São Paulo, segunda-feira, 19 de junho de 2006

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Acusações de fraude cercam eleição mexicana

Compra de votos e uso de verba pública em campanha estão entre as suspeitas

Segundo promotoria, foram recebidas ao menos 250 reclamações; o presidente Vicente Fox é acusado de interferir na campanha

DA ASSOCIATED PRESS

Felicia González afirmou que estava indecisa nas últimas eleições presidenciais até que funcionários de campanha bateram à sua porta e lhe ofereceram US$ 200 (cerca de R$ 450) em dinheiro e uma cesta com arroz, feijão, óleo de cozinha e açúcar. O valor é maior do que o que a faxineira de 35 anos ganha em um mês, o que fez com que, de repente, a sua decisão se tornasse mais fácil.
"Eu pensei "por que não? Quem mais vai me oferecer todo esse dinheiro?'", disse ela.
Esse é o tipo de fraude eleitoral de campanha que autoridades do governo prometeram eliminar do corrupto sistema político do México. Mas, a duas semanas da eleição presidencial, há quem diga que ainda há muita sujeira no sistema.
A promotora pública para crimes eleitorais, Maria de Los Angeles Fromow, disse ter recebido pelo menos 250 reclamações, incluindo uma acusação de desvio de fundos do governo para campanhas.
O presidente mexicano, Vincente Fox, foi amplamente criticado por interferir na campanha de seu partido, o PAN (Partido de Ação Nacional), que apresentou como candidato Felipe Calderón.
Ele atacou publicamente diversas vezes o candidato esquerdista de oposição Andrés Manuel López Obrador (do Partido da Revolução Democrática, PRD) e gastou verbas de impostos em publicidade promovendo o seu governo.
"O que Fox está fazendo pode não ser ilegal, mas certamente é imoral", disse o analista político Sergio Aguayo.
A pressão pela reforma se intensificou em 1988, quando o PRI (Partido Revolucionário Institucional), que governou o México por 71 anos, foi acusado de roubar a Presidência. A apuração eletrônica foi interrompida quando o candidato da oposição estava à frente e, quando o sistema voltou a funcionar, o PRI estava ganhando.
Desde então, leis foram criadas para afastar o governo do comando das eleições, tornando-as democráticas o suficiente para, em 2000, os eleitores rejeitarem o PRI e elegerem Fox. Mas González, a faxineira, disse que membros do PAN compraram o seu voto em 2000.
Neste ano, membros do PRD, de López Obrador, foram filmados recebendo malas de dinheiro. Eles negaram ter aceitado suborno, argumentando que os "presentes" eram contribuições de campanha.
O partido também foi acusado por oposicionistas de usar dinheiro público como isca de votos na Cidade do México, onde López Obrador era prefeito. Já correligionários de Fox foram acusados de trocar ajuda federal por apoio político.
O grupo independente Aliança Cívica afirmou que cerca de 4 milhões de pessoas receberam benefícios de governantes de três principais partidos e agora tornam-se alvo de pressão -votos que poderiam fazer a diferença em uma eleição de disputa apertada.
Segundo Dan Lund, presidente do instituto de pesquisa mexicano Mund Americas, algumas empresas estão pressionando seus trabalhadores a votarem nos candidatos por elas escolhidos. O presidente da Coppel (rede de móveis e vestuário), Enrique Coppel, escreveu uma carta para seus 30 mil empregados detalhando as razões pelas quais eles deveriam votar em Calderón.
Apesar de tantas manobras, porém, há indicativos de que os eleitores estão começando a resistir a pressões externas. Lund disse que uma pesquisa feita na eleição de 2000 mostrou que muitas pessoas aceitaram favores do PRI e expressaram seu apoio ao partido, mas depois votaram em Fox.


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