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Esquerdista acusa firma do Brasil de fraude no Equador
Correa promete respeitar contratos da Petrobras no país, mas cita "direitos ancestrais"
Com 87,66% dos votos computados, ex-ministro da Economia tinha 23,16% das preferências, contra 26,3% do direitista Alvaro Noboa
FABIANO MAISONNAVE
ENVIADO ESPECIAL A QUITO
Segundo colocado nas eleições de domingo, o esquerdista
Rafael Correa, 43, vem acusando desde então o seu adversário, Alvaro Noboa, de promover
uma grande fraude para impedir sua vitória no primeiro turno. O esquema, diz ele, envolve
o consórcio brasileiro E-Vote,
responsável pela chamada apuração rápida, mas que não conseguiu entregar os resultados
no prazo estipulado.
Até o fechamento desta edição, com 87,66% dos votos
computados, Correa tinha
23,16% dos votos apurados oficialmente pelo TSE (Tribunal
Superior Eleitoral), contra
26,3% de Noboa, um empresário de direita conhecido como o
"rei da banana".
Questionado pela reportagem sobre o projeto da Petrobras para explorar petróleo
dentro do Parque Nacional Yasuní, o candidato da Alianza
Pais disse que a prioridade de
seu governo são "os direitos coletivos ancestrais", em alusão
aos indígenas da região amazônica. Por outro lado, disse que
os contratos serão respeitados.
Considerado um aliado do
presidente Hugo Chávez, Correa tem feito uma campanha
prometendo revisar contratos
das empresas petroleiras e convocar uma Assembléia Constituinte. Leia, a seguir, a entrevista concedida à Folha ontem.
FOLHA - O sr. continua dizendo que
ganhou no primeiro turno e que
houve fraude, mas que isso é passado e que irá ao segundo turno. Por
que participar de uma campanha
que, segundo o sr. mesmo, não tem
credibilidade?
RAFAEL CORREA- Qual é a alternativa? Se vamos para casa, triunfam os que administram o dinheiro, as máfias de sempre.
Temos de estar aí, temos de ser
muito mais eficazes no segundo turno para evitar que nos
roubem votos. Vamos começar
com a campanha.
FOLHA - A Organização dos Estados Americanos diz que não houve
irregularidade.
CORREA - A OEA foi de absoluta
negligência. Foi advertida sobre o problema. Nós nos reunimos por duas horas com [o chefe da missão, o argentino] Rafael Bielsa há dez dias. Nós lhe
dissemos todas as fraudes potenciais. O que ele disse depois?
Que não havia problemas no
processo eleitoral. E somente
depois nos entregou cópia desse relatório de 11 de outubro,
quatro dias antes das eleições
[Pega o documento e lê]: "Como é de conhecimento público,
os testes e simulações realizados até esta data não cumprem
os padrões mínimos exigidos".
Olha o que diz a OEA! E depois
de ter dito essa barbaridade de
que não houve fraude, qual credibilidade tem? Por isso, estamos pedindo a saída de Bielsa
do país e dizendo que esse tribunal [TSE] não representa nenhuma garantia.
Insisto: como
ele pode dizer que não houve
fraude se ele mesmo reconhece
que não houve os padrões mínimos exigidos?
FOLHA - O sr. acusa o consórcio brasileiro E-Vote de estar envolvido na
campanha de Noboa. Como isso teria ocorrido?
CORREA - O E-Vote não tinha
capacidade para enviar informações e subcontratou empresas aqui. Mas essas empresas
são dominadas pelo Partido Social-Cristão [direita], como o
American Call Center. São elas
que estavam preparadas para
manipular a informação.
FOLHA - A Petrobras tem um bloco
de exploração de petróleo ainda não
desenvolvido dentro do Parque Nacional Yasuní, e a sua campanha
afirma que haverá uma "moratória"
desse projeto por estar dentro de reserva ambiental. Como seria feito?
CORREA - É um princípio nosso
que, em áreas protegidas, onde
habitem nacionalidades que
têm outra percepção da terra,
nossa Constituição assegura os
direitos coletivos ancestrais, e
se dará prioridade a isso.
FOLHA - Inclusive sobre um contrato já assinado?
CORREA - Se o contrato já está
em vigência, se tratará de verificar se as exigências foram
cumpridas, investimentos etc.
FOLHA - Entre governos considerados mais moderados, como os de Lula e Michelle Bachelet (Chile), e os
mais radicas, como de Chávez e Evo
Morales (Bolívia), onde o sr. se vê?
CORREA - Na esquerda de Rafael Correa.
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