São Paulo, domingo, 19 de junho de 2011

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Mercado de roubados na Bolívia inquieta vizinhos

Carros avaliados em R$ 27 mil saem por R$ 5.600 perto da fronteira com o Brasil

Decisão de Evo Morales de legalizar a frota irregular leva Exército brasileiro a deflagrar operação na fronteira

RODRIGO VARGAS
ENVIADO ESPECIAL A PUERTO SUAREZ
(BOLÍVIA)


Produtos de roubo ou de golpes em seguradoras e moeda de troca preferencial do tráfico de drogas, os carros brasileiros fazem parte do cenário das pequenas e empobrecidas cidades bolivianas da fronteira com o Brasil.
Na região de Corumbá (MS), pontos clandestinos de venda estão por toda parte.
Em descampados à beira de rodovias ou em terrenos baldios nas cidades, carros de diferentes marcas, modelos e estado de conservação são expostos como numa feira a céu aberto. A maioria fabricada no Brasil.
Na localidade boliviana de Puerto Suarez, a menos de 20 km da fronteira, a Folha viu um Fiat Palio 2011, cujo modelo mais simples custa cerca de R$ 27 mil (segundo a tabela Fipe), sendo vendido a US$ 3.500 (cerca de R$ 5.600).
Uma Saveiro Cross 1.6 ano 2011 da Volkswagem, avaliada em R$ 39 mil, sai por US$ 8.500 (R$ 13,6 mil). E um Fiat Uno 2005 pode ser comprado por US$ 2.050 (R$ 3.200). No Brasil, custa R$ 15 mil.
"Aqui e na região você pode andar à vontade sem problemas. Só não pode passar para o lado de lá", diz um vendedor. O "lado de lá" é o Brasil, onde estão os verdadeiros proprietários de algumas das pechinchas.
Há duas semanas, o governo boliviano promulgou uma lei para regularizar os veículos, o que causou temor entre países vizinhos.
O presidente Evo Morales diz que a medida servirá para criar um registro nacional e pôr fim ao livre trânsito e comércio de carros irregulares.
Para a polícia brasileira, a medida servirá como impulso aos criminosos. "Sem incentivo, isso aqui já é uma balbúrdia. Imagine se o sujeito tiver certeza de que basta cruzar a fronteira que terá o carro legalizado?", diz Jeferson Rosa Dias, delegado da Polícia Civil de Corumbá.
O trânsito de veículos entre os dois países (à exceção dos táxis) é liberado no território dos municípios fronteiriços. Segundo o departamento municipal de trânsito, cerca de mil veículos cruzam diariamente a fronteira nos dois sentidos. O número triplica nos finais de semana.
No posto aduaneiro Esdras, ponto oficial de travessia, a Receita Federal fiscaliza apenas cargas, por amostragem. E a Polícia Federal mantém um posto somente para controle de imigração.
Na semana passada, o Exército deflagrou a Operação Atalaia, com mais de 500 homens distribuídos em pontos fixos da fronteira entre Corumbá e Porto Murtinho.


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