São Paulo, sexta-feira, 19 de setembro de 2008

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Massacre em Pando evitou "mal maior", diz líder cívica

Presidente de Comitê Cívico afirma que camponeses mortos iam levar conflito a capital

Refugiada no Brasil, Ana Melena de Suzuki afirma que, caso isso ocorresse, teria havido "centenas de mortes" no departamento

Alexandre Lima/Folha Imagem
Ana Melena de Suzuki, presidente do Comitê Cívico de Pando

FABIANO MAISONNAVE
ENVIADO ESPECIAL A BRASILÉIA (AC)

Responsabilizada pelo governo Evo Morales pela violência na semana passada, a presidente do Comitê Cívico de Pando, Ana Melena de Suzuki, diz que os confrontos que deixaram ao menos 15 mortos foram um "mal menor". Ao impedir a passagem de camponeses governistas, diz ela, os oposicionistas evitaram "muitas centenas de mortes" em Cobija, a capital do departamento.
"O povo de Porvenir evitou uma tragédia maior em Cobija. Lamentavelmente, com a morte dessas pessoas. Mas se evitou que o conflito acontecesse na praça principal. Teria havido muitas centenas de mortes."
Segundo Suzuki, a decisão de cavar dois buracos na estrada para impedir a passagem de três caminhões de camponeses que se dirigiam de Puerto Rico a Filadélfia foi tomada pelo comitê, pelo governo do departamento e por um assessor jurídico depois que eles receberam um telefonema.
"Ele [o informante] nos disse tudo o que depois ocorreu: "Eles vêm armados. Eu sei porque o meu pai e o meu irmão estão armados em Filadélfia. Eles vão sair à meia-noite, e às 3h da madrugada vão tomar a praça de Cobija". A estratégia deles era chegar armados e fazer a guerra, a matança e obrigar o governador [Leopoldo Fernández, detido na terça feira] a assinar a sua renúncia", diz.
O primeiro confronto ocorreu na madrugada do dia 11, quando os camponeses conseguiram avançar e ultrapassar os dois buracos. Ali, um engenheiro oposicionista teria sido morto a tiros, mas os simpatizantes de Morales afirmam que ele perdeu a vida num acidente de automóvel.
Os camponeses avançaram até Porvenir, onde foram barrados por um cordão policial, que não conseguiu impedir que 15 deles fossem mortos a tiros. Outros 106 estão desaparecidos, segundo o governo nacional.
Suzuki, que estava em Porvenir, disse que o avanço e a notícia da morte do engenheiro provocaram pânico. "Eu te confesso, fui de casa em casa procurando armas. Ninguém tinha arma, todo mundo tinha medo. Eu dizia: "Armas, armas, estão nos matando. Quem tem uma arma?'".
Outra iniciativa do comitê cívico, diz Suzuki, foi buscar reforço policial e militar. "Nós trouxemos a polícia em cinco camionetes. E também trouxemos o padre. Às 11h, nós fomos falar com o comandante das Forças Armadas para que enviasse um batalhão dos militares. Implorei, chorei, disse para enviar um esquadrão."
Suzuki está refugiada em Brasiléia, no Acre, desde a segunda-feira. Na madrugada desse dia, militares explodiram o portão de sua casa, que ficou toda revirada. Avisada antes, já havia saído com o marido e os três filhos rumo ao Brasil.
Considerada a líder da "elite econômica" pelo governo Morales, Suzuki é dona de uma pequena farmácia em Cobija. A organização que preside reúne de fato a elite econômica do departamento, mas, como a economia local é débil, inclui na direção até o presidente do sindicato de mototaxistas.
Em Brasiléia, está numa pequena casa geminada de poucos móveis a cinco minutos do centro. Ontem, recebeu a reportagem da Folha de sandálias Havaianas e roupa surrada -havia acabado de fazer a faxina. Nascida em Pando, suas feições misturam traços brancos e indígenas.
Suzuki diz que não teme ser submetida a um julgamento, desde que seja independente. "Estou disposta a falar onde quer que seja. Esta é a minha versão, mas eu estava lá."


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