São Paulo, segunda-feira, 19 de setembro de 2011

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Por 'proteção', minorias na Síria defendem o regime

Cristãos, drusos e outros receiam futuro com perseguições ou guerras civis

Ao lado do Líbano, país é um dos poucos casos do Oriente Médio em que há convivência de vários grupos religiosos

MARCELO NINIO
ENVIADO ESPECIAL A DAMASCO


Natural de Homs, cidade que virou o centro dos protestos contra o regime sírio, o cristão Shaher Meida explica em bom português por que apoia incondicionalmente o ditador Bashar Assad.
"Com ele temos proteção", diz ele, que morou um ano em Belo Horizonte. "Sem Assad, o risco é a Síria virar um novo Iraque".
O temor de Meida é uma das explicações por trás do apoio que as minorias do país devotam ao regime, ainda que muitos critiquem o Estado policial e anseiem por mais liberdade.
Formado por cristãos, muçulmanos, alauítas, drusos, ismaelitas e uma microscópica comunidade judaica, a Síria é o único país do Oriente Médio em que diferentes grupos religiosos e sectários coexistem, afora o Líbano.
Mas essa aparente harmonia começou a sofrer rachaduras com os protestos iniciados em março, despertando fantasmas de uma guerra sectária. Esse risco é ressaltado pelo regime. A alternativa a Assad, adverte, é o caos.
Real ou exagerado, o perigo colocou as minorias em pânico, sobretudo a cristã, que constitui 10% da população de 23 milhões. O temor é que se repitam as perseguições ocorridas no Egito e no Iraque ou um cenário de guerra civil, como no Líbano.
O medo é tamanho que há relatos de famílias cristãs montando barricadas em Homs e se preparando para o pior. A TV síria repete declarações dos líderes de todas as denominações cristãs no país em defesa de Assad.
O mesmo discurso também é ouvido entre a liderança drusa, que representa a terceira principal minoria síria.

PRETEXTO
Nada irrita mais os oposicionistas, entre eles muitos que não fazem parte da maioria sunita, que a alegação de que o sentimento sectário move os protestos.
Eles desafiam o regime a apontar casos de violência contra minorias e garantem que o medo de uma guerra é apenas um pretexto para o regime manter a repressão.
Baseada em dados de dissidentes sírios no exterior, a ONU estima que 2.600 civis foram mortos desde março.
O escritor cristão Michael Kilo, uma das mais proeminentes vozes da oposição, tem reiterado que o fantasma do fundamentalismo é obra do regime, e garante que o movimento islâmico defende uma Constituição pluralista.
Kilo foi um dos participantes de um encontro de oposicionistas ontem, nos arredores de Damasco. Entre eles, 200 ativistas de diversas correntes e origens, de curdos e marxistas a grupos banidos pelo regime.
No comunicado final do encontro, a mensagem principal foi que os protestos devem se manter pacíficos e continuar até que obtenham "o fim da tirania" do regime.
Embora o discurso geral seja de união, entre a maioria sunita do país (74%), é perceptível o ressentimento com os 40 anos de hegemonia alauíta (ramo do islã xiita que compõe 12% da população síria) da família Assad.
"Para se aliar aos sunitas, os alauítas precisarão de garantias de que estarão seguros", escreveu na Al Jazeera o especialista em Oriente Médio sírio Majid Rafizadeh.



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