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Potências emergentes não são ameaça aos EUA
China e Rússia têm meta comum, mas são rivais
ROBERT KAGAN
Desde o final da Guerra Fria e
a emergência do mundo unipolar, muito se previu sobre o surgimento de um mundo multipolar, no qual os EUA deixariam de ser hegemônicos. Muitos já argumentaram sobre a
insustentabilidade teórica e
prática, para não falar do aspecto indesejável, de um mundo
em que existe apenas uma superpotência. A teoria realista
convencional presumiu que
outros países deveriam inevitavelmente se unir para contrabalançar a superpotência.
Apesar disso, a hegemonia
americana persiste. É verdade
que Rússia e China compartilham uma meta comum e abertamente declarada de frear a
hegemonia americana, mas não
foi feito nenhum esforço conjunto ou cooperativo para contrabalançar o poderio americano. China e Rússia não confiam
uma na outra e são rivais tradicionais. De qualquer maneira,
China e Rússia não podem contrabalançar os EUA sem pelo
menos alguma ajuda da Europa, do Japão, Índia ou pelo menos alguns dos outros países
democráticos avançados. E esses jogadores poderosos não
estão se unindo ao esforço.
A Guerra do Iraque tampouco vem tendo o efeito previsto
por muitos. Embora existam
teorias provisórias razoáveis
que explicam por que a posição
dos EUA deveria estar sendo
enfraquecida em decorrência
da oposição global à guerra e da
impopularidade do atual governo, houve poucas mudanças
nas políticas reais dos países,
exceto por sua relutância em
ajudar os EUA no Iraque.
O fato de o mundo não tentar
contrabalançar a superpotência é ainda mais notável porque
os EUA, apesar de suas intervenções difíceis no Iraque e no
Afeganistão, continuam a ampliar seu poder e seu alcance
militar. Hoje o orçamento militar dos EUA chega a aproximadamente US$ 500 bilhões por
ano, sem contar os gastos suplementares no Iraque e Afeganistão, que totalizam mais de
US$100 bilhões.
É claro que predomínio não é
o mesmo que onipotência. A
predominância americana nos
primeiros anos do pós-2ª Guerra não impediu a invasão norte-coreana da Coréia do Sul ou a
vitória comunista na China
-todos esses reveses estratégicos muitos maiores do que os
que os EUA já sofreram ou provavelmente ainda podem vir a
sofrer no Iraque e Afeganistão.
Perder uma guerra
Já foi sugerido que uma derrota no Iraque pode significar o
fim do predominância e da unipolaridade. Mas uma superpotência pode perder uma guerra
sem deixar de ser superpotência, se as condições internacionais continuarem a favorecer
seu predomínio. Enquanto os
EUA permanecerem fortes -e
enquanto os potenciais competidores inspirarem mais medo
que solidariedade-, a estrutura do sistema internacional deve permanecer como é hoje
descrita por estrategistas chineses: uma superpotência e
muitas grandes potências.
Isso é bom, e a política externa americana deve continuar a
ter como meta primária perpetuar essa configuração de poder internacional relativamente benigna. A ordem unipolar,
com os Estados Unidos como
potência predominante, é inevitavelmente repleta de falhas e
contradições. Ela inspira temores e invejas. Como todos os outros países, os EUA não são
imunes a erros. Comparado à
ordem internacional ideal kantiana, na qual todas as potências do mundo seriam potências iguais e amantes da paz que
se conduzem com prudência,
sabedoria e na estrita obediência às leis internacionais, o sistema unipolar é ao mesmo
tempo perigoso e injusto.
Comparado a qualquer alternativa plausível no mundo real,
porém, ele é relativamente estável e menos tendente a gerar
uma guerra de grandes proporções entre grandes potências.
Também é relativamente benévolo, desde uma perspectiva liberal, e mais tendente aos princípios do liberalismo econômico e político valorizados pelos
americanos e muitos outros.
A opção que existe não é entre um mundo dominado pelos
EUA e um mundo que se pareça
com a União Européia. A ordem internacional futura será
moldada por aqueles que têm o
poder de moldá-la. Seus líderes
não vão se reunir em Bruxelas,
mas em Pequim, Moscou e
Washington.
ROBERT KAGAN é autor de "Dangerous Nation" e editor colaborador da "Weekly Standard"
Tradução de CLARA ALLAIN
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