São Paulo, segunda-feira, 19 de setembro de 2011

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Marrocos tenta ganhar com revoltas

País, praticamente poupado pela onda de protestos, busca ser modelo de transição

CLAUDIA ANTUNES
ENVIADA ESPECIAL AO MARROCOS

As rebeliões nos países árabes favoreceram a posição do Marrocos no norte da África, ao provocar a queda de um inimigo da monarquia marroquina, Muammar Gaddafi, e o enfraquecimento de sua rival histórica, a Argélia.
Sem o peso da Turquia, que investe na liderança regional, o Marrocos busca aumentar sua influência, o que inclui o fortalecimento do Acordo de Agadir, que visa criar área de livre comércio com Jordânia, Egito, Tunísia e Mauritânia. O CNT (órgão dos rebeldes líbios) foi convidado.
"Queremos que estejam conosco, e não em visões de fragmentação", disse o ministro do Exterior marroquino, Taib Fassi Fihri, ao receber anteontem o ministro da Justiça do CNT, Mohammed Alagi, em conferência em que a reforma constitucional marroquina foi apresentada como referência para a "evolução" democrática árabe.
Antigo aliado dos EUA e bem relacionado com Israel (700 mil judeus israelenses têm origem marroquina), o Marrocos teve por décadas relação difícil com os vizinhos.
O país e a Argélia se enfrentaram por terras, em 1963. Na Guerra Fria, abraçaram diferentes ideologias, com a República argelina professando o socialismo.
Quando o Marrocos ocupou em 1975 o Saara Ocidental -antiga colônia espanhola-, a Argélia apoiou a guerrilha independentista Frente Polisário.
Gaddafi também financiou os polisários, uma das razões por que o Marrocos foi um dos primeiros a reconhecer os rebeldes líbios.
O Marrocos organizou a conferência para detalhar a estrangeiros a decisão do rei Mohammed 6º de reformar sua Carta, em resposta a manifestações pró-democracia que cresciam e eram reprimidas, provocando críticas de ONGs como a Anistia.
Escrita por uma comissão técnica e outra política, a nova Constituição foi aprovada em referendo em julho. Ela amplia direitos civis e o poder do Parlamento, mas mantém o veto real a decisões do premiê. O Movimento pela Mudança pedia a convocação de uma Constituinte.
A reforma ganhou elogio do representante da União Europeia para as transições árabes, Bernardino León, que disse que a "evolução" marroquina é "tão espetacular" quanto as revoluções.
O gradualismo também foi defendido pelo ministro de Comunicações da Jordânia, Nabil Sharif. "O rei Abudullah 2º disse que a Primavera Árabe deu capacidade de fazer a reforma que queria."
O ministro Fihri negou competição com os turcos: "Não esqueça do que aconteceu com a Turquia, em termos de ditadura militar."
A jornalista CLAUDIA ANTUNES viajou a convite da Chancelaria do Marrocos

Leia entrevista com chanceler marroquino
folha.com/no977169



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