São Paulo, terça-feira, 19 de agosto de 2008

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Venezuela decide expropriar fábricas de mexicana Cemex

Partes não concordaram em preço para estatização

FABIANO MAISONNAVE
DE CARACAS

O governo venezuelano anunciou que expropriaria na madrugada de hoje as instalações da multinacional de cimento mexicana Cemex no país devido à falta de acordo sobre o preço de venda. As outras empresas do setor que tiveram a nacionalização decretada em abril, a francesa Lafarge e a suíça Holcim, assinaram memorandos de entendimento.
"Nesta noite, vamos tomar as empresas de cimento da Venezuela", disse o presidente Hugo Chávez, em comício no Estado de Guárico. "Como ocorreu com a siderúrgica do Orinoco, como ocorreu na faixa petrolífera do Orinoco, como ocorreu na companhia multinacional Telefones de Venezuela [Cantv]. Tudo isso é um passo em direção ao socialismo."
Horas antes, o vice-presidente Ramón Carrizalez havia anunciado o fracasso das conversas com a multinacional mexicana. "Não foi possível chegar a um acordo na negociação com a Cemex. O passo seguinte é a desapropriação, como está estabelecido na lei", disse a jornalistas em Caracas, durante ato de assinatura com as outras duas empresas.
Em 19 de junho, o governo fixou 60 dias para que as empresas chegassem a um acordo para a venda do controle acionário, prazo vencido ontem. Até 31 de dezembro, as fábricas têm de ser transferidas ao Estado.
Segundo Carrizalez, a Cemex exige US$ 1,3 bilhão para vender seus ativos, valor considerado inaceitável. Sozinha, a empresa mexicana produz cerca de 50% do cimento consumido na Venezuela. Suas três fábricas têm produção anual de cerca de 4,6 milhões de toneladas. O mercado venezuelano representa 3% das vendas globais da Cemex, segundo o jornal mexicano "El Universal".
"Estamos adquirindo 89% das ações da Lafarge e 85% das ações da Holcim. Está começando a partir de hoje uma sociedade com essas duas empresas. Houve uma negociação amistosa", disse o vice.
Juntas, as três multinacionais têm cerca de 90% do mercado venezuelano -ou seja, o abastecimento agora ficará sob controle quase total do Estado.
Desde o ano passado, Chávez intensificou a nacionalização de vários setores da economia, incluindo empresas de telecomunicação, energia elétrica, petróleo, alimentos e até mesmo o teleférico de Caracas.
No mês passado, Chávez anunciou a nacionalização do Banco de Venezuela, o terceiro maior do país, controlado pelo grupo espanhol Santander.
Até o início da noite de ontem, a Cemex não havia comentado o anúncio de expropriação. O governo mexicano tampouco havia se pronunciado sobre o assunto.
Segundo levantamento publicado pelo economista Javier Santiso na revista da Cepal (Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe), a Cemex é a multinacional latino-americana não-financeira com mais presença no exterior. Na Venezuela, além das três fábricas de cimento, a Cemex possui ainda 29 fábricas de produção de concreto,12 centros de distribuição terrestre e quatro terminais marítimos.


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