São Paulo, sábado, 19 de julho de 2008

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Campo pressionará por mais concessões

Produtores pedem medidas específicas para cada setor; analistas apontam necessidade de haver mais negociações

Rival parabeniza presidente por decisão; especialistas vêem janela para Cristina tentar reconstruir sua popularidade pré-conflito


DE BUENOS AIRES

Mais do que um fim na guerra do governo com o campo, que se estendeu por mais de quatro meses, ruralistas, membros da oposição e analistas vêem a anulação do aumento de impostos sobre as exportações de grãos, anunciado ontem, como um primeiro passo para o fim da crise.
"Acredito que termina o conflito e começa uma nova etapa de negociações entre o campo e o governo", afirmou o presidente da Sociedade Rural Argentina, Luciano Miguens, apontando para a necessidade de criar um plano agropecuário nacional, outra exigência dos ruralistas.
Já para o presidente da Federação Agrária Argentina, Eduardo Buzzi, "é uma alegria que o governo tenha cumprido com a mensagem que lhe mandou o Congresso", mas ainda é preciso criar políticas específicas para atender as necessidades dos pequenos produtores.
Uma das principais rivais de Cristina Kirchner e sua oponente nas eleições do ano passado, a líder da frente de oposição Coalizão Cívica, Elisa Carrió, foi das poucas a dar o conflito por encerrado. Mais do que isso, disse que o governo sai fortalecido com a medida. "Pela primeira vez a vejo deixando para trás a política de confrontação. Por isso, felicito a presidente pela decisão", afirmou.
Até mesmo o vice-presidente Julio Cobos, responsável pela derrota do governo no Senado ao desempatar a votação contra o governo, afirmou que a decisão da presidente "vai ser muito bem recebida", embora também tenha sugerido que é preciso trabalhar novas medidas para o setor agropecuário.

Política setorizada
Os ruralistas exigem políticas específicas para cada setor agrícola, como o de carne, o de leite, o de trigo e as economias regionais, além de uma instância de diálogo permanente com o governo para discutir os temas do campo.
Para o analista político Hugo Haime, a presidente fez o que se esperava dela diante de uma situação em que não tinha alternativa: "Se não anulasse a resolução, em menos de dez dias, as pessoas estariam nas ruas. Poderia ser o começo de uma crise maior". "Com a anulação da medida, ela conseguiu destravar o conflito, mas ainda há coisas para resolver, como as outras exigências agropecuárias. Esse é apenas o princípio da solução", diz o analista.
Segundo Haime, a situação agora se alivia, abrindo espaço para que o governo "desarme" o conflito e recupere as condições favoráveis que tinha antes da crise. "Essa é a melhor oportunidade para curar as feridas dentro do partido e com os aliados e para voltar a ser amiga da sociedade."
(ADRIANA KÜCHLER)



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