São Paulo, quarta-feira, 19 de outubro de 2011

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Soltura de soldado comove israelenses

Gilad Shalit, capturado pelo Hamas em 2006, foi trocado por 1.027 palestinos, dos quais 477 libertados ontem

Operação teve respaldo da maioria do país, mas, para comentaristas, foi uma rendição a grupos que fazem terrorismo

Ronen Zvulun/Reuters
Ativistas israelenses que fizeram campanha pela libertação do soldado Gilad Shalit removem, em Jerusalém, placa com a contagem de dias desde sua captura pelos palestinos

MARCELO NINIO
DE JERUSALÉM

Israel parou ontem para receber o soldado Gilad Shalit, cinco anos depois de sua captura pelo grupo palestino Hamas, numa comoção nacional sem precedentes.
Libertado em troca de 1.027 prisioneiros palestinos, Shalit, 25, deixou de ser só o símbolo de uma campanha visto em todas as esquinas de Israel ao surgir em carne e osso, para alívio do país inteiro.
Após inúmeras tentativas fracassadas de negociar a libertação, muitos duvidavam até o último momento que o acordo seria finalizado. O ceticismo deu lugar à euforia quando imagens de Shalit foram exibidas na TV. Pálido, depois de 1.940 dias em cativeiro, e mais magro, ele foi entregue ao Egito pelo comandante militar do Hamas, Ahmed Jabari.
Antes de ser levado para Israel, Shalit deu a sua primeira entrevista em liberdade, a uma TV egípcia. Visivelmente incomodado com a entrevista forçada, o soldado respondeu com hesitação às perguntas e deu algumas pistas sobre as condições de isolamento do cativeiro.
"Senti falta da minha família, dos meus amigos, de encontrar e falar com pessoas e não sentar o dia inteiro sem fazer nada." Em seguida, ele foi levado a Israel, onde um médico do Exército constatou que ele está está em boas condições de saúde. Já vestido com farda do Exército, Shalit, que durante o período no cativeiro foi promovido a cabo, foi transferido de helicóptero para a base militar de Tel Nof, ao sul de Tel Aviv.
Lá ele foi recebido pelo premiê de Israel, Binyamin Netanyahu, que lhe deu um abraço de boas-vindas, retribuído timidamente. Apoiado pela grande maioria da opinião pública, o acordo que colocou Shalit em liberdade confere capital político imediato ao premiê israelense, mas também deixa no ar questões morais e de segurança que incomodam todos os israelenses. O comentarista Amnon Abramovitch resumiu na TV o sabor agridoce deixado pelo acordo que livrou da prisão centenas de terroristas condenados. "Nunca fomos tão felizes em nos render ao terrorismo", disse o jornalista.
Após se reencontrar com a família na base militar, Shalit foi levado para casa, em Mitzpe Hila, norte do país. Uma multidão em êxtase esperava o soldado, que se limitou a um rápido aceno antes de entrar em casa.
Noam Shalit, comandante da campanha pela libertação do filho que mobilizou o país, disse que o cabo está em boas condições de saúde, mas sofre as sequelas de ferimentos por estilhaços sofridos durante a sua captura, em 25 de junho de 2006.


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