|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
ARTIGO
Confiamos no julgamento da história
COLIN POWELL
ESPECIAL PARA O "LE MONDE"
Há dois anos os EUA foram ao
Afeganistão para derrotar os criminosos da Al Qaeda que tinham
destruído o World Trade Center.
Fomos para lá para afastar do poder o regime despótico do Taleban, que tinha dado guarida à Al
Qaeda e permitido que o país se
transformasse numa encruzilhada mortal do terrorismo mundial.
Esse regime horrendo não existe mais, e os integrantes da Al
Qaeda estão em fuga ou escondidos. À frente de um novo governo, o presidente afegão, Hamid
Karzai, se pôs a trabalhar. O governo está elaborando um novo
sistema político baseado nos fundamentos da democracia.
A sociedade afegã segue ancorada na religião, mas hoje ela está
começando a permitir a participação de todos na vida civil, inclusive, e sobretudo, as mulheres.
Os afegãos acabam de redigir
um projeto de Constituição. O
projeto será votado ainda neste
ano e vai conduzir à realização de
eleições no próximo ano.
A economia afegã começa a se
recuperar. Milhares de refugiados
voltaram para casa. A infra-estrutura do país está sendo reconstruída. A comunidade internacional está acelerando o envio de assistência financeira à população
afegã.
Mas nem todos os perigos foram afastados no Afeganistão. Alguns integrantes do Taleban gostariam de poder voltar ao passado. Eles não querem ver seu país
progredir. Alguns chefes regionais ainda opõem resistência ao
governo central. Vamos lidar com
eles, e eles terão de aprender que o
Afeganistão está avançando.
Ainda há muito por fazer, mas
muito já foi feito, desde que os
EUA começaram a ajudar o presidente Karzai e seu povo.
Dezenas de países são nossos
parceiros nesse trabalho vital. A
Otan se encarregou da segurança
da capital afegã, Cabul. Outros
países enviaram tropas para se somarem aos soldados americanos,
garantindo a segurança da zona
rural. A ONU exerceu um papel-chave.
O Afeganistão é um exemplo
perfeito do trabalho de equipe
que a comunidade internacional é
capaz de realizar.
Entretanto a presença dos soldados americanos constitui a coluna vertebral do esforço militar.
Milhares de jovens se destacam a
serviço de seu país. Eles servem
com um objetivo: levar a liberdade e a paz àqueles que não as conheciam havia décadas.
No Iraque, mais de 130 mil soldados americanos atuam com a
mesma dedicação. Outro regime
despótico caiu por terra. Saddam
Hussein, com seu bando de assassinos, tinha massacrado sua própria população. Tive ocasião de
ver valas comuns repletas de suas
vítimas e vi centenas de pessoas
que ele torturou e mutilou.
Saddam invadiu vizinhos e os
atacou com gás tóxico. Ele se associou a terroristas; ele próprio é
terrorista. Ele desperdiçou os recursos de seu país durante mais
de 35 anos para poder comprar
palácios e armamentos. Era uma
ameaça para a região. Era uma
ameaça para o mundo. A ONU o
advertiu durante 12 anos, em vão.
O presidente Bush não ignorou
a ameaça e agiu; ele o fez em cooperação com mais de 30 países.
Ainda restam setores fiéis ao antigo regime que precisam ser derrotados. Eles atacam nossas tropas regularmente, tropas que estão no Iraque para levar a paz a
uma população que quer essa paz
desesperadamente. Os iraquianos
querem ter a chance de reconstruir seu país, um país que será
alicerçado sobre a democracia,
um país que deseja viver em paz
com seus vizinhos.
Não há dúvida alguma quanto
ao que está em jogo no Iraque. A
derrota dos últimos seguidores do
regime de Saddam é certa. Também é certa a derrota dos terroristas estrangeiros que vão ao Iraque
para levar ao país seu ódio e seu
medo do progresso e os despejam
sobre os iraquianos e aqueles que
estão lá para ajudá-los. Nós os
acharemos, onde quer que se escondam, e destruiremos sua rede.
Estamos avançando. A Autoridade Provisória da Coalizão, sob a
direção de Paul Bremer, trabalha
em conjunto com o Conselho de
Governo Iraquiano para construir uma democracia. Os fundamentos para a elaboração de uma
nova Constituição já foram fixados. A segurança está progressivamente cada vez mais a cargo
dos iraquianos. Conselhos democráticos foram implantados nas
cidades. E estamos trabalhando o
mais rapidamente possível para
preparar os iraquianos para retomar a soberania sobre seu país.
Não há dúvida alguma: estamos
sendo postos à prova no Iraque.
Estamos sendo testados política e
militarmente. É um teste que devemos vencer, que iremos vencer.
Se existe uma coisa da qual tenho
certeza, é essa.
Afeganistão e Iraque são dois
teatros de operações na guerra
contra o terrorismo. Em nome
dos valores que nossa civilização
venera e em nome de nossa própria segurança, precisamos ter a
paciência e a determinação de
perseverar e estar dispostos a pagar o preço que for preciso, ao
mesmo tempo tendo a certeza de
que estamos fazendo o que é certo. A história julgará, e temos confiança em seu julgamento.
Colin Powell, 66, é secretário de Estado
dos EUA.
Tradução de Clara Allain
Texto Anterior: Comando militar testa estratégia de retirada Próximo Texto: Dia de luto Índice
|