São Paulo, sexta-feira, 19 de junho de 2009

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Analistas veem disputa entre clero e militares

DA SUCURSAL DO RIO

Para além da disputa sobre o resultado real da eleição no Irã, um número cada vez maior de especialistas vê no país persa uma batalha que opõe parte significativa do clero às forças da Guarda Revolucionária e dos basiji, seu corpo de reservistas.
Sob a Presidência de Mahmoud Ahmadinejad, oficial da guarda durante a Guerra Irã-Iraque (1980-1988), esses setores militares alcançaram influência econômica e política inédita, dizem os analistas -a maioria iranianos no exterior.
Questionado entre seus pares, o líder supremo Ali Khamenei apoiou a primeira eleição de Ahmadinejad, em 2005.
Mas seu próprio poder teria sido minado pela aliança de conveniência contra setores reformistas ou pragmáticos, representados pelos ex-presidentes Mohammad Khatami (1997-2005) e Hashemi Rafsanjani (1989-1997).
"A Guarda Revolucionária em geral aceitou a liderança do clero (...). Mas enquanto [o aiatolá Ruhollah] Khomeini a mantinha longe da política, Khamenei a encorajou a se envolver em batalhas políticas", escreveu Abbas Milani, diretor de estudos iranianos da Universidade de Stanford (EUA), na revista "The New Republic". Agora, afirmou Milani, o líder religioso está numa encruzilhada: "É difícil imaginar a guarda suprimindo os atuais protestos e depois simplesmente devolvendo o poder ao clero".
A guarda, com cerca de 120 mil integrantes, foi criada por Khomeini para zelar pela segurança nacional. Os basiji dizem ter 12,5 milhões de voluntários (numa população de 66 milhões), mas apenas 90 mil andam armados e têm soldos.
A preocupação de parte do clero com o poder paramilitar já vinha crescendo. Em 2005, o candidato reformista Mehdi Karubi, que voltou a concorrer neste ano, denunciou a guarda por supostamente controlar portos clandestinos. O dinheiro de importações ilegais, acusou, financiou a campanha eleitoral de Ahmadinejad.
O presidente cultiva a fama de incorruptível e humilde, em contraste com a imagem pública de religiosos como Rafsanjani. Para ele, a Guarda Revolucionária seria o verdadeiro esteio do regime. Mesmo quem defende que Ahmadinejad foi reeleito legitimamente concorda em que seu poder ante o clero é superior ao de seus antecessores. "Esta eleição fez de Ahmadinejad um presidente poderoso, talvez o mais poderoso desde a revolução", disse George Friedman, da Stratfor, respeitada firma de consultoria geopolítica. (CLAUDIA ANTUNES)


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