São Paulo, quarta-feira, 19 de junho de 2002

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

ANÁLISE

Extremistas preenchem vácuo em territórios

PAULO DANIEL FARAH
DA REDAÇÃO

Grupos extremistas como o Hamas e o Jihad Islâmico vêm preenchendo o vácuo deixado pela Autoridade Nacional Palestina, cujas instituições foram em boa parte destruídas durante as operações militares israelenses em cidades e campos de refugiados palestinos.
"Movimentos islâmicos, sobretudo o Hamas [o Movimento da Resistência Islâmica, que reivindicou o atentado de ontem", estão preenchendo o vácuo deixado pela ANP por causa da ofensiva israelense nos territórios palestinos e, em menor escala, devido à perda de popularidade de Iasser Arafat", disse à Folha, por telefone, o cientista político Abu Hamad.
Apesar da Intifada (levante palestino), Arafat não conseguiu pôr fim à ocupação israelense -pelo contrário, ela é cada vez mais evidente-, o número de mortos e feridos cresce nos dois lados e as acusações contra a administração palestina, de corrupção e de violações aos direitos humanos, se multiplicam. Isso contribui para fragilizar a ANP e, ao mesmo tempo, ampliar o combate, por parte de grupos que enfocam o conflito sob o prisma religioso, à ocupação israelense e ao caráter secular da Organização para a Libertação da Palestina de Arafat.
Segundo a agência de notícias Associated Press, já houve ao menos 70 ataques suicidas desde o início da Intifada, em 2000. Analistas concordam que, quanto mais inoperantes os órgãos da ANP, mais fácil a ação dos que legitimam o uso da violência.
A radicalização de um lado fornece subsídios à do outro. "Enquanto Ariel Sharon endurece ainda mais sua oposição a um Estado palestino dentro dos territórios ocupados, a radicalização só tende a aumentar", argumenta Abu Hamad, em Ramallah.
Para ele, falta um horizonte político que reabilite a idéia de uma coexistência pacífica. O premiê Sharon descarta um retorno às fronteiras de 1967 e debates em torno dos assentamentos (que continuam em expansão), descrevendo cronogramas para um processo de paz como um "erro".
"A última operação [o atentado ontem" permite que Sharon prossiga seu plano de isolar Arafat e reforça a ambição de cercá-lo e exilá-lo", acredita Ali al Jarbaui, professor de política na Universidade Bir Zeit (Cisjordânia). A expulsão, no entanto, teria consequências trágicas, com um cenário de caos nas áreas palestinas.
Uma opção mais consensual seria a tão propalada realização de eleições e uma mediação internacional mais equilibrada.



Texto Anterior: Homem-bomba: Para família, suicida é "herói" e "mártir"
Próximo Texto: Guerra sem limites: Famílias disputam espólio de mortos no WTC
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.