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ANÁLISE
Repetição de 1979 é improvável
PATRICK COCKBURN
DO "INDEPENDENT"
À primeira vista, o que está
acontecendo em Teerã se assemelha muito aos eventos da
Revolução Islâmica de 30 anos
atrás. Em 2 de dezembro de
1978, 2 milhões de iranianos foram às ruas do centro de Teerã
exigir o fim do governo do xá e a
volta do aiatolá Khomeini. À
noite, as pessoas subiam aos telhados de suas casas para bradar "Deus é grande". De dia, comícios imensos celebravam como mártires os manifestantes
mortos pela repressão.
Os métodos de protesto hoje
em uso são muito semelhantes.
Os manifestantes que querem
tirar Mahmoud Ahmadinejad
do poder esperam que o tipo de
protesto que funcionou contra
o xá funcione agora. A questão é
que o atual governo iraniano
não tem a intenção de deixar
que a história se repita.
A Revolução Iraniana foi realizada por uma coalizão que
abarcava esquerda e direita,
com religiosos conservadores
em um dos extremos e marxistas revolucionários no outro.
O movimento dispunha de
um líder messiânico -o aiatolá
Khomeini-, que servia como
alternativa visível ao xá, líder
cuja legitimidade começara a
ser questionada ainda antes
que ele chegasse ao trono.
A Revolução Islâmica obteve
sucesso, em parte, porque apanhou seus inimigos de surpresa. Mas não foi um evento espontâneo. Khomeini e o clero
que o apoiava eram revolucionários dedicados. Haviam calculado como tomar o poder e
como mantê-lo. Ainda que lastimassem o nacionalismo, foi
seu compromisso de defender
o Irã contra intervenções estrangeiras que se provou o fator
crucial de seu sucesso.
Khomeini foi expulso do Irã
porque se opôs à decisão do xá
de conceder direitos extraterritoriais a funcionários do governo americano que serviam no
país. A atual liderança iraniana
não padece da maior fraqueza
do xá, que era visto como um títere de potências estrangeiras.
Apoio
Quando o xá deixou o Irã, em
16 de janeiro de 1979, ele não tinha praticamente nenhum
apoio. A situação atual é muito
diferente. Ahmadinejad foi reeleito com 62,6% dos votos na
semana passada. Os adversários dele alegam que as eleições
foram fraudadas, mas o fato é
que essa proporção dos votos é
praticamente idêntica aos
61,7% que ele conquistou na
eleição de 2005. Ahmadinejad
é um político popular -o xá
nunca foi. É altamente improvável que o presidente seja derrubado. E tampouco é provável
que venha a se render.
No final de 1978, os iranianos
eram capazes de perceber claramente que o xá não conseguiria se manter no posto. O núcleo de apoio com que ele contava nas Forças Armadas começara a oscilar. E, de qualquer
modo, Reza Pahlevi não desejava lutar. Na metade de janeiro,
ele e sua mulher deixaram o
Irã, para nunca mais retornar.
Em 1º de fevereiro de 1979,
Khomeini retornou ao seu país
e foi recebido por milhões de
iranianos; ele completou rapidamente a tomada de poder.
Marginalizou os aliados laicos e
começou a radicalizar a revolução. Porque recordava a maneira pela qual o xá havia conseguido retornar do exílio com
apoio americano, em 1953,
mandou deter ou fuzilar todos
os potenciais aliados do xá.
Os líderes do novo regime estavam determinados a manter
o poder. E pouco mudaram de
lá para cá. Os símbolos e a linguagem usados no Irã em 2009
se assemelham ao que aconteceu em 1978/9, mas as forças
políticas que estão em ação não
poderiam ser menos parecidas.
Os manifestantes então eram
muito mais fortes do que pareciam; já os atuais enfrentam situação altamente desfavorável.
Tradução de PAULO MIGLIACCI
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