São Paulo, quinta-feira, 19 de agosto de 2010

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ANÁLISE

Os fatos são implacáveis: Santos vive lua de mel curta demais com o poder

CLÓVIS ROSSI
COLUNISTA DA FOLHA

Ninguém espera que, na América Latina, se concedam a um governante que assume os cem dias de lua de mel que uma lei não escrita dá ao presidente dos EUA. Mas também ninguém poderia esperar que a lua de mel de Juan Manuel Santos, o novo presidente da Colômbia, durasse apenas dez dias.
É verdade que não há sinais de que a opinião pública rompeu a trégua. Os fatos é que o fizeram. Primeiro, o atentado a bomba que se supõe ter sido praticado pelas Farc, dias depois da posse. Depois, um segundo atentado -menos ruidoso, porque em ponto remoto, não em Bogotá- atingiu o Oleoduto Transandino e causou grave problema ambiental pelo derrame de petróleo nos rios Sucio e Guamuez.
Por fim, a Corte Constitucional rejeitou o acordo pelo qual a Colômbia cedeu aos EUA o uso de bases militares.
Não custa lembrar que o acordo é a joia da coroa na luta contra o narcotráfico e o terrorismo, cujo êxito até agora catapultou às nuvens o prestígio do ex-presidente Álvaro Uribe e também de seu ministro da Defesa, justamente Juan Manuel Santos.
Com maioria de 83% das cadeiras no Congresso, Santos em tese terá todas as facilidades para fazer aprovar no Parlamento o acordo agora rejeitado pelo Judiciário, não pelo seu conteúdo propriamente dito mas justamente por não ter sido submetido à aprovação dos congressistas.
Ainda assim, a rejeição dará combustível a todos os governos da região que criticaram o acordo e exigiram que ele fosse devidamente explicado à Unasul (União de Nações Sul-Americanas).
Afinal, a corte colombiana deixou claro que o acordo não era mera extensão do anterior, alegação que o governo Uribe usou não só internamente mas também para seus pares regionais.
O que ajuda a diminuir o dano, para o presidente recém-chegado, é o fato de que o mais beligerante dos governantes sul-americanos, o venezuelano Hugo Chávez, foi contido pelo acordo com Santos, logo após a posse. Mas Chávez é imprevisível demais para confiar em que possa realmente ficar quieto.
O outro problema que a rejeição do acordo causa está na guerra contra as Farc, que Santos acaba de reiterar ser prioridade número 1: "No momento o que há a fazer é obter resultados [contra a guerrilha] na frente militar".
Como diz Michael Shifter, presidente do Inter-American Dialogue, "é razoável concluir que o apoio [dos EUA] no marco do Plano Colômbia foi, no mínimo, fator importante para melhorar as condições de segurança".
Se Santos achou, como ministro da Defesa, que o Plano Colômbia demandava um novo acordo que aprofundasse o apoio prestado pelos EUA, é lógico concluir que sua rejeição pela corte dificultará "obter resultados na frente militar".


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