São Paulo, terça-feira, 19 de agosto de 2008

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Comandante do Exército paquistanês é fiel da balança

Em país dividido, parecer do general Ashfaq Pervaiz Kayani será decisivo

Sucessor de Musharraf à frente das Forças Armadas tem elos tribais; histórico de militares inclui tanto golpe como ajuda em transição


IGOR GIELOW
SECRETÁRIO DE REDAÇÃO
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA


Com a previsível queda de Pervez Musharraf, o Paquistão volta seus olhos para outro homem em uniforme: o general Ashfaq Pervaiz Kayani, o comandante do Exército que detém o verdadeiro poder num país em que a palavra democracia é muito usada, mas pouco vivenciada em sua turbulenta história.
Com o afastamento de Musharraf, as duas facções que controlam o poder político no Paquistão perdem o seu ponto de unidade. Era a oposição ao misto de general, ditador e presidente que estabelecia os laços entre gente tão díspar como o ex-premiê Nawaz Sharif e o "primeiro-viúvo" Asif Ali Zardari. OK, há as acusações generalizadas de corrupção contra ambos, mas digamos que isso ainda não pode ser base de compromisso político público.
A tendência é que as divergências de interesses de ambos, especialmente nas questões particulares das poderosas Províncias paquistanesas, se intensifiquem ao ponto de afastamento ou mesmo da ruptura.
É aí que entra Kayani. Aos 55 anos, esse membro de uma importante tribo da região de Rawalpindi tem fama de ser apolítico, embora tenha comandado durante três anos o mais importante serviço secreto do Paquistão, o ISI. Ou seja, entende da "realpolitik" paquistanesa como poucos.
Sua ascensão ao comando do Exército coincidiu com a progressiva queda de Musharraf, de quem era visto como braço direito. Assumiu o posto no fim do ano passado, no lugar do presidente, após seu malvisto golpe contra o Judiciário.
Para quem esperava uma marionete, mostrou-se independente: determinou que todos os oficiais graduados que ocupavam cargos na administração civil voltassem para o quartel e alertou Musharraf publicamente de que não deveria haver fraude no pleito parlamentar de fevereiro.
Aproximou-se assim dos novos detentores do poder político e fez valer sua promessa de recuperar a imagem do Exército, mas com um distanciamento saudável que o tornou, aos olhos dos EUA, talvez o único interlocutor confiável neste período de turbulência.
Por fim, mas de forma alguma menos importante, é Kayani quem controla de fato o acesso ao arsenal nuclear do Paquistão. O pavor do Ocidente é alguma das ogivas cair nas mãos dos extremistas que pululam pelo país, e por ora o risco parece estar domesticado.
Com tudo isso, Kayani é o "kingmaker" de plantão, o verdadeiro esteio para quem assumir o poder político. Historicamente, os militares já cumpriram esse papel no Paquistão em 1988, quando facilitaram a transição da ditadura do general Zia ul-Haq para o primeiro mandato de Benazir Bhutto. Mas é bom lembrar que eles também mudaram de idéia depois, como o próprio governo de Musharraf comprova.


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