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Ataque a Benazir mata 126 no Paquistão
Luto substitui a festa pelo retorno da ex-premiê pró-ocidental, que liderará 2º partido do Paquistão nas eleições gerais
Autoridades paquistanesas dizem que líder escapou ilesa; atentado põe em xeque estabilidade de país vital para guerra ao terror
Aamir Qureshi/France Press
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Após explosões, automóvel da carreata de Benazir Bhutto pega fogo, em frente ao veículo que conduzia a ex-premiê do Paquistão
DA REDAÇÃO
Um duplo ataque contra a caravana da ex-premiê paquistanesa Benazir Bhutto matou ontem ao menos 126 pessoas em
Karachi, sul do Paquistão, e
deixou mais de 200 feridos, de
acordo com a Associated Press.
O atentado pôs fim aos festejos pela volta do exílio, ontem,
da líder política -que pouco
antes dispensara o cubículo à
prova de balas para seguir à
frente do comboio do PPP (Partido do Povo Paquistanês), espremida entre integrantes da
cúpula da legenda que vai liderar nas eleições legislativas,
previstas para janeiro.
Segundo autoridades paquistanesas, Benazir foi retirada do
local, como previsto em um
plano de contingência das Forças Armadas, e está bem.
"Os verdadeiros muçulmanos sabem que queimarão no
inferno se atacarem uma mulher", tinha dito a ex-premiê,
desdenhando dos três planos
de atentado contra ela que, segundo o governo, haviam sido
desmantelados até o início da
semana. Grupos ligados à Al
Qaeda e ao Taleban paquistanês seriam os responsáveis pelo planejamento das ações.
Ontem, um dos líderes do Taleban do país disse à Reuters,
por telefone, que promoveriam
ataques contra a ex-premiê
porque "ela tem um acordo
com os EUA". "Eu culpo o governo por estes atentados. Este
é um trabalho do serviço secreto", disse ontem o marido de
Benazir, Asif Ali Zardari.
Bem vista pela Casa Branca,
Benazir já declarou apoio a
uma ação militar dos EUA na
conturbada região da fronteira
afegã, base de radicais islâmicos. Para desgosto dos fundamentalistas, Benazir -ela própria muçulmana, como 97% dos paquistaneses- lidera um
partido laico. O recente flerte
com o ditador Pervez Musharraf, que já foi alvo de ataques
terroristas, também contribui
para as ameaças à ex-premiê.
As explosões seqüenciais
ocorreram a poucos metros do
carro que levava a líder do PPP.
Segundo autoridades, as explosões foram provocadas por um
terrorista suicida e um carro-bomba. Benazir havia sido advertida pelo governo a adiar o
retorno. Não se sabe até que
ponto questões de segurança
motivaram o pedido, inicialmente considerado uma questão política -a legalidade da
reeleição de Musharraf ainda
está sendo analisada e não há
acordo oficial com o PPP.
Recebida por cerca de 200
mil pessoas no aeroporto
-uma multidão, mas bem menos que o milhão estimado anteontem pelo PPP-, Benazir
seguia em carro aberto no momento da explosão. Cerca de 20
mil agentes faziam a segurança.
Aliança estratégica
Uma morte trágica da ex-premiê poderia complicar a vida de Musharraf, figura-chave
na guerra ao terrorismo empreendida pelos EUA e aliado
americanos na tensa região.
Washington patrocina a
aproximação entre o ditador e a
líder pró-ocidental para manter sob controle o país, que possui armas atômicas e é considerado vital para estabilizar o vizinho Afeganistão. O retorno
de Benazir foi celebrado como
um passo para "assegurar uma
democracia estável", pela porta-voz da Casa Branca, Dana
Perino. Horas depois, os EUA
seriam a primeira potência a
condenar os ataques.
Sob intensa pressão americana, Musharraf anistiou neste
mês a antiga rival, processada
por corrupção. Tratamento
bem diferente foi recebido por
Nawaz Sharif, premiê deposto
pelo golpe de 1999, cuja tentativa de retorno foi frustrada ainda no aeroporto, em setembro.
Porém, a volta da Benazir
torna ainda mais complexo o
instável cenário político paquistanês. Após meses de negociações com o regime, ainda
não se sabe se Benazir será, afinal, rival ou aliada de Musharraf nas eleições gerais. A longa
negociação com o ditador desgastou as credenciais democráticas de Benazir e, sob fogo cerrado da base governista, tampouco foi proveitosa para o general até agora.
Da festa ao luto
A chegada de Benazir foi
marcada pela comoção. Após
oito anos no exílio, ela desembarcou trajando as cores da
bandeira nacional, com um
exemplar do Corão e olhos rasos d'água.
"É muito bom estar em casa",
disse Benazir, que definiu o retorno como o mais importante
passo na batalha até as eleições.
Após orar, ela prometeu reconduzir o país à democracia e dar
prosseguimento ao combate do
radicalismo islâmico -promessa recebida com ceticismo
pela maioria dos paquistaneses, que há décadas convivem
com a instabilidade nas regiões
próximas à fronteira afegã.
Mas não por todos. Uma onda de otimismo começou a tomar conta de Karachi na quarta, quando simpatizantes de várias regiões do país começaram
a chegar para receber Benazir.
"Com ela no poder, não há
explosões de bombas porque
tem emprego e não há frustração", disse o criador de gado
Azad Bhatti, 35, Bhatti no início
do dia. Horas depois, silêncio.
Mesmo o governo, que desdenhara dos "apenas" 200 mil de
Benazir, preferiu calar.
Com agências internacionais
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