São Paulo, quinta-feira, 19 de junho de 2008

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ONU confirma aumento "chocante" de plantação de coca na Colômbia

Crescimento é revés para política antidrogas de Uribe, financiada pelos EUA

DA REDAÇÃO

O estudo anual do Escritório das Nações Unidas contra Drogas e Crime, divulgado ontem, confirmou o crescimento em 2007 da área de plantio de coca na Colômbia. Foram 99 mil ha para a produção da matéria-prima da cocaína, 27% a mais do que em 2006, salto considerado "surpreendente e chocante" pelo organismo.
As cifras da Colômbia, maior produtor mundial da droga, são um revés para a política de combate ao narcotráfico e à guerrilha do governo Álvaro Uribe, que recebeu desde 2001 ao menos US$ 5,5 bilhões dos EUA no Plano Colômbia.
Como a Folha publicou no domingo, o salto de 2007 acontece a despeito da destruição de 200 mil ha de coca na Colômbia, um recorde, e das recentes vitórias militares sobre as Farc (Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia).
O relatório anual da ONU abarca também Peru e Bolívia, onde o cultivo de coca avançou 4% e 5%, respectivamente. O crescimento global foi de 16%, total de 181,6 mil ha, a mais ampla área desde 2001.
Já a produção potencial de cocaína nos três países praticamente não variou, segundo a ONU, em parte porque as novas áreas plantadas na Colômbia têm menor produtividade. Foram 994 toneladas métricas, contra 984 do ano anterior.
O Escritório da Política de Controle de Drogas da Casa Branca, porém, estimou em fevereiro que 1.421 toneladas métricas de cocaína saíram da América Latina em 2007, o que representaria um salto de 40% sobre 2006. O organismo americano ainda não divulgou seu relatório anual.
"O crescimento na Colômbia é uma surpresa e um choque: uma surpresa porque vem quando o governo da Colômbia está tentando fortemente erradicar a coca; um choque pela magnitude do plantio", disse o diretor do escritório da ONU, Antonio Maria Costa, no texto de divulgação do estudo.
A ONU vinha elogiando os esforços colombianos ao afirmar que o plantio de coca estava, ao menos, estabilizado. Ontem, Costa disse ser preciso pôr a "má notícia em perspectiva".
Segundo o diretor, quase metade da cocaína e um terço da área de plantio da coca na Colômbia estão concentrados em 5% dos municípios, a maioria deles controlados pelas Farc. "Como no Afeganistão, onde a maior quantidade do ópio vem de Províncias com forte presença do Taleban, na Colômbia vem de áreas controladas por insurgentes", disse. "No futuro, com as Farc em desarranjo, talvez se torne mais fácil controlar o cultivo", estimou.
Mas, para analistas independentes, como Markus Schultze-Kraft, diretor para a América Latina do centro de estudos International Crisis Group, não há relação direta entre enfraquecimento das Farc e controle de drogas. A julgar pelo que aconteceu após a desmobilização da principal coalizão colombiana de grupos paramilitares, o negócio do pó se reacomodou em escala menor, de difícil detecção e erradicação.
O governo colombiano enfatizou que a queda de produtividade é resultado da política de destruição das grandes áreas de cultivo.


Com agências internacionais

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