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ANÁLISE
Os fatos são implacáveis: Santos vive lua de mel curta demais com o poder
CLÓVIS ROSSI
COLUNISTA DA FOLHA
Ninguém espera que, na
América Latina, se concedam a um governante que assume os cem dias de lua de
mel que uma lei não escrita
dá ao presidente dos EUA.
Mas também ninguém poderia esperar que a lua de mel
de Juan Manuel Santos, o novo presidente da Colômbia,
durasse apenas dez dias.
É verdade que não há sinais de que a opinião pública
rompeu a trégua. Os fatos é
que o fizeram. Primeiro, o
atentado a bomba que se supõe ter sido praticado pelas
Farc, dias depois da posse.
Depois, um segundo atentado -menos ruidoso, porque
em ponto remoto, não em Bogotá- atingiu o Oleoduto
Transandino e causou grave
problema ambiental pelo
derrame de petróleo nos rios
Sucio e Guamuez.
Por fim, a Corte Constitucional rejeitou o acordo pelo
qual a Colômbia cedeu aos
EUA o uso de bases militares.
Não custa lembrar que o
acordo é a joia da coroa na luta contra o narcotráfico e o
terrorismo, cujo êxito até
agora catapultou às nuvens o
prestígio do ex-presidente
Álvaro Uribe e também de
seu ministro da Defesa, justamente Juan Manuel Santos.
Com maioria de 83% das
cadeiras no Congresso, Santos em tese terá todas as facilidades para fazer aprovar no
Parlamento o acordo agora
rejeitado pelo Judiciário, não
pelo seu conteúdo propriamente dito mas justamente
por não ter sido submetido à
aprovação dos congressistas.
Ainda assim, a rejeição dará combustível a todos os governos da região que criticaram o acordo e exigiram que
ele fosse devidamente explicado à Unasul (União de Nações Sul-Americanas).
Afinal, a corte colombiana
deixou claro que o acordo
não era mera extensão do anterior, alegação que o governo Uribe usou não só internamente mas também para
seus pares regionais.
O que ajuda a diminuir o
dano, para o presidente recém-chegado, é o fato de que
o mais beligerante dos governantes sul-americanos, o venezuelano Hugo Chávez, foi
contido pelo acordo com
Santos, logo após a posse.
Mas Chávez é imprevisível
demais para confiar em que
possa realmente ficar quieto.
O outro problema que a rejeição do acordo causa está
na guerra contra as Farc, que
Santos acaba de reiterar ser
prioridade número 1: "No
momento o que há a fazer é
obter resultados [contra a
guerrilha] na frente militar".
Como diz Michael Shifter,
presidente do Inter-American Dialogue, "é razoável
concluir que o apoio [dos
EUA] no marco do Plano Colômbia foi, no mínimo, fator
importante para melhorar as
condições de segurança".
Se Santos achou, como ministro da Defesa, que o Plano
Colômbia demandava um
novo acordo que aprofundasse o apoio prestado pelos
EUA, é lógico concluir que
sua rejeição pela corte dificultará "obter resultados na
frente militar".
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