São Paulo, terça-feira, 19 de julho de 2011

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No Chile, protestos obrigam Piñera a reformar gabinete

Oito dos 22 ministérios do governo foram trocadas; mudança visa reverter avaliação negativa da gestão

Crise que toma conta do país há dois meses une estudantes, mineiros, ambientalistas e outros grupos de pressão social

LUCAS FERRAZ
ENVIADO ESPECIAL A SANTIAGO

A onda de protestos que sacode o Chile há dois meses levou o presidente Sebástian Piñera a anunciar ontem uma ampla reforma ministerial. Oito dos 22 ministros do governo foram substituídos.
A troca de cadeiras é uma tentativa de Piñera de reverter a péssima avaliação de sua administração e enfrentar a pior crise política do país nos últimos anos.
Além de mudar o responsável pelo ministério da Educação, alvo das recentes manifestações, o presidente também trocou ministros de pastas como Economia, Secretaria-Geral, Justiça e Obras Públicas.
A reforma anunciada ontem foi a terceira desde que Piñera assumiu o cargo, em março do ano passado, mas foi a que teve, até agora, o maior número de mudanças.
"A sociedade chilena nos lembra todos os dias que ainda temos muitos desafios pela frente. Apesar de muitos não perceberem os impactos do que estamos fazendo, sabemos que estamos num bom caminho", disse o presidente ao anunciar as mudanças.
Ele afirmou ainda que colocará metas para seu novo ministério e reconheceu que o governo "está sendo testado por uma cidadania cada vez mais poderosa".
Há cerca de dois meses eclodiram manifestações estudantis no Chile por uma completa reforma no sistema de educação.
O movimento ganhou a adesão de outros setores insatisfeitos com o governo, sendo a estreia na América Latina de mobilizações nos moldes da Primavera Árabe, que balançou o Oriente Médio, e das mobilizações dos indignados com a crise econômica na Europa.
Ontem os estudantes continuaram com manifestações nas ruas, além de atividades permanentes nas 30 universidades e mais de 200 colégios tomados no Chile.
No início da noite de ontem, parte deles organizava um ato cultural na Plaza de Armas de Santiago. "Não adianta mudar o gabinete e não alterar a política do governo", reclamou Camila Vallejo, 23, presidente da Fech (Federação Estudantil da Universidade do Chile).
A crítica também partiu da Concertación, a coalizão de partidos de centro-esquerda que governou o Chile nos últimos 20 anos e que atualmente é oposição.
Apesar da mudança, a reforma ministerial não deve alterar um panorama que tornou-se uma das principais queixas dos chilenos, a falta de renovação na política.
Os novos ministros já faziam parte do governo ou integravam a base aliada no Congresso, sendo também velhos conhecidos na Alianza, a coalizão de direita que agora governa o país.


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