São Paulo, quinta-feira, 19 de junho de 2008

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Sindicatos param país em apoio a Cristina

Bancos são fechados, e aviões não decolam após central decretar folga por causa de ato da presidente argentina em Buenos Aires

Governo teve de intervir para que vôos voltassem ao normal; mandatária centrou fogo em líderes de locaute rural ao discursar ontem

ADRIANA KÜCHLER
DE BUENOS AIRES

Bancos foram fechados mais cedo, e aviões tiveram seus pousos e decolagens atrasados ou cancelados devido ao ato de apoio ao governo argentino, que reuniu milhares de pessoas ontem na praça de Maio, em Buenos Aires.
O ato foi uma manifestação de força do governo em meio à crise com o setor agropecuário, que completa cem dias hoje. O conflito foi desatado pelo aumento dos impostos sobre as exportações de grãos decretado em março para garantir a redistribuição dos lucros do setor ruralista. O aumento gerou locaute rural, bloqueios de estradas e desabastecimento.
Para garantir a presença dos trabalhadores no ato em que a presidente Cristina Kirchner discursou, a Central Geral de Trabalhadores (CGT), maior e mais importante central sindical da Argentina, decretou folga a partir das 12h de ontem, e bancários e pilotos de linhas aéreas decidiram aderir.
Os bancos fecharam as portas ao meio-dia, três horas antes do horário normal, mas já havia problemas no atendimento pela manhã. Os pilotos de aviões haviam decidido paralisar as atividades das 14h às 19h, e o secretário de Transportes, Ricardo Jaime, e o secretário-geral da CGT, Hugo Moyano, tiveram que intervir para que o governo, que reclama dos bloqueios nas estradas, não fosse responsabilizado pelo bloqueio do tráfego aéreo.
Os pilotos aceitaram cancelar a paralisação, mas, ainda assim, muitos vôos foram atrasados ou cancelados.
A CGT, liderada por Moyano, tem 2,5 milhões de afiliados e foi responsável, junto com a Central de Trabalhadores da Argentina, por reunir grande parte da multidão que presenciou o ato da praça de Maio.
Sob Néstor Kirchner (2003-2007), a CGT, única central sindical legal no país, ganhou protagonismo e passou a formar a principal base de apoio nos atos do governo. Recentemente, Moyano assumiu como vice-presidente do Partido Justicialista (peronista) na chapa encabeçada por Kirchner.

Alvos de Cristina
No discurso de ontem, a presidente voltou a atacar o setor agropecuário, um dia após ceder e enviar à apreciação do Congresso o projeto de lei que aumenta os impostos sobre a exportação de grãos.
Mas, desta vez, centrou fogo nos quatro dirigentes das entidades agrícolas que comandam o locaute. "Eu acreditava que estava em uma batalha pela distribuição de renda, mas, quando vi que quatro pessoas em quem ninguém votou se reuniam para deliberar quem podia ou não andar pelas estradas argentinas, me dei conta de que estava diante de uma situação diferente", afirmou Cristina, acrescentando que o protesto agropecuário "interfere na construção democrática".
Após o discurso, os ruralistas decidiram estender o locaute agropecuário, que terminaria ontem, até amanhã. O locaute, iniciado em março, além de causar desabastecimento de alimentos e combustíveis gera temores de desaceleração na economia argentina. O crescimento do PIB no primeiro trimestre no país, divulgado ontem, ficou em 8,4%, dentro da média no país nos últimos anos -mas o número só reflete os 20 primeiros dias do conflito com o campo, iniciado em 11 de março.


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