São Paulo, segunda-feira, 19 de outubro de 2009

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Guarda de elite no Irã é alvo de atentados

Ataques de ontem ocorreram perto da fronteira com o Paquistão, em Província de crescente violência étnica e religiosa

Ao menos seis dirigentes da Guarda Revolucionária iraniana mais de 20 outros morreram; órgão é próximo ao presidente Ahmadinejad

DA REDAÇÃO

Ataques terroristas no sudeste do Irã, perto da fronteira com o Paquistão, mataram ontem ao menos 35 pessoas, seis das quais soldados da força de elite Guarda Revolucionária Islâmica iraniana. Os atentados já estão sendo considerados os maiores no Irã em duas décadas, e mais de 20 outros membros da guarda ficaram feridos, segundo informações oficiais.
Entre os mortos está o vice-comandante das forças terrestres da Guarda Revolucionária, Nourali Shoushtari. A força de elite, guardiã da República Islâmica, controla há alguns anos a segurança da empobrecida Província de Sistão e Baluquistão, palco dos ataques, para tentar conter a crescente violência étnica e religiosa local.
Os confrontos têm sido atibuídos principalmente a radicais baluquis, um grupo sunita que busca a independência.
A TV estatal iraniana afirmou ontem que o Jundallah ("Soldados de Deus"), um grupo de extremistas baluquis baseado no Paquistão, assumiu a autoria dos ataques. Eles já haviam sido responsabilizados em maio por outro atentado, que deixou então 25 mortos.
Além de buscar mais autonomia para os baluquis, o Jundallah diz defender direitos das minorias sunitas no país, que é majoritariamente xiita. O grupo mantém laços com baluquis afegãos e paquistaneses.
Agências iranianas ofereceram informações contraditórias sobre os ataques e o número de vítimas.
Há relatos de que, em um primeiro episódio, um terrorista suicida detonou explosivos que carregava em um cinturão dentro de uma mesquita na cidade fronteiriça de Pishin. Comandantes da Guarda Revolucionária e líderes tribais locais estariam no templo para um encontro com o objetivo de facilitar o diálogo entre diferentes grupos religiosos locais.
Em outro relato, comandantes que se encaminhavam para a reunião foram atacados em uma rodovia.
Depois dos ataques, a Chancelaria iraniana convocou o encarregado de negócios do Paquistão em Teerã para cobrar explicações. O presidente iraniano, Mahmoud Ahmadinejad, afirmou ter informações de que "elementos de segurança" paquistaneses estariam envolvidos no massacre.
"Pedimos ao governo do Paquistão que não demore em apreender os principais elementos desse ataque terrorista", afirmou o presidente.
O governo iraniano afirmou também que o Jundallah tem sido encorajado, financiado e armado pelos EUA e pelo Reino Unido, que negaram qualquer envolvimento.

Pressão interna
A Guarda Revolucionária do Irã é um dos órgãos mais poderosos do governo islâmico e é particularmente próxima a Ahmadinejad (que é veterano da instituição).
Criada em 1979 para proteger a Revolução Islâmica, a Guarda Revolucionária é composta por mais de 120 mil homens (estimativa do Centro de Estudos Estratégicos de Washington). Apesar de ligado ao Ministério da Defesa desde 1989, o corpo obedece diretamente ao líder supremo do Irã -hoje o aiatolá Ali Khamenei- e existe como uma força separada do Exército.
Dada a importância do grupo e sua ligação com altas esferas do governo, a ação eleva especulações de que as minorias iranianas estão tentando explorar o ambiente de tensão social no país desde as disputadas eleições presidenciais de junho, que reconduziram Ahmadinejad ao poder em meio a denúncias de fraudes.
O presidente afirmou ontem que "os criminosos irão em breve obter a resposta a seus crimes desumanos".
Além de abrigar minorias étnicas e religiosas, a Província do Sistão e Baluquistão é uma rota de tráfico de drogas.


Com agências internacionais


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