São Paulo, quarta-feira, 19 de setembro de 2007

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Candidata opositora argentina promete prioridade ao Brasil

Elisa Carrió, desafiante de Cristina Kirchner, faz no entanto críticas indiretas a Lula e fala em restaurar relação com EUA

Carrió, que divide 2º lugar nas pesquisas à Presidência, critica Kirchner na economia e nos direitos humanos; primeira-dama é favorita

Daniel García/France Presse
Carrió, que disputa eleição de 28 de outubro, posa após entrevista


RODRIGO RÖTZSCH
DE BUENOS AIRES

A candidata da Coalizão Cívica à Presidência da Argentina, Elisa Carrió, afirmou ontem que em um eventual governo seu buscaria uma aliança estratégica com o Brasil como principal eixo de sua política externa. "Acreditamos na América do Sul. O Brasil e a Argentina têm uma missão enorme, de promover uma América do Sul republicana, democrática e onde haja distribuição de renda", declarou a candidata, de oposição ao governo de Néstor Kirchner.
Em entrevista a correspondentes estrangeiros no tradicional Cafe Tortoni, no centro de Buenos Aires, Carrió criticou a política externa de Kirchner e disse que em seu governo se afastará de Hugo Chávez e recomporá as relações com os EUA, independentemente do presidente americano -"Bush não é problema porque já está indo embora", afirmou.
Carrió disse ter certeza de que no dia 28 de outubro passará para o segundo turno, embora nas pesquisas divida o segundo lugar com o ex-ministro da Economia Roberto Lavagna. Os dois estão na casa dos 10%, distantes dos quase 50% da senadora e primeira-dama Cristina Kirchner.
"A Argentina processa as mudanças por meio da ruptura. É um país de [manifestações em] praças. Tomara que também seja de voto", declarou.

Lula e PT
Apesar de pregar boas relações com o Brasil, Carrió fez algumas críticas indiretas ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Quando um jornalista brasileiro afirmou que Carrió está ficando mais moderada e que isso lembrava o processo pelo qual Lula passou para chegar à Presidência, ela rebateu: "Temos diferenças claras. Nós nunca negociamos a Vice-Presidência. E mantemos a regra de proibição de financiamento por empresários", afirmou, em referência à aliança de Lula com o vice-presidente José Alencar e o PL em 2002.
O PT, porém, também mereceu referências elogiosas de Carrió e do candidato a vice em sua chapa, o senador socialista Ruben Giustiniani. "Temos um grande respeito pelo governo de Lula e uma histórica relação com o PT", disse Giustiniani. O presidente brasileiro deve receber Cristina Kirchner no dia 3 de outubro.
Carrió citou ainda o senador Eduardo Suplicy (PT), para dizer que se inspira em seu projeto de renda básica de cidadania ao propor um auxílio mensal para todas as crianças e idosos argentinos.

"Liberal cristã"
A entrevista de Carrió foi repleta de críticas ao governo Kirchner. Sobre a política de direitos humanos, afirmou: "Acreditamos firmemente nos julgamentos [dos repressores da ditadura militar], mas tem que haver uma recomposição das Forças Armadas não-cúmplices dos crimes contra a humanidade. A Argentina deve se arrepender de todas as formas de violência. Minha geração foi vítima, mas não heroína."
Carrió disse que é necessário reduzir a velocidade do crescimento do país, para que tenha uma expansão sustentada na ordem de 6%, e não "um crescimento artificial de 9%, que acaba em recessão".
Também prometeu eliminar os decretos de necessidade e urgência, nos quais o governo Kirchner é recordista, para "devolver ao Congresso a capacidade de legislar". Questionada sobre as dificuldades que isso lhe traria para governar, já que, se eleita, estaria longe de ter maioria no Legislativo, respondeu: "A futura governabilidade da Argentina só pode ser republicana, federal e plural".
Carrió evitou se definir ideologicamente. Embora acompanhada na chapa por um socialista, declarou: "Não penso em categorias ideológicas, o século 21 não tem categorias ideológicas. As ideologias são muros a um pensamento novo. Sou uma liberal cristã heterodoxa". Indagada sobre o que pensa da oportunidade de a Argentina pela primeira vez ter uma mulher eleita presidente, brincou: "Eu gosto. Eu gosto de mim".


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