São Paulo, quarta-feira, 19 de maio de 2010

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Potências selam acordo sobre novas sanções ao Irã

Com aval russo e chinês, EUA apresentam a Conselho de Segurança texto de resolução

Ofensiva diplomática, um dia após anúncio de acordo para envio de urânio iraniano à Turquia, frustra Brasil, que se retira de discussão na ONU


Michael Reynolds/Efe
A secretária de Estado americana, Hillary Clinton, em pronunciamento no Senado dos EUA, ontem

CRISTINA FIBE
DE NOVA YORK

Um dia após Brasil, Turquia e Irã selarem um acordo para destravar o impasse nuclear envolvendo o país persa, os EUA apresentaram a sua proposta para impor novas sanções contra Teerã, com o endosso dos membros do P5+1 -França, Reino Unido, Rússia, China e a Alemanha.
Em reunião de quase duas horas ontem, os países concordaram em apresentar ao Conselho de Segurança da ONU um texto que impõe medidas duras ao Irã, caso o país não cumpra as exigências da AIEA (agência atômica da ONU).
A embaixadora brasileira nas Nações Unidas, Maria Luiza Ribeiro Viotti, deixou o encontro após cerca de 40 minutos para dizer a jornalistas brasileiros que o país "não vai se engajar na discussão nesse momento".
Recusando-se a repetir as suas colocações em inglês -para jornalistas estrangeiros-, Viotti afirmou que "há uma nova situação, o acordo [apresentado ontem], e o momento é de diplomacia".
"O Brasil tem condições de continuar as negociações. Precisamos da oportunidade para o acordo firmado em Teerã produzir resultados", disse a embaixadora, para quem já existe o "instrumento de negociação" para buscar uma "solução pacífica".
Mais cedo, a secretária de Estado americana, Hillary Clinton, em sessão na Comissão de Relações Exteriores do Senado, comemorou o apoio de Rússia e China, os membros permanentes do Conselho de Segurança (com direito a veto) mais relutantes em recorrer às sanções.
"Não acreditamos que tenha sido uma coincidência que o Irã tenha aceitado o acordo no momento em que nós nos preparávamos para progredir em Nova York [sede da ONU]", afirmou.
No fim da tarde, em entrevista coletiva após o encontro, Susan Rice, embaixadora dos EUA na ONU, afirmou que "o Irã continua a enriquecer urânio a 20%" e a "violar as suas obrigações".

Medidas
Apesar de dizer que "a porta ainda está aberta" para uma negociação diplomática, Rice detalhou algumas das sanções previstas no texto.
A resolução prevê medidas para "ajudar a bloquear o uso do sistema financeiro internacional, particularmente os bancos, para a proliferação e atividades nucleares".
O documento também aumenta as restrições do Irã a armas convencionais, proibindo outros países de vender aos iranianos oito categorias de armas pesadas, como veículos blindados e aviões de combate, helicópteros de ataque e mísseis.
O Irã não poderá exercer atividades relacionadas a mísseis balísticos capazes de carregar armas nucleares, e os outros países ficam impedidos de prover qualquer tecnologia relacionada a esses mísseis.
A proposta de resolução redigida pelos EUA foi submetida ontem mesmo aos dez países que são membros rotativos do conselho (sem direito a veto), dentre eles o Brasil e a Turquia.
A expectativa é que a discussão sobre os termos da resolução leve semanas antes de ser colocada em votação no órgão.
Chineses e russos foram os responsáveis por bloquear qualquer tipo de sanção que impedisse a saída de petróleo dos portos iranianos ou a entrada de gasolina no país.
Para a Rússia, a resolução tem uma "linguagem aceitável, focada na não proliferação". O embaixador do país na ONU, Vitaly Churkin, enfatizou tratar-se de uma iniciativa patrocinada pelos EUA. "Não foi nossa decisão."
Churkin ressaltou que o texto não visa "criar problemas econômicos para o Irã nem causar estrago humanitário". "Não é o fim do mundo", afirmou o russo.
Sobre o acordo anunciado anteontem, o russo disse que o seu país "aprecia a iniciativa de Brasil e Turquia e está ansioso para ver a carta que o Irã enviará à AIEA. Expressamos o nosso apoio aos dois países".


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