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Massacre em Pando evitou "mal maior", diz líder cívica
Presidente de Comitê Cívico afirma que camponeses mortos iam levar conflito a capital
Refugiada no Brasil, Ana Melena de Suzuki afirma que, caso isso ocorresse, teria havido "centenas de mortes" no departamento
Alexandre Lima/Folha Imagem
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Ana Melena de Suzuki, presidente do Comitê Cívico de Pando
FABIANO MAISONNAVE
ENVIADO ESPECIAL A BRASILÉIA (AC)
Responsabilizada pelo governo Evo Morales pela violência
na semana passada, a presidente do Comitê Cívico de Pando,
Ana Melena de Suzuki, diz que
os confrontos que deixaram ao
menos 15 mortos foram um
"mal menor". Ao impedir a passagem de camponeses governistas, diz ela, os oposicionistas
evitaram "muitas centenas de
mortes" em Cobija, a capital do
departamento.
"O povo de Porvenir evitou
uma tragédia maior em Cobija.
Lamentavelmente, com a morte dessas pessoas. Mas se evitou
que o conflito acontecesse na
praça principal. Teria havido
muitas centenas de mortes."
Segundo Suzuki, a decisão de
cavar dois buracos na estrada
para impedir a passagem de
três caminhões de camponeses
que se dirigiam de Puerto Rico
a Filadélfia foi tomada pelo comitê, pelo governo do departamento e por um assessor jurídico depois que eles receberam
um telefonema.
"Ele [o informante] nos disse
tudo o que depois ocorreu:
"Eles vêm armados. Eu sei porque o meu pai e o meu irmão estão armados em Filadélfia. Eles
vão sair à meia-noite, e às 3h da
madrugada vão tomar a praça
de Cobija". A estratégia deles
era chegar armados e fazer a
guerra, a matança e obrigar o
governador [Leopoldo Fernández, detido na terça feira] a assinar a sua renúncia", diz.
O primeiro confronto ocorreu na madrugada do dia 11,
quando os camponeses conseguiram avançar e ultrapassar os
dois buracos. Ali, um engenheiro oposicionista teria sido morto a tiros, mas os simpatizantes
de Morales afirmam que ele
perdeu a vida num acidente de
automóvel.
Os camponeses avançaram
até Porvenir, onde foram barrados por um cordão policial,
que não conseguiu impedir que
15 deles fossem mortos a tiros.
Outros 106 estão desaparecidos, segundo o governo nacional.
Suzuki, que estava em Porvenir, disse que o avanço e a notícia da morte do engenheiro
provocaram pânico. "Eu te confesso, fui de casa em casa procurando armas. Ninguém tinha
arma, todo mundo tinha medo.
Eu dizia: "Armas, armas, estão
nos matando. Quem tem uma
arma?'".
Outra iniciativa do comitê cívico, diz Suzuki, foi buscar reforço policial e militar. "Nós
trouxemos a polícia em cinco
camionetes. E também trouxemos o padre. Às 11h, nós fomos
falar com o comandante das
Forças Armadas para que enviasse um batalhão dos militares. Implorei, chorei, disse para
enviar um esquadrão."
Suzuki está refugiada em
Brasiléia, no Acre, desde a segunda-feira. Na madrugada
desse dia, militares explodiram
o portão de sua casa, que ficou
toda revirada. Avisada antes, já
havia saído com o marido e os
três filhos rumo ao Brasil.
Considerada a líder da "elite
econômica" pelo governo Morales, Suzuki é dona de uma pequena farmácia em Cobija. A
organização que preside reúne
de fato a elite econômica do departamento, mas, como a economia local é débil, inclui na direção até o presidente do sindicato de mototaxistas.
Em Brasiléia, está numa pequena casa geminada de poucos móveis a cinco minutos do
centro. Ontem, recebeu a reportagem da Folha de sandálias Havaianas e roupa surrada
-havia acabado de fazer a faxina. Nascida em Pando, suas feições misturam traços brancos
e indígenas.
Suzuki diz que não teme ser
submetida a um julgamento,
desde que seja independente.
"Estou disposta a falar onde
quer que seja. Esta é a minha
versão, mas eu estava lá."
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