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Analistas veem disputa entre clero e militares
DA SUCURSAL DO RIO
Para além da disputa sobre o
resultado real da eleição no Irã,
um número cada vez maior de
especialistas vê no país persa
uma batalha que opõe parte
significativa do clero às forças
da Guarda Revolucionária e dos
basiji, seu corpo de reservistas.
Sob a Presidência de Mahmoud Ahmadinejad, oficial da
guarda durante a Guerra Irã-Iraque (1980-1988), esses setores militares alcançaram influência econômica e política
inédita, dizem os analistas -a
maioria iranianos no exterior.
Questionado entre seus pares, o líder supremo Ali Khamenei apoiou a primeira eleição de Ahmadinejad, em 2005.
Mas seu próprio poder teria
sido minado pela aliança de
conveniência contra setores reformistas ou pragmáticos, representados pelos ex-presidentes Mohammad Khatami
(1997-2005) e Hashemi Rafsanjani (1989-1997).
"A Guarda Revolucionária
em geral aceitou a liderança do
clero (...). Mas enquanto [o aiatolá Ruhollah] Khomeini a
mantinha longe da política,
Khamenei a encorajou a se envolver em batalhas políticas",
escreveu Abbas Milani, diretor
de estudos iranianos da Universidade de Stanford (EUA),
na revista "The New Republic".
Agora, afirmou Milani, o líder
religioso está numa encruzilhada: "É difícil imaginar a guarda
suprimindo os atuais protestos
e depois simplesmente devolvendo o poder ao clero".
A guarda, com cerca de 120
mil integrantes, foi criada por
Khomeini para zelar pela segurança nacional. Os basiji dizem
ter 12,5 milhões de voluntários
(numa população de 66 milhões), mas apenas 90 mil andam armados e têm soldos.
A preocupação de parte do
clero com o poder paramilitar
já vinha crescendo. Em 2005, o
candidato reformista Mehdi
Karubi, que voltou a concorrer
neste ano, denunciou a guarda
por supostamente controlar
portos clandestinos. O dinheiro
de importações ilegais, acusou,
financiou a campanha eleitoral
de Ahmadinejad.
O presidente cultiva a fama
de incorruptível e humilde, em
contraste com a imagem pública de religiosos como Rafsanjani. Para ele, a Guarda Revolucionária seria o verdadeiro esteio do regime. Mesmo quem
defende que Ahmadinejad foi
reeleito legitimamente concorda em que seu poder ante o clero é superior ao de seus antecessores. "Esta eleição fez de
Ahmadinejad um presidente
poderoso, talvez o mais poderoso desde a revolução", disse
George Friedman, da Stratfor,
respeitada firma de consultoria
geopolítica.
(CLAUDIA ANTUNES)
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