São Paulo, quarta-feira, 19 de maio de 2010

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Para Amorim, EUA se precipitam ao insistir em sanções após trato

Ministro diz que não compreende ceticismo internacional e que não houve tempo para potências analisarem acordo

Chanceler afirma que enviará carta escrita em parceria com Turquia aos membros do Conselho de Segurança para defender pacto Brasil-Irã


SOFIA FERNANDES
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O chanceler Celso Amorim afirmou ontem que não compreende o ceticismo da comunidade internacional e, principalmente, do governo americano, em relação ao acordo nuclear firmado entre Brasil, Turquia e Irã.
Amorim irá enviar uma carta, redigida a quatro mãos com o governo turco aos membros do Conselho de Segurança das Nações Unidas, defendendo o acordo.
Na mensagem, os dois países irão justificar que todos os pontos considerados essenciais foram acatados pelo Irã no acordo firmado anteontem, nos moldes de tentativas anteriores de negociações.
"Não estamos irritados com o ceticismo dos Estados Unidos. O acordo é o acordo que eles [os países do Conselho de Segurança mais Alemanha] propuseram. As dificuldades eram sempre essas. Todas as dificuldades foram resolvidas", disse o chanceler ontem.
Segundo Amorim, são três os requisitos conquistados pelo acordo que atestam a sua validade: a quantidade da remessa de urânio foi definida; o Irã não exigiu o recebimento prévio ou simultâneo do urânio enriquecido; e a comunicação oficial à AIEA (Agência Internacional de Energia Atômica) dos compromissos assumidos será feita em prazo curto de sete dias.
"É a primeira vez que o Irã aceita, por escrito, uma proposta, sem condicionantes."
O acordo firmado determina que o Irã envie 1.200 quilos de seu urânio enriquecido a 3,5% à Turquia em troca de 120 quilos de urânio enriquecido a 20% na Rússia ou França. A substância enriquecida seria devolvida ao Irã no prazo de um ano.
"Todos esses pontos aprovados foram considerados importantes pelos países que estão desenvolvendo a resolução", disse Amorim em entrevista no Itamaraty, logo após chegar de viagem de Madri.
O ministro se mostrou receoso, contudo, de o Irã ficar "melindrado" com a resolução formulada pelos EUA.
Para Amorim, o pacote de sanções anunciado pelos EUA foi concebido antes da viagem de Lula a Teerã, e os países que embarcaram na resolução não levaram em conta o acordo encabeçado pelo Brasil.
"Não é possível que todas as pessoas tenham analisado o acordo", afirmou. "Não colocaram na balança as coisas que Lula falou", emendou.
Amorim afirmou que não defende que o Irã volte a enriquecer urânio, mas que isso é um problema soberano do país. "Não tenho razão para acreditar que tenha motivos militares o programa iraniano", disse. O chanceler defendeu o país, afirmando que o Irã nunca questionou ou negou a presença de inspetores da AIEA.
"A maior garantia de que não está havendo desvio para atividades militares é a presença dos inspetores. Isso está garantido implicitamente", afirmou.
No final da coletiva, Amorim disse que o posicionamento do governo brasileiro não é de defesa do Irã, mas de defesa da ordem internacional.
"É preciso tirar da cabeça que estamos defendendo o Irã. Nós queremos a justiça internacional, a paz internacional e a norma internacional, e não decisões tomadas sem comprovação que podem trazer danos às populações", disse.

Longo caminho
Na manhã de ontem, o embaixador britânico no Brasil, Alan Charlton, afirmou que ainda há um "longo caminho" nas negociações com o Irã. Para o diplomata, a atuação do Brasil como mediador na questão iraniana é bem-vinda, mas há muitas questões descobertas, como a possibilidade de o Irã continuar a enriquecer urânio. "Acho que seria muito bom ter mais uma reunião entre Irã e o Grupo dos Seis, para falar mais sobre esses pontos", disse.
Segundo Charlton, o novo primeiro-ministro britânico, David Cameron, vê com bons olhos a atuação internacional do Brasil e deve sustentar a defesa de que o país tenha um assento permanente no Conselho de Segurança da ONU.


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