São Paulo, sábado, 19 de novembro de 2005 |
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DISPUTA ACADÊMICA País, que investe em "repatriar" professores, gastou US$ 10,4 bilhões no ensino superior em 2004 China quer ser país de muitas Harvards
HOWARD W. FRENCH
Apesar disso, ouve-se entre políticos, administradores universitários, estudantes e professores expressões de confiança sobre o ingresso na elite mundial. Jovens visitam os campi mais importantes do país como se fossem em peregrinação, posando para fotos diante dos portões que sonham transpor como estudantes. "Quem sabe dentro de 20 anos o MIT venha estudar o exemplo da Qinghua", disse Rao Zihe, diretor do Instituto de Biofísica da Universidade Qinghua, instituição conhecida pelas ciências e vista por muitos como a melhor universidade chinesa. "Não é possível prever quanto tempo será preciso para alcançarmos o MIT, mas sob alguns aspectos já somos melhores do que as Harvards." Em apenas uma geração, a China aumentou a proporção de sua população em idade universitária que de fato estuda na universidade de 1,4%, em 1974, para 20% hoje. Apenas na área da engenharia, o país está formando 442 mil novos engenheiros por ano, ao lado de 48 mil engenheiros com mestrado e 8.000 com doutorado. Mas apenas a Universidade de Pequim e algumas outras instituições chinesas de primeira linha foram internacionalmente reconhecidas como superiores até agora. Desde 1998, quando o dirigente chinês Jiang Zemin deu início oficial ao esforço para transformar as universidades chinesas, as verbas dedicadas pelo Estado ao ensino superior mais do que dobraram, chegando a US$ 10,4 bilhões em 2004. O geneticista Xu Tian, que se formou em Yale e ainda leciona ali, chefia na Universidade Fudan um laboratório que realiza trabalhos inovadores sobre a transposição de genes. Em 12 de agosto sua pesquisa pioneira ganhou destaque no prestigioso periódico "Cell". Foi a primeira vez que isso aconteceu com o trabalho de um cientista chinês. A Universidade de Pequim aproveitou o importante matemático do MIT Tian Gang para construir um centro internacional de pesquisas em matemática avançada, entre outros centros de pesquisa de alto nível. Representantes da universidade estimam que até 40% de seu corpo docente tenha se formado no exterior, na maioria dos casos nos EUA. Entrevistado em Xangai, onde foi convidado de honra na comemoração do centenário da Universidade Fudan, no final de setembro, o reitor da Universidade Yale, Richard Levin, fez elogios aos estudantes chineses. "A China possui 20% da população mundial, mas podemos afirmar que tem mais de 20% dos melhores estudantes do mundo", disse. "O país possui o talento bruto." Mas Levin também observou que o baixo custo da mão-de-obra na China simplifica o esforço de aperfeiçoamento. Ele disse ter ficado espantado com os novos laboratórios da segunda mais prestigiosa universidade chinesa, a de Jiaotong. Segundo ele, esses laboratórios puderam ser construídos na China por US$ 50 por pé quadrado, um custo dez vezes inferior ao que seria em Yale. Alguns críticos afirmam que o país está tentando alcançar a excelência em áreas demais ao mesmo tempo e que, até agora, os planos das cerca de 30 universidades selecionadas para receberem investimentos pesados do Estado se diferenciam muito pouco, o que significa um desperdício de dinheiro em função da duplicação de esforços, além do sacrifício da excelência. Mesmo Richard Levin moderou seu entusiasmo, avisando que "as escolas mais importantes cresceram rapidamente demais e vêm diluindo a qualidade". Em muitos casos, as críticas mais contundentes vêm de pessoas experientes no sistema. "É importante que universidades diferentes possuam qualidades distintas, como numa sinfonia", disse o físico nuclear Yang Fujia, ex-reitor da Fudan. "Todas as universidades chinesas querem ser abrangentes. Todo mundo quer ser o piano -ter uma escola médica e muitos na pós-graduação." Yang, que hoje dirige uma pequena universidade experimental em Ningbo, fundada com a ajuda da Universidade de Nottingham, também criticou a falta de autonomia de pesquisadores chineses. "Em Princeton, um matemático passou nove anos sem publicar nenhum trabalho, e então resolveu um problema que estava sem solução havia 360 anos", disse, fazendo referência a Andrew J. Wiles, que no início dos anos 1990 solucionou o teorema de Fermat. "Ninguém o criticou por isso." Para muitos acadêmicos chineses, porém, o maior ponto fraco é a falta de liberdade acadêmica. O governo censura murais de notícias e grupos de discussão online. Recentemente, impediu que estudantes da Universidade Zhongshan, em Guangzhou, conversassem com autoridades eleitas de Hong Kong que visitavam a universidade. Para alguns, isso ajuda a explicar por que a China nunca ganhou um Nobel em qualquer categoria. Para alguns dos melhores acadêmicos da China, o que o país precisa agora é de pensadores originais e ousados. Tradução de Clara Allain Texto Anterior: Chile: Nada vaza de acareação de Pinochet com Contreras Próximo Texto: Iraque sob tutela: Estabilização afoita pode rachar Iraque Índice |
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