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Para Amorim, EUA se precipitam ao insistir em sanções após trato
Ministro diz que não compreende ceticismo internacional
e que não houve tempo para potências analisarem acordo
Chanceler afirma que enviará
carta escrita em parceria com
Turquia aos membros do
Conselho de Segurança para
defender pacto Brasil-Irã
SOFIA FERNANDES
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
O chanceler Celso Amorim
afirmou ontem que não compreende o ceticismo da comunidade internacional e, principalmente, do governo americano, em relação ao acordo nuclear firmado entre Brasil, Turquia e Irã.
Amorim irá enviar uma carta, redigida a quatro mãos com
o governo turco aos membros
do Conselho de Segurança das
Nações Unidas, defendendo o
acordo.
Na mensagem, os dois países
irão justificar que todos os pontos considerados essenciais foram acatados pelo Irã no acordo firmado anteontem, nos
moldes de tentativas anteriores
de negociações.
"Não estamos irritados com
o ceticismo dos Estados Unidos. O acordo é o acordo que
eles [os países do Conselho de
Segurança mais Alemanha]
propuseram. As dificuldades
eram sempre essas. Todas as
dificuldades foram resolvidas",
disse o chanceler ontem.
Segundo Amorim, são três os
requisitos conquistados pelo
acordo que atestam a sua validade: a quantidade da remessa
de urânio foi definida; o Irã não
exigiu o recebimento prévio ou
simultâneo do urânio enriquecido; e a comunicação oficial à
AIEA (Agência Internacional
de Energia Atômica) dos compromissos assumidos será feita
em prazo curto de sete dias.
"É a primeira vez que o Irã
aceita, por escrito, uma proposta, sem condicionantes."
O acordo firmado determina
que o Irã envie 1.200 quilos de
seu urânio enriquecido a 3,5% à
Turquia em troca de 120 quilos
de urânio enriquecido a 20% na
Rússia ou França. A substância
enriquecida seria devolvida ao
Irã no prazo de um ano.
"Todos esses pontos aprovados foram considerados importantes pelos países que estão
desenvolvendo a resolução",
disse Amorim em entrevista no
Itamaraty, logo após chegar de
viagem de Madri.
O ministro se mostrou receoso, contudo, de o Irã ficar "melindrado" com a resolução formulada pelos EUA.
Para Amorim, o pacote de
sanções anunciado pelos EUA
foi concebido antes da viagem
de Lula a Teerã, e os países que
embarcaram na resolução não
levaram em conta o acordo encabeçado pelo Brasil.
"Não é possível que todas as
pessoas tenham analisado o
acordo", afirmou. "Não colocaram na balança as coisas que
Lula falou", emendou.
Amorim afirmou que não defende que o Irã volte a enriquecer urânio, mas que isso é um
problema soberano do país.
"Não tenho razão para acreditar que tenha motivos militares
o programa iraniano", disse. O
chanceler defendeu o país, afirmando que o Irã nunca questionou ou negou a presença de
inspetores da AIEA.
"A maior garantia de que não
está havendo desvio para atividades militares é a presença
dos inspetores. Isso está garantido implicitamente", afirmou.
No final da coletiva, Amorim
disse que o posicionamento do
governo brasileiro não é de defesa do Irã, mas de defesa da ordem internacional.
"É preciso tirar da cabeça que
estamos defendendo o Irã. Nós
queremos a justiça internacional, a paz internacional e a norma internacional, e não decisões tomadas sem comprovação que podem trazer danos às
populações", disse.
Longo caminho
Na manhã de ontem, o embaixador britânico no Brasil,
Alan Charlton, afirmou que
ainda há um "longo caminho"
nas negociações com o Irã. Para
o diplomata, a atuação do Brasil
como mediador na questão iraniana é bem-vinda, mas há
muitas questões descobertas,
como a possibilidade de o Irã
continuar a enriquecer urânio.
"Acho que seria muito bom ter
mais uma reunião entre Irã e o
Grupo dos Seis, para falar mais
sobre esses pontos", disse.
Segundo Charlton, o novo
primeiro-ministro britânico,
David Cameron, vê com bons
olhos a atuação internacional
do Brasil e deve sustentar a defesa de que o país tenha um assento permanente no Conselho
de Segurança da ONU.
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