São Paulo, domingo, 19 de novembro de 2006

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ARTIGO

Mais tropas não resolvem crise

ZEB BRADFORD
DO "FINANCIAL TIMES"

Os efetivos atuais dos Estados Unidos no Iraque são de 140 mil homens, incluindo elementos da Guarda Nacional e da reserva do Exército, bem como unidades do Corpo de Fuzileiros Navais. Para sustentar uma força dessas dimensões, o complemento militar básico necessário é cerca de duas ou três vezes maior. Para cada unidade envolvida em operações, é preciso que haja força equivalente se preparando para substituir a unidade que encerrará seu ciclo operacional e mais uma que tenha retornado recentemente aos Estados Unidos, para se reequipar, treinar novos soldados e permitir que o pessoal passe algum tempo com suas famílias.
Se uma ampliação de 50 mil homens fosse implementada para as forças norte-americanas estacionadas no Iraque, o Exército, por si só, precisaria ampliar seus efetivos em 100 mil soldados, uma vasta elevação de forças. Isso simplesmente não é viável em prazo que fizesse qualquer diferença. No que tange às unidades da Guarda Nacional, existem limites quanto à duração do serviço ativo que pode ser imposto a uma unidade da Guarda Nacional (24 meses). E esse limite já começa a ser atingido por muitas das unidades em serviço.
Isso faz com que a pressão sobre a estrutura logística do Exército no Iraque aumente, já que o pessoal e as unidades envolvidas nesse tipo de trabalho também precisam passar por rotação regular entre o teatro de operações e os Estados Unidos. Além disso, as forças norte-americanas têm outras responsabilidades importantes, como a defesa da Coréia do Sul e do Afeganistão, e elas precisam ser sustentadas. É evidente que existem tropas adicionais disponíveis, mas utilizá-las para essa finalidade imporia um custo inaceitável às Forças Armadas norte-americanas como um todo, e prejudicaria a posição militar dos Estados Unidos no resto do mundo.
A decisão de invadir o Iraque com uma força mínima concebida estritamente para uma campanha ao modo "blitzkrieg" foi um grande equívoco, que agora se tornou impossível corrigir em termos militares. Os arquitetos da estratégia norte-americana no Iraque não esperavam uma longa ocupação e uma insurgência tão virulenta. Os Estados Unidos não dispõem de capacidade existente para ampliar de maneira dramática as forças que mantêm no Iraque, e além disso não existe vontade política para sustentar uma tentativa nesse sentido, se os resultados das recentes eleições de meio de mandato presidencial servem como orientação. Quaisquer ações que venham a ser tomadas no futuro devem ter por objetivo compensar a incapacidade dos Estados Unidos para resolver a situação sem ajuda. Precisamos reconhecer que o Irã continuará a exercer influência significativa. O país teve seu prestígio reforçado com a derrota imposta pelos Estados Unidos ao Taleban afegão e ao regime de Saddam Hussein, liderados por sunitas.
Em lugar de tentar um reforço rápido das tropas presentes, nós deveríamos estabelecer negociações com as partes interessadas em um desfecho positivo no Iraque, para que estas contribuam com apoio político e militar a fim de permitir que o país se estabilize e uma solução negociada seja encontrada. O processo incluiria Irã e Síria, além da Arábia Saudita, Jordânia e outras nações.
Deveríamos dedicar alguns meses a essas negociações, mas sem estabelecer um prazo-limite. Caso a idéia fracasse, devemos estar preparados para negociar com os iraquianos uma retirada ou redisposição das tropas norte-americanas, a fim de limitar ao máximo as conseqüências adversas que a decisão possa causar. A primeira exigência, porém, é reconhecer nossas limitações.


ZEB BRADFORD, general-de-brigada reformado, é executivo do Citigroup e foi chefe de planejamento estratégico na Otan (Organização para o Tratado do Atlântico Norte)


Tradução de PAULO MIGLIACCI


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