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ARTIGO
Mais tropas não resolvem crise
ZEB BRADFORD
DO "FINANCIAL TIMES"
Os efetivos atuais dos Estados Unidos no Iraque são de
140 mil homens, incluindo elementos da Guarda Nacional e
da reserva do Exército, bem como unidades do Corpo de Fuzileiros Navais. Para sustentar
uma força dessas dimensões, o
complemento militar básico
necessário é cerca de duas ou
três vezes maior. Para cada unidade envolvida em operações, é
preciso que haja força equivalente se preparando para substituir a unidade que encerrará
seu ciclo operacional e mais
uma que tenha retornado recentemente aos Estados Unidos, para se reequipar, treinar
novos soldados e permitir que o
pessoal passe algum tempo
com suas famílias.
Se uma ampliação de 50 mil
homens fosse implementada
para as forças norte-americanas estacionadas no Iraque, o
Exército, por si só, precisaria
ampliar seus efetivos em 100
mil soldados, uma vasta elevação de forças. Isso simplesmente não é viável em prazo que fizesse qualquer diferença. No
que tange às unidades da Guarda Nacional, existem limites
quanto à duração do serviço
ativo que pode ser imposto a
uma unidade da Guarda Nacional (24 meses). E esse limite já
começa a ser atingido por muitas das unidades em serviço.
Isso faz com que a pressão
sobre a estrutura logística do
Exército no Iraque aumente, já
que o pessoal e as unidades envolvidas nesse tipo de trabalho
também precisam passar por
rotação regular entre o teatro
de operações e os Estados Unidos. Além disso, as forças norte-americanas têm outras responsabilidades importantes,
como a defesa da Coréia do Sul
e do Afeganistão, e elas precisam ser sustentadas. É evidente que existem tropas adicionais disponíveis, mas utilizá-las para essa finalidade imporia
um custo inaceitável às Forças
Armadas norte-americanas como um todo, e prejudicaria a
posição militar dos Estados
Unidos no resto do mundo.
A decisão de invadir o Iraque
com uma força mínima concebida estritamente para uma
campanha ao modo "blitzkrieg" foi um grande equívoco,
que agora se tornou impossível
corrigir em termos militares.
Os arquitetos da estratégia norte-americana no Iraque não esperavam uma longa ocupação e
uma insurgência tão virulenta.
Os Estados Unidos não dispõem de capacidade existente
para ampliar de maneira dramática as forças que mantêm
no Iraque, e além disso não
existe vontade política para
sustentar uma tentativa nesse
sentido, se os resultados das recentes eleições de meio de
mandato presidencial servem
como orientação. Quaisquer
ações que venham a ser tomadas no futuro devem ter por objetivo compensar a incapacidade dos Estados Unidos para resolver a situação sem ajuda.
Precisamos reconhecer que o
Irã continuará a exercer influência significativa. O país teve seu prestígio reforçado com
a derrota imposta pelos Estados Unidos ao Taleban afegão e
ao regime de Saddam Hussein,
liderados por sunitas.
Em lugar de tentar um reforço rápido das tropas presentes,
nós deveríamos estabelecer negociações com as partes interessadas em um desfecho positivo no Iraque, para que estas
contribuam com apoio político
e militar a fim de permitir que o
país se estabilize e uma solução
negociada seja encontrada. O
processo incluiria Irã e Síria,
além da Arábia Saudita, Jordânia e outras nações.
Deveríamos dedicar alguns
meses a essas negociações, mas
sem estabelecer um prazo-limite. Caso a idéia fracasse, devemos estar preparados para
negociar com os iraquianos
uma retirada ou redisposição
das tropas norte-americanas, a
fim de limitar ao máximo as
conseqüências adversas que a
decisão possa causar. A primeira exigência, porém, é reconhecer nossas limitações.
ZEB BRADFORD, general-de-brigada reformado, é executivo do Citigroup e foi chefe de planejamento estratégico na Otan (Organização para
o Tratado do Atlântico Norte)
Tradução de PAULO MIGLIACCI
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