
percorrer é muito longo. A
insistência de Netanyahu de
que os palestinos primeiro
reconheçam Israel como Estado judaico será vista por
muitos em Washington como tática retardadora.
A seriedade com que Obama se dedicará a promover a
paz entre israelenses e palestinos, um objetivo que nenhum de seus predecessores
conseguiu realizar em 40
anos, pode se tornar mais
aparente no Cairo, em 4 de
junho. De qualquer forma, já
existe aquilo que Zalman
Shoval, assessor de Netanyahu, definiu como "campo minado incontornável", os assentamentos israelenses na
Cisjordânia ocupada. Os Estados Unidos querem um
congelamento completo. Israel não vê nada de errado
em continuar construindo
na Cisjordânia e na parte
oriental de Jerusalém.
Ontem, Netanyahu evitou
uma vez usar as palavras "Estado palestino", declarando,
de modo pouco convincente,
que caso as negociações fossem substanciais, "a terminologia se resolverá sem ajuda". Ontem foi o início do
processo; se presumirmos
que Obama é tão determinado quanto parece, um confronto de vontades certamente nos aguarda.
Tradução de PAULO MIGLIACCI
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