São Paulo, sábado, 19 de outubro de 2002

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AMÉRICA LATINA

Relatório israelense indica possibilidade de atentado na tríplice fronteira e leva país a incrementar segurança

Suspeita de terror põe Argentina em alerta

JOÃO SANDRINI
DE BUENOS AIRES

O governo argentino colocou em alerta as forças de segurança do país na área da tríplice fronteira com Brasil e Paraguai por temer que grupos terroristas planejem um atentado na região.
A preocupação do governo surgiu a partir de relatórios elaborados pela agência de inteligência de Israel -o Mossad- em Buenos Aires. Os documentos, divulgados ontem pelo jornal "Clarín", alertam sobre movimentos da organização terrorista Al Qaeda, controlada por Osama bin Laden, e do grupo fundamentalista islâmico Hizbollah em Ciudad del Este (Paraguai).
Os relatórios não apontam o alvo do possível ataque, que poderia acontecer na Argentina -onde ocorreram dois grandes atentados terroristas durante a década de 90-, no Brasil ou em outros países da região.
A agência israelense afirma, no entanto, que os alvos mais prováveis seriam empresas multinacionais de origem alemã, francesa, israelense ou norte-americana instaladas na região, além de centros turísticos e aeroportos.
Para evitar o ingresso de possíveis membros de organizações terroristas na Argentina, o governo informou que reforçou o patrulhamento nas cidades fronteiriças do país e nos aeroportos, principalmente em Ezeiza -o maior de Buenos Aires.
Também foram enviados policiais para vigiar grandes empresas de petróleo e energia localizadas principalmente em Províncias da Patagônia (sul). Essas empresas, assim como as multinacionais, haviam sido informadas com antecedência sobre os riscos de atentados.
Segundo o governo, a segurança é feita pela Gendarmería (a polícia federal militarizada do país), e não pelas Forças Armadas.
O governo argentino acredita, segundo documento elaborado pela Chancelaria com base em informações fornecidas pela Gendarmería, que não existem atividades do Al Qaeda na região. No entanto haveria a presença "ativa" de membros do Hizbollah, principalmente para a arrecadação de fundos para a realização de atos terroristas.
O vice-chefe de gabinete de ministros da Argentina, Eduardo Amadeo, disse à Folha que o país decidiu reforçar os controles de segurança "por prudência".
Ele lembrou que a preocupação da Argentina com a tríplice fronteira não é recente, mas, antes, era motivada pelos constantes avisos do governo dos EUA sobre possíveis células terroristas que atuariam na região feitos desde os atentados de 11 de setembro.
No entanto foi o atentado em Bali, há sete dias, que fez soar o sinal de alerta na Argentina. A partir do atentado, que deixou cerca de 180 mortos, boa parte turistas estrangeiros, teria ficado claro que não estão sujeitos a atentados apenas os países desenvolvidos ou que se alinharam aos EUA na guerra contra o terrorismo.
Como o atentado em Bali foi atribuído pelos governos indonésio e norte-americano a membros da Al Qaeda, o governo argentino reavaliou as informações fornecidas pela inteligência israelense e decidiu reforçar a segurança.
"A situação não é crítica de maneira nenhuma, mas havia indícios que justificavam a adoção de medidas de segurança mais prudentes", disse Amadeo.
Ele também confirmou que o Ministério das Relações Exteriores da Argentina informou antecipadamente à diplomacia brasileira sobre as medidas de seguranças que seriam tomadas e para discutir ações conjuntas que possam ser implementadas.
O chanceler paraguaio, José Antoni Moreno Ruffinelli, também se mostrou "preocupado" e pediu mais informações aos argentinos.


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