São Paulo, sábado, 19 de julho de 2008

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Após três décadas, Irã e EUA sinalizam distensão

Teerã diz aceitar escritório comercial americano e reabertura de linhas aéreas

Washington cala; abertura se acentua na véspera de reunião sobre programa nuclear de Teerã, quando EUA sentarão com iranianos


DA REDAÇÃO

Estados Unidos e Irã reforçaram ontem os indícios de que, após três décadas de hostilidades, são verdadeiros rumores de que caminhem rumo a uma cautelosa distensão destinada a apaziguar a retórica incendiária das últimas semanas sobre o programa nuclear de Teerã.
Na véspera de uma reunião em Genebra entre representantes da União Européia e do Irã que terá a inédita participação de um representante americano, o chanceler iraniano, Manouchehr Mottaki, confirmou rumores divulgados na imprensa sobre a possibilidade de abertura de um escritório de interesses comerciais dos EUA em Teerã e o restabelecimento de linhas aéreas entre os países.
"Acho que pode haver um acordo sobre esses dois assuntos", disse ontem o chanceler.
Os EUA cortaram as relações com o Irã depois que islâmicos radicais mantiveram 52 reféns durante 444 dias em sua embaixada em Teerã, em 1979. Desde então, a Casa Branca impôs um embargo sobre o Irã e pressionou a ONU a também adotar punições econômicas.
O governo americano não confirmou nem desmentiu as informações, mas ressaltou que "Washington busca maneiras de alcançar o povo iraniano".
Em tom parecido, a secretária de Estado, Condoleezza Rice, afirmou que os EUA "não têm nenhum inimigo permanente" e destacou o significado do envio a Genebra do número três da diplomacia americana, William Burns: "Trata-se de um forte sinal ao mundo todo de que estamos sendo muito sérios com essa diplomacia e que continuaremos sendo".

Ruptura
Oficialmente, Burns participará do encontro do chefe da diplomacia da União Européia, Javier Solana, com o negociador iraniano para temas nucleares, Said Jalili, apenas para "escutar, e não negociar" -a reunião também terá representantes de Reino Unido, França, Rússia e China e Alemanha.
Mas a inclusão de um alto diplomata em conversas diretas com o Irã é unanimemente vista como uma ruptura na política da Casa Branca em relação ao programa nuclear de Teerã.
Até então, o governo americano condicionava o diálogo com o Irã à suspensão do programa de enriquecimento de urânio -que Teerã diz visar à produção de eletricidade, mas que potências ocidentais temem ter como meta a bomba atômica. O aumento da temperatura retórica nas últimas semanas despertou temores de um ataque americano ou israelense contra o Irã.
Segundo analistas, a reaproximação entre EUA e Irã resulta de interesses comuns na pacificação do Iraque e do Afeganistão, onde o ressurgimento do Taleban preocupa tanto Washington como Teerã.
Mas ao mesmo tempo em que sinalizam maior abertura, EUA e Irã continuam com posições antagônicas em relação à maneira de resolver o impasse.
Reforçando a previsão de que o encontro de Genebra hoje não supere o simbolismo diplomático, Rice insistiu que a disposição da Casa Branca em sentar à mesa com os iranianos não significa que a posição americana em relação ao programa nuclear tenha esmorecido.
Já o Irã disse que continuará rejeitando a exigência americana de suspender seu programa de enriquecimento de urânio.


Com agências internacionais


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