São Paulo, quinta-feira, 19 de outubro de 2006

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Esquerdista acusa firma do Brasil de fraude no Equador

Correa promete respeitar contratos da Petrobras no país, mas cita "direitos ancestrais"

Com 87,66% dos votos computados, ex-ministro da Economia tinha 23,16% das preferências, contra 26,3% do direitista Alvaro Noboa

FABIANO MAISONNAVE
ENVIADO ESPECIAL A QUITO

Segundo colocado nas eleições de domingo, o esquerdista Rafael Correa, 43, vem acusando desde então o seu adversário, Alvaro Noboa, de promover uma grande fraude para impedir sua vitória no primeiro turno. O esquema, diz ele, envolve o consórcio brasileiro E-Vote, responsável pela chamada apuração rápida, mas que não conseguiu entregar os resultados no prazo estipulado.
Até o fechamento desta edição, com 87,66% dos votos computados, Correa tinha 23,16% dos votos apurados oficialmente pelo TSE (Tribunal Superior Eleitoral), contra 26,3% de Noboa, um empresário de direita conhecido como o "rei da banana".
Questionado pela reportagem sobre o projeto da Petrobras para explorar petróleo dentro do Parque Nacional Yasuní, o candidato da Alianza Pais disse que a prioridade de seu governo são "os direitos coletivos ancestrais", em alusão aos indígenas da região amazônica. Por outro lado, disse que os contratos serão respeitados.
Considerado um aliado do presidente Hugo Chávez, Correa tem feito uma campanha prometendo revisar contratos das empresas petroleiras e convocar uma Assembléia Constituinte. Leia, a seguir, a entrevista concedida à Folha ontem.

 

FOLHA - O sr. continua dizendo que ganhou no primeiro turno e que houve fraude, mas que isso é passado e que irá ao segundo turno. Por que participar de uma campanha que, segundo o sr. mesmo, não tem credibilidade?
RAFAEL CORREA
- Qual é a alternativa? Se vamos para casa, triunfam os que administram o dinheiro, as máfias de sempre. Temos de estar aí, temos de ser muito mais eficazes no segundo turno para evitar que nos roubem votos. Vamos começar com a campanha.

FOLHA - A Organização dos Estados Americanos diz que não houve irregularidade.
CORREA
- A OEA foi de absoluta negligência. Foi advertida sobre o problema. Nós nos reunimos por duas horas com [o chefe da missão, o argentino] Rafael Bielsa há dez dias. Nós lhe dissemos todas as fraudes potenciais. O que ele disse depois?
Que não havia problemas no processo eleitoral. E somente depois nos entregou cópia desse relatório de 11 de outubro, quatro dias antes das eleições [Pega o documento e lê]: "Como é de conhecimento público, os testes e simulações realizados até esta data não cumprem os padrões mínimos exigidos".
Olha o que diz a OEA! E depois de ter dito essa barbaridade de que não houve fraude, qual credibilidade tem? Por isso, estamos pedindo a saída de Bielsa do país e dizendo que esse tribunal [TSE] não representa nenhuma garantia.
Insisto: como ele pode dizer que não houve fraude se ele mesmo reconhece que não houve os padrões mínimos exigidos?

FOLHA - O sr. acusa o consórcio brasileiro E-Vote de estar envolvido na campanha de Noboa. Como isso teria ocorrido?
CORREA
- O E-Vote não tinha capacidade para enviar informações e subcontratou empresas aqui. Mas essas empresas são dominadas pelo Partido Social-Cristão [direita], como o American Call Center. São elas que estavam preparadas para manipular a informação.

FOLHA - A Petrobras tem um bloco de exploração de petróleo ainda não desenvolvido dentro do Parque Nacional Yasuní, e a sua campanha afirma que haverá uma "moratória" desse projeto por estar dentro de reserva ambiental. Como seria feito?
CORREA
- É um princípio nosso que, em áreas protegidas, onde habitem nacionalidades que têm outra percepção da terra, nossa Constituição assegura os direitos coletivos ancestrais, e se dará prioridade a isso.

FOLHA - Inclusive sobre um contrato já assinado?
CORREA
- Se o contrato já está em vigência, se tratará de verificar se as exigências foram cumpridas, investimentos etc.

FOLHA - Entre governos considerados mais moderados, como os de Lula e Michelle Bachelet (Chile), e os mais radicas, como de Chávez e Evo Morales (Bolívia), onde o sr. se vê?
CORREA
- Na esquerda de Rafael Correa.


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