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Reeleição é essência da reforma de Chávez
Para analistas, estratégia do venezuelano para ficar no poder é eixo concreto de projeto "cosmético" de mudança na Carta
Dita socialista, proposta não exclui propriedade privada; governo poderia fazer alterações sem mexer na Carta, afirma professor
FABIANO MAISONNAVE
DE CARACAS
A proposta de reforma constitucional apresentada pelo
presidente Hugo Chávez na última quarta inclui várias novas
atribuições para o cargo que ele
ocupa, como administrar as reservas internacionais, reorganizar o território e nomear vários vice-presidentes. Mas alguns críticos do governo venezuelano têm dito que todas essas propostas juntas são filigrana perto da eventual aprovação
da reeleição indefinida.
"Evidentemente, haverá
mais poderes para o presidente, mas a verdadeira mudança,
grave, é a reeleição permanente. Todos sabemos que, na
América Latina, os presidentes
normalmente são reeleitos",
disse à Folha Gustavo Linares,
professor de direito administrativo da Universidade Central da Venezuela, a mais importante do país.
Em divergência com parte da
oposição e contrariando a retórica chavista, Linares disse que,
à exceção da reeleição indefinida, as propostas apresentadas
são "cosméticas": "Esta reforma foi particularmente tímida,
tem muito menos artigos do
que se pensava e poderia ter sido feita por lei, como a redução
da jornada de trabalho [de oito
para seis horas diárias]."
O professor diz que nem
mesmo propostas como alterações no direito de propriedade,
uma das mais criticadas pela
oposição, são significativas.
"A única mudança que poderia ter sido feita na Constituição era eliminar a propriedade
privada, mas isso não aconteceu. Todas as Constituições comunistas, como a cubana, apenas permitem a propriedade
sobre os bens de uso e consumo. Esta reforma diz expressamente que pode haver propriedade privada sobre os meios de
produção, e isso é a definição
mesma do capitalismo."
A tese de Linares é semelhante à do ex-candidato a presidente Teodoro Petkoff, outro
influente crítico de Chávez:
"Por que não se deixa de tecnicismos legislativos e se propõe
de uma vez um artigo de uma
só linha: "Hugo Chávez será
presidente até quando ele quiser'?", escreveu.
Segunda vez
Caso consiga aprovar a reforma, será a segunda vez que
Chávez aumenta suas chances
de permanecer no poder. Eleito
para um mandato de cinco anos
sem direito à reeleição, em
1998, ele promoveu uma Constituinte no ano seguinte que,
pela primeira vez, permitiu a
reeleição, além de ampliar o
mandato para seis anos.
Aprovada a Constituição,
Chávez convocou eleições e se
reelegeu em 2000, sob o novo
regime. Em 2006, conseguiu
seu terceiro mandato. Aos 53
anos, já é o segundo mandatário há mais tempo no poder na
América Latina, atrás apenas
do aliado cubano, Fidel Castro.
"O presidente Chávez nunca
irá embora. Em 2030, ele inventará que o país o requer",
prevê Linares, para quem Chávez já é o presidente mais poderoso entre os mandatários venezuelanos eleitos.
"Na Venezuela, os presidentes, mesmo muito poderosos,
como no primeiro mandato de
Carlos Andrés Pérez (1974-79),
não eram reeleitos. Agora, pode
haver uma reeleição indefinida
e um presidente poderoso poderá ficar permanentemente.
Estará rompida nossa principal
garantia de liberdade."
Em sua defesa, Chávez tem
dito que a reeleição contínua é
comum em "muitos países", como Reino Unido: "[A reeleição
contínua] é só uma possibilidade que depende de muitas variáveis: da vontade, da capacidade, dos fatores políticos e do
mais importante, a decisão do
povo soberano".
Para que a reforma seja aprovada, é preciso a aprovação em
três discussões pela Assembléia Nacional, dominada pelos
chavistas. Depois, será convocado um referendo nacional -o
governo quer que a consulta
ocorra em 9 de dezembro.
Oposição frágil
Menos seletiva do que Linares, a estratégia do principal
partido de oposição, Um Novo
Tempo (UNT), é atacar a proposta de Chávez como um todo.
"A reeleição indefinida afeta
o princípio da alternância; as
Forças Armadas viram um braço político do governo e o Banco Central se torna um caixa
dois do presidente. E há uma
série de outras propostas que
tendem a reforçar o centralismo", disse o presidente do
UNT, Omar Barboza.
Repetindo os dilemas das últimas eleições, a oposição não
tem ainda uma estratégia para
enfrentar a proposta governista. Segundo Barboza, os partidos antichavistas ainda discutem se agirão em bloco e se defenderão boicote ao referendo
popular sobre a reforma.
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