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Morales insiste em referendos sobre Carta
Na abertura de diálogo com governadores, presidente recorre a pressão de movimentos sociais para dobrar oposição
Pré-acordo firmado entre
vice-presidente e opositores
previa adiamento das
consultas; cerco camponês
a Santa Cruz vira barganha
FLÁVIA MARREIRO
ENVIADA ESPECIAL A COCHABAMBA
O presidente da Bolívia, Evo
Morales, modificou o pré-acordo fechado com a oposição e
ofereceu ontem aos governadores trocar um consenso mínimo -que inclua abrir caminho
para a ratificação do novo texto
constitucional- pela realização plena da Expocruz, a maior
feira de negócios do país, que
começa hoje no rico e opositor
departamento de Santa Cruz.
A feira cruzenha, já afetada
pela onda de bloqueios rodoviários promovidos pela oposição a Morales nas últimas três
semanas, agora é ameaçada pelo cerco à capital departamental de movimentos sociais que
apóiam o governo e pretendem
exigir a devolução de instituições nacionais ainda sob controle de grupos aliados do governo regional.
Até o fechamento desta edição, os governadores oposicionistas de Santa Cruz, Beni, Tarija e Chuquisaca ainda debatiam a proposta de Morales na
cidade de Cochabamba (centro), onde os blocos em conflito
abriram negociações ontem.
As informações são do porta-voz da Presidência, Ivan Canelas, único a falar oficialmente
do encontro fechado, assistido
por facilitadores nacionais e internacionais, incluindo o embaixador brasileiro em La Paz,
Frederico de Araújo.
O texto da proposta, exibido
depois, não incluía a "salvação"
da Expocruz. Antes, Canelas
havia dito que, se fechassem
um acordo, o presidente Morales garantiria o fim do cerco a
Santa Cruz. "Se o presidente
está propondo isso, é porque
fez suas consultas", afirmou.
A principal novidade da proposição de Morales é reintroduzir a convocação dos referendos que faltam para ratificar a nova Constituição, aprovada no ano passado por constituintes governistas, como
condição para o diálogo.
Só um capítulo do texto da
Carta, o referente às autonomias departamentais, seria
"melhorado", diz a proposta.
Barganha
No pré-acordo negociado pelo vice-presidente Álvaro García Linera e pelo governador de
Tarija, Mario Cossío, o governo
havia cedido. Congelaria em ao
menos um mês, prorrogável, a
análise, pelo Congresso, da
convocação das consultas.
São dois os referendos: um
que perguntará se o tamanho
máximo de latifúndios deve ser
5.000 ou 10 mil hectares; outro
que ratificará ou não a Carta
como um todo. Fortalecido pelo referendo que o ratificou no
cargo com 67% dos votos, em
10 de agosto, Morales decidiu
abrir caminho às consultas sobre a Carta. Esse foi o estopim
para os protestos da oposição.
A mudança sinaliza que o governo sente-se fortalecido demais para ceder aos governadores a ponto de abrir mão da nova Carta, a principal bandeira
de Morales e uma exigência dos
movimentos sociais aliados.
Morales atendeu a uma demanda da oposição, em sua
proposta: a eleição direta de legisladores departamentais.
Propôs também, porém, que se
elejam subgovernadores -considerando a força do governo
na área rural, essa proposta não
deve agradar aos opositores.
Os demais pontos repetem o
documento de pré-acordo, que
propõe montar três mesas de
discussão: 1) distribuição da
renda do gás, 2) compatibilizar
autonomias departamentais e a
nova Constituição e 3) "pacto
institucional", para a nomeação dos juízes que faltam nos
tribunais superiores e no Conselho Nacional Eleitoral.
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